(Por J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 9 de janeiro de 2021)
O universo político e os seus subúrbios discutem com paixão, no momento, os futuros ministros do ex-presidente Lula, a volta da propaganda política obrigatória no rádio e televisão ou a guerra pessoal do presidente da República contra a vacina da covid. Discutem mais uma tonelada de questões parecidíssimas; são levados extremamente a sério por si mesmos e pelos comunicadores sociais. Não há o menor risco, é claro, de mudarem de ideia ou de mudarem de assunto. O resultado prático disso tudo é uma desgraça. Fica garantido, enquanto as coisas continuarem assim, que o Brasil não vai resolver nenhum dos problemas que tem.
O paciente está com câncer; estão recomendando Melhoral ou, pior ainda, um tratamento com o curandeiro João de Deus. É uma calamidade que não poderia estar mais clara: desde 1980 a renda per capita do brasileiro não sai do lugar em que está. O Brasil, nesse período, chegou a um PIB entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2 trilhões. Acaba de bater mais um recorde de exportações, com US$ 280 bilhões em 2021. Tem mais de 230 milhões de celulares, e outro tanto de computadores. Tem trinta e tantos anos de “Constituição Cidadã”, de “estado de direito” e de instituições protegidas à força de inquérito policial, cadeia e censura. Tem Poder Moderador. Tem Uber. Tem tudo, menos o essencial: uma melhora, qualquer melhora, no bem-estar da sua população. Está parado, aí, há 40 anos.
Ninguém liga, é claro, porque quem tem voz neste País é a minoria que anda de SUV, ganha acima de R$ 15 mil ou R$ 20 mil por mês e faz “home office”. Mas a renda da população está há 40 anos em estado de coma — e isso é o atestado mais arrasador de fracasso que uma sociedade poderia ter. Para que serve um governo, no fim das contas, se não for para tornar mais cômoda a vida das pessoas? O poder público no Brasil, definitivamente, não faz isso — governa, com obsessão, para ficar com a maior parte da riqueza nacional e para cuidar unicamente de seus próprios interesses. O resultado é que o país vai ficando cada vez mais longe das sociedades desenvolvidas — e mesmo das nações pobres que vêm vencendo a sua pobreza.
Estar parado há 40 anos é a prova mais espetacular de que tudo o que o poder público fez, durante esse tempo todo, deu errado. Não se mexe no essencial — a concentração de renda cada vez mais alucinante por parte do Estado. Tanto faz, daí, a “política econômica”. Já tivemos Figueiredo-Delfim, Sarney-Mailson, Collor-Zélia, FHC-Malan, Lula-Palocci, Dilma-Mantega, Temer-Meirelles e Bolsonaro-Guedes. Para a renda do brasileiro, deu tudo na mesma.
Leia também: “A farsa das instituições”, artigo de J.R. Guzzo publicado na edição 88 da Revista Oeste
Acertadissimo, Guzzo, o seu diagnóstico. O nosso IDH (que afinal de contas é o que realmente interessa) está estagnado há mais de 40 anos.
É a confirmação do fracasso enquanto povo, nação e projeto de País.
Cadê o “País do Futuro”?!…
Nasci na década de 60. Passados pouco mais de meio século vejo que o Brasil definitivamente não tem jeito.
Vergonha de ser brasileiro!
E o FUNDÃO ELEITORAL para uso dos INÚTEIS nas alturas.
Boa!!
E se o PT voltar ao poder então ai esquece, Venezuela ai vamos nós .
Ainda bem que acabou a Mortadela para a Imprensa, não é mesmo…??? 👁️😀😀😀