A imprensa norte-americana passou a chamar a vice-presidente Kamala Harris de “czar da fronteira” assim que o presidente Joe Biden a designou para “liderar esforços com o México e o Triângulo Norte (Guatemala, Honduras e El Salvador).
Sua missão seria “gerenciar o fluxo de crianças desacompanhadas e famílias que chegam à fronteira em números não vistos desde um aumento em 2019″, como definiu o repórter de política Stef W. Kight, do jornal digital Axios.
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Desde o fracasso de Biden no debate com o ex-presidente Donald Trump, o protagonismo de Kamala Harris na corrida eleitoral ganhou mais espaço. Imediatamente, republicanos passaram a responsabilizar a “czar da fronteira” pelo fluxo de imigrantes que entram no país através da divisa com o México, e pelos problemas subsequentes.
Curiosamente, a mesma imprensa passou, na última semana, a se corrigir sobre a alcunha dada à democrata, principal adversária de Trump na corrida eleitoral.
Jornal se justifica por chamar Kamala Harris de ‘czar da fronteira’
Na quarta-feira 24, o mesmo Stef W. Kight, do Axios, publicou: “Confusão na fronteira de Harris assombra sua nova campanha”. Ele escreveu: “No início de 2021, o presidente Biden convocou a vice-presidente Kamala Harris para ajudar com uma fatia da questão da migração.”
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Ao final do novo artigo, o Axios adicionou uma nota do editor para garantir que os leitores entendam que o jornal, em 2021, não pretendia, de forma alguma, fornecer aos republicanos, em 2024, alguma informação que pudesse ajudar Donald Trump.
“Este artigo foi atualizado e esclarecido para observar que o Axios estava entre os veículos de notícias que rotularam incorretamente Harris como ‘czar da fronteira’ em 2021”, disse a nota.
O texto atual, precisou de um “pedido de desculpa”, também cita o ex-secretário do Departamento de Segurança Interna Jeh Johnson: “Ela não é a czarina da fronteira.”
Todo esse malabarismo semântico chamou atenção do jornalista Peter Savodnik, editor sênior do The Free Press.
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Ele chegou a perguntar a Mike Allen, editor executivo do Axios, o que levou o veículo a mudar de postura. O executivo respondeu: “Tenho certeza de que haverá uma conversa contínua sobre isso.”
“Havia algo mais do que um pouquinho bolchevique em tudo isso”, ironizou Savodnik. “Esta informação, que já foi considerada um fato — uma semana atrás —, foi considerada politicamente inútil nas últimas 48 horas, e então vamos fazê-la… desaparecer”.
Ele enfatiza: “Axios — uma publicação confiável da qual sou um leitor dedicado — está admitindo um erro que nunca cometeu”, observou o jornalista. “Em outras palavras, está sacrificando sua credibilidade, arduamente conquistada, a serviço do provável candidato presidencial democrata”.
‘Amigos fantoches’ da mídia
Savodnik ressaltou que o Axios não foi o único a corrigir o registro quando se tratava de Kamala.
A Time “pesou em seu próprio despacho” (“Kamala Harris nunca foi a ‘czar da fronteira’ de Biden”), assim como o USA Today (“O trabalho de fronteira de Harris foi sobre as ‘causas-raízes’ da migração; ela não estava no comando”), a CBS (“Os fatos sobre o papel de Kamala Harris na imigração na administração Biden”), e o The New York Times (“Por que os republicanos continuam chamando Kamala Harris de ‘czar da fronteira’”).
“Deve-se notar que tudo isso é mais do que um pouco ridículo, já que ninguém no governo dos Estados Unidos é tecnicamente um czar de nada”, apontou o editor. “Como alguém pode ‘checar os fatos’ de algo que é apenas um título informal?”.
Ninguém na imprensa fala sobre os quase 250 mil imigrantes ilegais presos na fronteira em dezembro de 2023 — um recorde histórico. Ou sobre os milhões que entraram no país desde que Biden assumiu o cargo. Tampouco da violência.
“Podemos ter certeza disso: se a fronteira não fosse uma bagunça, se essa não fosse uma questão vencedora do Partido Republicano, Kamala Harris estaria concorrendo nela agora”, destacou Savodnik. “E os seus amigos fantoches da mídia — que parecem acreditar em nada, exceto em garantir que ela vença — estariam celebrando “O maior czar da fronteira que já existiu”.
Ainda bem que as palavras não modificam os fatos.