Foi um longo caminho que Bradley Cooper trilhou de galã romântico a um cineasta de respeito. Seu Maestro (Netflix) é um certificado dessa evolução. Justamente porque não trata de eventos históricos (como o recente Napoleon, de Ridley Scott) mas simplesmente dessa coisa simples e altamente complexa que é a vida de um ser humano.
Maestro é basicamente uma história de amor entre o compositor Leonard Bernstein (1918-1990) e a atriz de origem chilena Felicia Montealegre. Ao redor desse casal desenrola-se o rico panorama cultural da Nova York dos anos 1960. Bernstein impõe-se numa profissão em que só europeus costumavam imperar. Além disso compõe obras que variavam do erudito ao popular, como a célebre trilha de West Side Story.
Cooper faz o papel do próprio Bernstein, imerso em sua ansiedade, fumando compulsivamente em praticamente todas as suas cenas. O ator/diretor passou seis anos aprendendo a reger a segunda Sinfonia de Gustav Mahler para parecer o mais convincente possível em frente a uma orquestra.
Um detalhe da sua vida é omitido da biografia. Foi Leonard Bernstein que praticamente gerou o termo “radical chic” ao reunir em um jantar no seu apartamento de Manhattan um bando de militantes do grupo Panteras Negras com a elite esquerdista da cidade. Na verdade, esse fato não é tão importante quanto sua obra e a complexidade de sua vida. Sua bissexualidade é tratada com leveza e respeito. Sua fidelidade à cultura judaica e as agressões do antissemitismo também estão presentes.
Bradley Cooper, hoje um cineasta em plena maturidade, ainda nos oferece uma linda New York dos anos 1960, reconstituida em brilhantes tons preto e branco.