Dá para garantir, com certeza, que Thomas Friedman, escritor, jornalista, autor de editoriais lidos com atenção pelos grandes desse mundo e pensador-residente do “The New York Times” não é nenhum bocó – nem um psicopata, um extremista de direita ou um irresponsável político em busca de objetivos totalitários, como são descritos hoje no Brasil todos os que fazem a seguinte pergunta: “Vamos pensar um pouco sobre o coronavírus antes que o mundo seja destruído pelo combate que estão fazendo contra ele?”
Os leitores podem crer: Oeste assegura que Friedman não é o ditador maluco de gibi que, para salvar o seu governo, proíbe a existência do vírus. Só que ele propõe, também, que a humanidade tenha alguma chance de sobreviver à cura da epidemia que está aí. Razoável, não parece? Talvez valha a pena ouvir um pouco o que o homem está dizendo.
Friedman, num artigo que acaba de publicar no The New York Times, sugere algo que pode perfeitamente já ter passado pela sua cabeça: que tal entregar à ciência a orientação sobre o que fazer, e aos governos a função de apenas executar as recomendações de quem entente do assunto? O autor não sai batendo direto nos homens de governo, no estilo “atire primeiro e pergunte depois”.
Ao contrário, acha que temos de ser razoáveis em nossos julgamentos. É como se os políticos estivessem na direção de um carro, numa viagem perigosa. “Eles estão tendo de tomar decisões enormes de vida ou morte, com informação imperfeita, enquanto atravessam um nevoeiro, e com todo mundo gritando no banco de trás”, escreve Friedman. É preciso ter compreensão com os responsáveis.
Ao mesmo tempo, não dá para seguir, numa boa, nesse voo frequentemente cego em que estamos. “Especialistas começam a perguntar”, diz Friedman. “Esperem um minuto: o que estamos fazendo com nós mesmos? Com a nossa economia? Com a próxima geração? Será que essa cura não será pior que a doença?” O fato, em sua opinião, é que as prioridades precisam ser dramaticamente mudadas. O objetivo principal e máximo, agora, é permitir que “as pessoas voltem ao trabalho o mais cedo possível, e com segurança”. Não é aprofundar cada vez mais o isolamento e proibir um número cada vez maior de coisas.
É um consenso cada vez maior, entre os principais epidemiologistas do mundo, que o grau de letalidade do coronavírus é muito baixo – embora não se possa cravar cientificamente o número, a cifra mais aceita é de 1%, ou ainda menos. “Se essa for a taxa verdadeira”, diz Friedman, “pode ser totalmente irracional paralisar o mundo todo, com implicações financeiras e sociais potencialmente tremendas”.
Há, como já foi apontado, um equívoco desastroso na percepção predominante do vírus entre governos e responsáveis pelo extremismo nas medidas e isolamento. Todos confundem a rapidez na propagação do vírus, que é realmente assustadora, com a real extensão dos males que ele provoca, que tem sido medíocre. Assustadas com o primeiro aspecto, as autoridades se entregam ao pânico – e acham que se reduzirem a velocidade do contágio estarão indo ao centro do problema. Isso é falso.
Friedman lembra que as quarentenas podem ser necessárias – mas irão prejudicar a saúde de muitas outras formas, basicamente por dificultar ou mesmo impedir o atendimento a doentes em situação grave. Isso vai custar vidas. Os três objetivos centrais do momento são salvar tantas vidas quanto seja possível, impedir o colapso do atendimento médico e garantir que, para cumprir essas duas primeiras metas, a economia não seja destruída.
Como fazer isso? O mais racional seria substituir a ênfase desesperada no isolamento pela ênfase na proteção aos realmente ameaçados – os idosos e doentes. Quarentenas cada vez menores, cada vez mais gente de volta ao trabalho, restabelecimento do transporte público, reposição urgente dos empregos para os mais pobres, que são os que mais sofrem com a crise econômica – é por aí o caminho.
Se os políticos não estivessem imbuídos do desejo de tirar Bolsonaro e antes ouvissem ou lessem artigos desse quilate, talvez´, tivessem mais calma com essa quarentena fajuta horizontal que não atinge mais de 20 milhões de brasileiros que moram em favelas ou casas de 1 cômodo. Como a quarentena não existe só existe uma causa para que não tenha ocorrido um explosão do vírus que apareceu desde 26.02 no carnaval: não é tão ativo nos trópicos. A quebra da economia para salvar vidas que se perderão com o vírus ou outras doenças é uma ignorância instalada na mente dos políticos do mundo inteiro.