“Pago a terapeuta do meu filho com pães e bolos, porque não tenho condições de dar o que ela cobra em dinheiro”, contou a presa do 8 de janeiro, de 33 anos. É dessa forma que uma paulista de Limeira (SP) garante o tratamento do filho menor, que desenvolveu problemas psicológicos durante os três meses em que a mãe ficou presa na Colmeia. “Ele emagreceu mais de 10 quilos”, relatou a comerciante, ao mencionar que hoje não é raro o menino acordar no meio da noite perturbado com pesadelos nos quais vê a mãe ser presa.
O tormento do jovem é também o da vendedora, que levanta na madrugada suando frio e tem dificuldades para voltar a dormir, sobretudo quando se lembra das vezes em que a tornozeleira eletrônica parou de funcionar sozinha. “Agentes da Polícia Federal me deram uma bronca”, diz. Por isso, antes de deitar, ela se certifica de que a bateria extra está carregada e a acopla ao equipamento. “Assim, a tornozeleira não desliga, e eu tenho um pouco mais de conforto”, afirmou.
Situação financeira da presa do 8 de janeiro
Sem casa própria, com menos recursos e muitas contas a pagar, não consegue ajudar o marido como gostaria. O homem, que trabalha como atendente em uma rede de fast-food, acaba arcando com a maior parte das dívidas do casal, que chegam a aproximadamente R$ 30 mil, incluindo aluguéis atrasados da época em que ela ficou presa. “Cortaram a nossa energia muitas vezes”, desabafou. “Tenho medo de bloquearem as minhas contas, onde depositam o dinheiro dos lanches, e também de levarem o meu carro, que, apesar de bem velho, é meu meio de transporte.”
Recentemente, a vendedora decidiu expor o seu trabalho na internet, para fins meramente profissionais, no intuito de aumentar as vendas, mas ela própria não consegue fazer postagens, porque fica com ansiedade sempre que lembra das restrições judiciais. As consequências das crises emocionais são visíveis em seu corpo: as unhas quebram com facilidade e o cabelo não só cai, como fica cada vez mais branco. “Apesar da minha fé em Deus e de seguir na minha religião, não vejo a hora de acordar desse pesadelo”, disse.
Leia o relato completo da mulher em “O purgatório dos inocentes”, reportagem publicada na Edição 236 da Revista Oeste
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