A menos de seis semanas das eleições presidenciais na Venezuela, a imprensa estrangeira têm dúvidas se o ditador Nicolás Maduro permitirá a realização de um pleito em que possa ser derrotado. A líder da oposição ao regime bolivariano, María Corina Machado, acredita que é preciso se preocupar com o presente, e não com o futuro. “Vivemos um dia de cada vez”, afirmou, em entrevista ao jornal britânico Financial Times.
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Maduro, investigado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade e procurado pelos Estados Unidos por tráfico de drogas, tenta suavizar sua imagem nas redes sociais com clipes em que dança salsa, brinca com um papagaio e recebe “pijamas sexy” para sua mulher, Cilia Flores.
A ditadura, que domina emissoras de rádio e TV, tribunais, forças de segurança pública e a autoridade eleitoral, prendeu mais de 15 assessores de Corina. Outros, como seu chefe nacional de campanha, se refugiaram na embaixada argentina.
Com tom irônico, a líder da oposição afirmou que o governo lhe fez um favor ao proibi-la, há sete anos, de viajar em voos domésticos. Ela foi forçada a dirigir por estradas acidentadas de um país com mais do dobro do tamanho da Califórnia.
“Ninguém pode me dizer o que este país está sentindo”, disse ela. “Conheço cada curva, cada buraco, cada posto de controle da polícia. As pessoas me reconhecem e me cumprimentam. Já estive em todo lugar.”
Reações da oposição na Venezuela
Michael Penfold, pesquisador do Wilson Center na Venezuela, disse ao Financial Times que uma proporção muito grande da população quer uma mudança política.
“As pessoas têm lutado com uma situação que é desesperadora e que provocou a maior crise migratória do hemisfério ocidental”, disse Penfold. “O governo está avaliando o que vai acontecer nas eleições. As pesquisas são muito negativas, e o fosso entre o governo e a oposição continua a crescer.”
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Muitos agentes políticos têm interesses no resultado. O governo dos Estados Unidos tentou negociar para tentar convencer a ditadura a realizar eleições limpas, em troca de um relaxamento parcial das fortes sanções econômicas.
María Corina disse que muitos venezuelanos resistem com a esperança de que as coisas no país mudem. “As expectativas para 28 de julho são tão grandes e profundas que eliminaram todas as outras barreiras e diferenças”, afirmou.
Ameaças contra María Corina
As ameaças contra María Corina aumentaram. Nesta semana, um muro da cidade de Zaraza, no sul do Estado de Guárico, foi pichado com ameaças de morte contra ela. As pichações foram assinadas por El Tren del Llano, um cartel de drogas local.
“María Corina, não a queremos em nossa cidade, vamos matá-la”, ameaçaram os criminosos. “Cai fora daqui, traidora.”
A líder da oposição disse que não é a primeira vez que recebe esse tipo de ameaças. Ela disse que moradores de Guárico saíram à rua para cobrir as pichações com tinta. Ela garantiu que irá até a cidade de qualquer maneira.