O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a troca de comando da Saúde e demitiu a ministra Nísia Trindade nesta terça-feira, 25. Para substituí-la, o petista anunciou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Tão inconteste quanto a prerrogativa presidencial de mudar ministros quando bem entender, é a confirmação do método a que o petista recorre no manejo de suas funções. Que não haja dúvida: Nísia é o bode expiatório da vez, escolhida por um presidente habituado a jogar suas falhas em ombros alheios. É o que afirma o jornal O Estado de S. Paulo em editorial desta quinta-feira, 27.
“Fizesse ou não o possível e o desejável, Nísia não conseguiria satisfazer o que dela se esperava – porque, afinal, nem o próprio Lula saberia dizer o que dela esperar”, diz o veículo.
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“A despeito dos muitos problemas e eventuais acertos no período, o pecado original não está, portanto, na Saúde, mas no Palácio do Planalto e atende por um nome: Lula da Silva, o presidente que não tem a mais pálida ideia do que cobrar de seus ministros que não sejam apelos fáceis de curtíssimo prazo e eficácia duvidosa para o país”, acrescenta.
Para o jornal, não há outra obsessão na mente de Lula hoje senão encontrar uma providencial “marca”, capaz de amenizar o desconforto nacional com o seu mandato e assegurar-lhe dividendos em 2026. Como não a encontra, a reforma ministerial foi incluída no rol de soluções para superar a inépcia da qual ele é o maior culpado.
“Na teoria lulocêntrica de poder – autorreferente e fiel apenas a si mesma –, o mundo ao redor será sempre menor do que o ego de Lula”, afirma o texto. “Razão pela qual o demiurgo petista não só submete seus auxiliares a situações vexatórias, como deixa correr os boatos sobre sua insatisfação com o desempenho dos ministros.”
Foi assim ao creditar os problemas do governo às falhas da comunicação, dirigida por Paulo Pimenta até sua substituição por Sidônio Palmeira depois de meses de fritura pública. A descortesia já havia sido exposta em 2023, quando Lula demitiu a ex-atleta Ana Moser do Ministério do Esporte, trocando-a pelo deputado André Fufuca (PP-MA), que trouxe consigo a promessa de votos do centrão.
Para o Estadão, o bode expiatório não está sozinho. Fernando Haddad tem sua autoridade de ministro da Fazenda frequentemente desautorizada pelo chefe e pela ala petista avessa a qualquer responsabilidade na gestão das contas públicas. Marina Silva só tem sua voz ouvida quando o presidente precisa exercer seu sonhado papel de líder global na defesa do planeta.
“As falhas da articulação política são direcionadas aos ministros da área, como se ao presidente não coubesse liderar e apontar com clareza o que deseja de prioritário no Congresso”, opina o veículo. “Um governo sem rumo e um presidente impopular levam a uma gestão que atira para todos os lados, de forma tão aleatória quanto ineficaz, em busca da gratidão popular perdida.”
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“Nísia Trindade é vítima desses tiros”, acrescenta. “Sua gestão foi decerto marcada por polêmicas e altos e baixos. […] Trabalhou para recompor o Programa Nacional de Imunizações e os patamares de vacinação, mas deixou sequelas com os estoques de vacinas da covid-19 com validade vencida. “
O Estadão destaca que Nísia recompôs programas desmontados, mas não soube lidar com o apetite parlamentar sobre as bilionárias verbas da pasta. Formulou e começou a implementar um programa prioritário de nome pouco marqueteiro e de resultados de longo prazo, mas foi atropelada por um presidente com pressa incontrolável.
“Mas se há muitas razões para a queda, inclusive sua inaptidão para a marquetagem, uma delas é claramente política”, destaca o jornal. “Ao deslocar Alexandre Padilha para a Saúde, Lula abre espaço para uma troca na área que trata de um vespeiro, isto é, a difícil relação do governo com o Congresso.”
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“Na conjugação entre acertos e desacertos, porém, a ministra não merecia a forma como foi demitida, exposta no noticiário por gente próxima ao presidente, que a carimbou como incompetente – como se fosse dela a culpa pela queda na popularidade do governo”, continua.
Para sorte de Lula, as vítimas de suas dispensas humilhantes retribuem a indelicadeza com elegância. “Ao falar sobre a demissão, Nísia escolheu indevidamente a imprensa, e não o presidente e seus sabujos palacianos, como culpada pela sua fritura pública – sinal de cuidado com o chefe, mas um evidente disparate de quem foi atirada aos leões pela covardia de quem a escolheu”, conclui o texto.