A defesa da criação de um Estado Palestino ao lado de Israel se tornou uma bandeira daqueles que tentam encontrar uma solução para a região. Até mesmo os Estados Unidos (EUA), na gestão do presidente Joe Biden, têm trabalhado para costurar um acordo entre Israel e Arábia Saudita com base nesta ideia.
Para o Hamas, no entanto, tal possibilidade não é considerada, conforme ressaltou ao The Jerusalem Post o embaixador dos EUA em Israel, Jack Lew.
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“Acho que é uma derrota para o Hamas falar sobre uma solução de dois Estados”, afirmou Lew. Neste sentido, uma negociação, por parte de Israel e seus aliados, tem que estar desvinculada dos ataques de 7 de outubro que, por si só, não têm relação direta com a causa palestina, mas com a destruição de Israel.
Qualquer conversa, portanto, segundo ele, tem de ir além dos ataques em si e necessita de um pulso firme para avançar.
“É por isso que penso que, mesmo apesar da dor do 7 de outubro, há uma forma de ter esta conversa, mas é necessário liderança”, disse Lew, sobre a necessidade de separar o ato terrorista do anseio de autodeterminação da população palestina.
Tudo indica que um acordo entre Israel e a Arábia Saudita definiria a criação do Estado Palestino. Tal fato, neste sentido, despertaria o repúdio do Irã, que tem ligações com o Hamas.
A essência do Hamas, de total rejeição a Israel, se encaixa aos interesses iranianos. O grupo terrorista, que realizou os ataques de 7 de outubro, quando morreram mais de 1,2 mil pessoas em Israel e outras 252 foram sequestradas, nega a existência de Israel tanto em seu estatuto original, de 1988, quanto no modificado em 2017, considerado mais “moderado.”
“Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele”, prega o Hamas em seu documento inicial. “O estabelecimento ‘de Israel’ é totalmente ilegal e contraria os direitos inalienáveis do povo palestino”, reitera o grupo palestino em seu segundo documento.
Irã também prega o fim de Israel
Para o Irã, o interesse em um Estado Palestino desta maneira não é prioritário, já que, por este tipo de aliança, seria admitida a existência de Israel, conforme ressalta a Oeste o professor Christian Lohbauer, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (GACInt), do Instituto de Relações Internacionais da USP.
“Foram verdadeiros fracassos as tentativas de aniquilação de Israel, pelo Egito, pela Jordânia, pela Síria, de (Hafez) Assad, a Síria de [Bashar al-Assad], a Jordânia do rei Hussein, o Egito do presidente [Gamal Abdel al] Nasser, depois do Anwar el Sadat. Somente com o Sadat o governo do Egito desistiu de eliminar Israel [com um acordo de paz em 1979]”, diz Lohbauer.
“O Irã, sistematicamente, desde 1979 [a partir da Revolução Islâmica no país], acusa Israel e diz que vai eliminar Israel do mapa”, completa ele, ao demonstrar que essa bandeira passou a ter no Irã seu maior defensor.
O Irã se tornou o protagonista de um discurso de aniquilação do Estado de Israel, que, por sua origem judaica, é repudiado pelo regime que detém o poder da nação. Além disso, Israel é um empecilho no desejo iraniano de dominar a região.
Outro obstáculo é a Arábia Saudita, com seu islamismo predominantemente sunita, ao contrário do iraniano, xiita. Uma aliança entre Israel e sauditas, antes inimigos, seria um fato novo, visto como uma ameaça irreparável pelo regime iraniano.
O embaixador Lew afirmou que a defesa coordenada de Israel contra o ataque iraniano, feito com drones e mísseis, em abril, é uma espécie de demonstração desta nova movimentação. Israel teve a ajuda de aliados, entre eles de países árabes, para repelir quase na totalidade os projéteis.
“O fato de Israel ter aliados europeus como o Reino Unido e a França a voarem e a dispararem [o sistema de defesa] ao lado dos EUA, inclusive com a Jordânia e Arábia Saudita [ambas estão mais alinhadas] cobrindo o espaço aéreo, mostrou uma aliança visível e deu tempo de Israel obter um resultado ‘extraordinário’.”