Até meados da década de 1960, a cidade de São Paulo era semelhante a Paris e Nova Iorque. Nessa época, os prédios erguidos na capital paulista ocupavam todo o terreno. Os edifícios abrigavam comércios no térreo e residências nos andares de cima, permitindo que os moradores fossem à farmácia, à padaria ou ao supermercado sem precisar usar carro. Vivia-se a pé.
Isso permitia que as ruas ficassem movimentadas durante quase todo o tempo, o que dava segurança aos cidadãos. Aí, o Estado entrou em cena.
A lei que sabotou São Paulo
Em 1972, a Câmara Municipal decretou a Lei nº 7.805, também conhecida como Lei de Uso e Ocupação do Solo. Com base nas ideias modernistas da construção de Brasília, a medida proibiu o “uso misto” — ou seja, os prédios com estabelecimentos comerciais no térreo e residências nos andares de cima deixaram de existir. Com isso, diversas regiões ficaram sem comércio, obrigando os moradores a usar carro para fazer compras.
A lei ainda instituiu o chamado “recuo obrigatório”, determinando que os prédios fossem construídos no meio do terreno, longe da calçada e das áreas ao lado. Como explica o jornalista e escritor Leandro Narloch, em vídeo publicado no canal Árvore do Futuro, foi assim que surgiu o “paliteiro” de São Paulo. O apelido ocorre em razão da semelhança visual entre os prédios modernos construídos na capital paulista e os palitos de dente.
Com o objetivo de lutar contra a “especulação imobiliária”, os vereadores estabeleceram um limite de construção de acordo com a área do terreno e a zona da cidade. O aproveitamento máximo passou a ser só de quatro vezes a área do terreno — antes, era de oito a 12 vezes. Sem poder crescer para cima, São Paulo espalhou-se pelos lados, ocupando mais florestas, nascentes e margens. Essa medida exigiu mais transporte por carros, linhas de metrô e linhas de esgoto. Em suma, houve um gasto substancial em infraestrutura.
Arranha-céus como o Edifício Itália, por exemplo, tornaram-se raros. Prédios como a Galeria do Rock também minguaram. As pequenas lojas, cafés e comércios deram lugar a muros altos e cercas elétricas.
Isso tudo ocorreu em virtude de uma imposição estatal.
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Tem lógica, mas a cidade deixou de ser claustrofóbica.
Verdade. Basta olhar certas regiões urbanas da China. É um tema delicado.