Ruti Munder, de 78 anos, uma refém israelense libertada pelo Hamas, narrou ao jornal norte-americano The New York Times (NYT) e ao canal hebraico Channel 13 os momentos de terror que viveu durante os 50 dias em poder dos terroristas. Até 7 de outubro, a idosa guardava na lembrança dias felizes de uma viagem à praia em Gaza, aos 22 anos.
Ruti contou que inicialmente foi bem alimentada pelos terroristas no cativeiro, até que as condições pioraram, e os reféns passaram fome.
Segundo os relatos, em uma primeira fase, eles comiam “frango com arroz, e toda sorte de alimentos enlatados e queijo”. Os reféns também recebiam chá de manhã e à noite, e as crianças ganhavam doces.
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A idosa classificou o quarto onde foi mantida refém como “sufocante”. O cômodo ficava no 2° andar de um hospital. Durante os quase dois meses, ela dormiu em cadeiras de plástico com um lençol: “Mas nem todos tinham lençol”, disse, e acrescentou, “foi muito difícil”.
“Meninos que estavam lá ficavam acordados até tarde conversando, enquanto algumas meninas choravam”, lembrou. “Alguns meninos dormiam no chão.”
Durante todo o tempo, Ruti esteve com sua filha, Keren, e o neto, Ohad Munder-Zichri. O menino passou o aniversário de 9 anos em cativeiro.
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Ruti foi libertada em boa condição física, embora tenha passado por uma perda “significativa” de peso.
A família foi sequestrada em 7 de outubro. Eles foram arrancados pelos membros do Hamas de dentro do bunker (um abrigo antibombas) de sua casa no kibutz Nir´Oz, no sul de Israel. O marido de Ruti, Avraham, também de 78 anos, permanece como refém dos terroristas em Gaza. O filho dela foi morto no ataque.
O vídeo abaixo mostra o momento em que Ruti, a filha e o neto são libertados do cativeiro e reencontram os parentes em Israel.
Lembranças da primeira vez em Gaza, em 1967, aos 22 anos
Até os dias de terror como refém do Hamas, Ruti guardava na lembrança momentos felizes de uma viagem à praia de Khan Younis, em Gaza. A idosa não poderia imaginar que o mesmo cenário seria palco para os piores dias de sua vida décadas depois.
“Até a Guerra Árabe-Israelense em 1967, Gaza era um lugar sobre o qual não sabíamos muito a respeito dos gazenses”, disse Ruti. “Naquele verão, com a vitória de Israel sobre os Exércitos do Egito, Jordânia e Síria, Gaza ficou sob o controle israelense. Então, fui com um grupo de amigos em direção à bela praia de Khan Younis.”
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A mulher contou ao NYT que, além das lembranças dessa dia com os amigos na juventude, nos anos que se seguiram ela manteve interação com o povo de Gaza.
“Conheci empresários de Gaza que faziam comércio com meu cunhado na cidade de Be’er Sheva”, relembra. “Eles vinham como convidados para minha casa em Nir Oz. Eu os acompanhei durante viagens de fim de semana para Tel-Aviv. Por um tempo foi possível imaginar que estávamos destinados a viver juntos (em harmonia)”.
Ruti expressou o sonho de que um dia os dois povos possam novamente viver em paz.
“Talvez um dia os israelenses voltem a fazer uma viagem à praia em Gaza ou recebam comerciantes para um café em suas casas”, disse “Espero que nossos dois povos possam finalmente viver em paz, lado a lado. Mas sei que, se o Hamas continuar no poder, isso nunca acontecerá.”
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