(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 3 de julho de 2024)
Se existe uma coisa clara no projeto de desordem econômica que está sendo tocado hoje neste país, é que o responsável direto pela alta do dólar é o próprio presidente Lula. É raro que um chefe de governo apareça como o principal agente de ataques contra a moeda do seu país, mas é o que está acontecendo. Lula sabe muito bem que se falar as coisas que ele fala todos os dias o dólar vai subir e o real vai se desvalorizar — não tem como. Mas é precisamente isso que continua a fazer. Repete sem parar que o presidente do Banco Central, o único que realmente trabalha hoje contra a inflação, é um delinquente. Diz que o problema não é cortar gasto, num governo que fechou o mês de maio com o estoque da dívida federal em quase R$ 7 trilhões, mas aumentar imposto. Afirma que o déficit público é uma bobagem — e que o governo tem de gastar mais, não menos.
O único resultado que se pode esperar disso tudo é uma desconfiança cada vez maior quanto à seriedade e ao senso de responsabilidade de quem deveria estar cuidando da boa saúde econômica do país. Lula, com os seus discursos irados e propostas de desastre, é uma ameaça permanente de inflação e de desordem. Há dois resultados práticos e imediatos desse palavrório. O primeiro é a alta do dólar — é para o dólar que todo mundo quer correr, quando a moeda nacional corre o risco cada vez maior de ir para o diabo. O segundo é a necessidade de manter os juros altos — se o Banco Central largar a mão do controle, como Lula exige que faça, a casa vem abaixo. É o que ele promete fazer, por sinal, assim que nomear o novo presidente do BC no fim do ano. Pode ser apenas mais uma mentira; depois que Roberto Campos Neto sair da presidência, não vai dar mais para continuar jogando em cima dele a culpa pelos fracassos do governo. Mas enquanto estiver lá o xingatório de Lula continua — e a economia sofre.
Nada mais típico do caráter do presidente, numa hora dessas, do que fazer cara de escandalizado e partir para a demagogia policial. Faz parte do seu manual de conduta: depois de pisar feio na jaca, diz que “não é possível” estar acontecendo o que ele próprio fez acontecer, exige que “o governo” tome providências imediatas e ameaça tocar sua polícia contra os culpados imaginários. No caso, convocou mais uma “reunião de ministros” que será descrita pelos serviços de propaganda mantidos na mídia pela Secom como “reação” aos “especuladores” — e que obviamente não vai resolver nada, levando-se em conta que o especulador número 1 é justamente quem preside a reunião.
Campos Neto, o alvo de Lula
O presidente da República, uma vez mais, mostra que o seu único plano de governo é administrar uma fraude maciça, crescente e proposital. O último disparo do arsenal de mentiras que está no centro de sua estratégia é acusar o presidente do Banco Central de manter os juros altos por motivos “políticos”. É uma acusação grave — e teria de estar fundamentada em provas materiais indiscutíveis. Mas não há fundamento nenhum para o que ele diz. Lula só repete que “tem certeza” da culpa de Campos Neto, e ter “certeza” não é argumento nem em jogo de bola de gude. A acusação é também absurda. Na campanha eleitoral de 2022, o BC, sob o mesmíssimo Campos Neto, manteve a taxa de juros acima dos níveis em que está agora. Quer dizer que ele teria agido, na ocasião, por “motivos políticos”? Para prejudicar Jair Bolsonaro, que estava na Presidência, e beneficiar a candidatura de Lula? É escroqueria política de primeiro grau — dessas em que o cidadão está sempre escalado para o papel de otário que acredita em qualquer coisa. É também a alma do “projeto de país” hoje em execução no governo federal.