Diversos fatores dificultam que os especialistas afirmem qual a taxa de mortalidade real da doença que se espalhou pelo mundo e virou uma pandemia
Das 685,623 pessoas que testaram positivo para o coronavírus em todo o mundo, 32,137 morreram até o momento, isso significa uma taxa de mortalidade de 4,7%. Esse número, porém, está longe de representar a realidade
Para se ter uma noção, a gripe possui uma taxa de mortalidade de 0,1% e a pneumonia, 0,2% nos países desenvolvidos. Mas esses 4,7% não são números confiáveis, o que dificulta a resposta das autoridade e as dos cidadãos, que não sabem o quanto tem que se preocupar.
A proporção de mortes está variando de país para país. Pesquisadores alertam que existem tantas incertezas que nãoé possível ter uma conclusão absoluta sobre a taxa de mortalidade.
Para o diretor do Programa de Emergência da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, há quaro fatores que estão contribuindo para a diferença das taxas entre os países: quem foi infectado, que estágio a epidemia atingiu no país, quantos testes estão sendo feito e como funciona o sistema de saúde do país.
De acordo com o Financial Times, existem outras fontes de dúvida, inclusive quantas dessas pessoas já iriam morrer de outras causas se a pandemia não estivesse acontecendo. Em média, todo ano morrem cerca de 56 milhões de pessoas — cerca de 153 mil por dia.
Testes insuficientes
Sem dúvida, o grande problema da pandemia da covid-19 é que não sabemos ao certo quantos casos estão acontecendo no mundo. Sem essa informação, uma taxa de morte precisa não pode ser feita.
Muitas pessoas apresentam sintomas leves ou são assintomáticas e ficarão fora dos números por não serem testadas. Como isso varia de país para país, causa uma variação significativa.
Segundo a professora de Saúde Infantil da UCL, Rosalind Smyth, o número de casos testados no Reino Unido está tão defasado que nem deve ser considerado, o número de infectados deve ser “de 5 a 10 vezes maior”.
A idade das pessoas infectadas
Muito depende da idade daquele que ficou doente. Sabemos que quanto mais idosa a pessoa, maior a chance de ficar doente com gravidade e morrer. Mas a professora de Doença Infecciosas da Universidade de Birmingham, Robin May, diz: “Existem pessoas de 70 anos presas em cadeiras de rodas e aquelas que correm quilômetros toda semana.
A Itália, até o momento, é o país mais afetado da Europa, com 92,472 contaminados com 10,023 mortes, com uma taxa de 10, 8%. Mas devemos notar que a média das pessoas que testam positivo no pais é de 62 anos, assim como a maioria dos que falecem também está acima dos 60 anos.
Na Itália, o coronavírus está sendo considerado como causa da morte de pessoas que já estavam doente e que acabaram falecendo por uma combinação de doenças.
“Somente 12% das certidões de óbito mostram uma relação direta com o coronavírus”, afirmou um conselheiro científico do ministro da Saúde do país na última semana.
Risco de morte por diferentes motivos
No Reino Unido, cerca de 150 mil pessoas morrem todo ano entre janeiro e março. Até o momento, a grande maioria daqueles que faleceram pela covid-119 possuíam mais de 70 anos, ou já tinham sérios problemas de saúde preexistentes. Não é claro quantas mortes teriam acontecido se os pacientes não tivessem contraído o coronavírus.
Em uma audiência no Parlamento Britânico na última semana, o professor Neil Ferguson, diretor do Centro de Análise de Doenças Infecciosas Globais do Imperial College London, disse que não é claro quantos óbitos aconteceriam no país se não fosse pelo coronavírus. No entanto, ele disse que essa porcentagem estaria “entre a metade e dois terços”.
A preparação do sistema de saúde
Saber a hora certa de preparar o sistema de saúde para um ciclo de epidemia é fundamental. Quando o sistema fica sobrecarregado, como aconteceu na Itália e em partes da China, o cuidado que os doentes recebem diminuem e a taxa de mortalidade sobe.
Em um hospital na Lombardia, no norte da Itália, a falta de equipamento era tanto que os médicos estavam usando máscaras de mergulho para ligar os pacientes ao suprimento de oxigênio. Para o diretor da OMS, Mike Ryan, o fato desses médicos conseguirem salvar tantos pacientes “é um milagre por si só”.
Estar atento, dá aos países a chance de se prepararem e aprender com os erros dos outros.