Quem assistiu ao mais recente debate pela Prefeitura de São Paulo, realizado na noite deste sábado, 19, pela TV Record e pelo jornal O Estado de S. Paulo, viu o mesmo roteiro dos eventos anteriores: muitas acusações, poucas propostas. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) elegeram os apagões em São Paulo como o principal tema do debate. Mas não para resolver o problema dos mais de 3 milhões de paulistanos que sofreram com a falta de energia na semana passada, nem para propor soluções aos mais de 100 mil cidadãos que voltaram a ficar no escuro neste sábado.
Hoje, o psolista voltou a culpar o emedebista pelo apagão, porque a prefeitura e a Enel, distribuidora de energia da cidade, compartilham a responsabilidade por ações preventivas, como a poda de árvores. O prefeito, por sua vez, voltou a citar trechos do contrato de concessão da Enel que comprovam a responsabilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, na fiscalização dos serviços prestados pela concessionária.
As trocas de acusações entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos
As novidades apareceram somente no fim do primeiro bloco, quando Boulos acusou Nunes de ter sido preso pela Polícia Militar (PM) em Embu das Artes, em setembro de 1996, por ter dado tiros para cima em frente a uma boate da região. Ao responder à acusação, o emedebista disse que apenas estava tentando separar uma briga. “Sou um homem de ação”, disse o prefeito, ao justificar a atitude.
Em julho de 1997, a promotora Silvia Moreno de Oliveira denunciou Nunes por violar os artigos 19 e 28 da Lei das Contravenções Penais. Ele se tornou réu. No julgamento, em 20 de outubro daquele ano, a promotora propôs uma transação penal — acordo que permite ao acusado aceitar uma pena alternativa para encerrar o processo. Nunes aceitou a proposta e doou o equivalente a R$ 120 em canecas plásticas ao serviço social de Itapecerica da Serra. Em 19 de agosto de 1998, a juíza Bárbara Hinderberger Cardoso de Almeida arquivou o processo, depois de Nunes comprovar a compra das canecas.
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Em resposta ao adversário, Nunes também lançou uma acusação: segundo o prefeito, Boulos teria se envolvido em um acidente de trânsito em 2017, na Avenida 23 de Maio. Na ocasião, o psolista teria batido o carro contra uma moto. Este último veículo, como resultado da colisão provocada por Boulos, acabou batendo em outro automóvel, que estava parado. À época, a revista Veja informou que o pai do agora candidato, Marcos Boulos, teria pagado R$ 3 mil para cobrir os custos dos danos provocados pelo filho.
O calcanhar de aquiles da esquerda
Na sequência do debate, o prefeito apostou em pautas caras aos paulistanos — e menos importantes para a esquerda brasileira moderna, representada por Boulos nas eleições de São Paulo: a segurança pública e a legalização do aborto e das drogas.
Ainda na época em que era coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos defendia leis mais brandas para bandidos que praticassem crimes considerados menos graves, como furto e roubo. Ele defende até hoje a saída temporária de presos, popular saidinha. Já o prefeito diz ser contra.
Ao comentar a legalização do aborto, Boulos disse que cumprirá as leis da cidade. Atualmente, hospitais paulistanos têm a obrigação — por ordem do Supremo Tribunal Federal — de realizar o aborto até a 22ª semana de gestação para vítimas de estupro. Nunes rejeita essa ideia.
Em relação às drogas, Boulos alegou ser contra a prisão de usuários viciados. “É caso de saúde pública”, argumentou o psolista, ao acrescentar que defende a prisão de traficantes.
Em junho deste ano, o Supremo definiu um limite de 40 gramas de maconha — ou seis plantas fêmeas — como critério objetivo para diferenciar o usuário de droga do traficante. Para se ter ideia, 40 gramas de maconha produzem de 40 a 130 cigarros da droga. Esse limite será levado em consideração até que o Congresso Nacional aprove uma regulação sobre o assunto. Com a decisão, não é crime comprar, guardar, transportar ou portar maconha para uso próprio. É a ideia de Boulos.
O próximo debate
No fim, Ricardo Nunes ressaltou a saúde financeira da prefeitura e argumentou que a melhora no caixa lhe permitirá investir em obras e em projetos sociais. Já Guilherme Boulos pediu o apoio dos eleitores que votaram em outros candidatos no primeiro turno, até mesmo em Pablo Marçal (PRTB), com quem trocou farpas na campanha.
O próximo debate ocorrerá na segunda-feira 21, às 10h. O evento será realizado pelo portal UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo.