50,38%: é a eficácia da CoronaVac, diz governo
Atraso na divulgação de informações contribuiu para acentuar incertezas em torno do produto chinês

A eficácia da CoronaVac do Instituto Butantan é de 50,38%. Sim, é isso mesmo — e a informação, guardada em cofre desde dezembro, agora é oficial, segundo o governo do Estado de São Paulo. O número é um pouco acima de 50%, limite exigido para aprovação pela Organização Mundial da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O dado foi apresentado nesta terça-feira, 12, durante coletiva de imprensa oficial sem a presença do governador João Doria (PSDB).
Para relembrar o leitor dos últimos acontecimentos envolvendo o imunizante chinês, na quarta-feira 7 o governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciaram dados parciais sobre o estudo de fase 3 da CoronaVac: 78% de prevenção de casos leves (que necessitam de algum auxílio médico), mas não se divulgou a eficácia, que engloba também aqueles que não precisaram de assistência mas foram infectados.
A falta de transparência na publicação completa dos dados chamou a atenção de especialistas, que questionaram os números apresentados. Quando a Anvisa cobrou mais dados do Butantan para analisar o pedido de uso emergencial da vacina feito no último dia 8, foi acusada de fazer uso político da agência reguladora, já que a vacina chinesa é a grande aposta de Doria contra o presidente Jair Bolsonaro.
A notícia de hoje de que a eficácia geral da CoronaVac ficou em 50,38% repercutiu mal. Após três adiamentos para divulgação dos dados, a impressão que dá é que o governo do Estado já sabia da baixa eficácia da vacina e estava represando informações, ou, pior, tentando esconder dados. “Uma vacina que não funciona não é culpa nem de quem a desenvolveu nem de quem fez os testes. É uma realidade científica que não vai ser mudada por qualquer discurso político”, escreveu o biólogo Fernando Reinach em sua coluna para o jornal O Estado de S. Paulo.
Durante a coletiva, especialistas defenderam os resultados de eficácia da CoronaVac, mas o estrago já estava feito. Não adianta buscar explicações científicas quando foi instalada uma verdadeira crise de confiança — o atraso na ampla divulgação de informações e as falhas da equipe de comunicação do governo estadual contribuíram para acentuar incertezas em torno do produto chinês. Na ânsia de assumir a paternidade da primeira vacina a ser aplicada no Brasil, Doria atropelou o rigor científico que tanto propaga, para se afundar em controvérsias que confundiram especialistas e a população. Para piorar, ainda conseguiu abalar a credibilidade do Butantan, uma instituição com 119 anos de tradição em pesquisas científicas e biológicas. O problema não é em si a eficácia de 50,38%, fato que pode ser discutido entre especialistas, mas a volta toda que foi feita para divulgar esse resultado.

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