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Edição 49

A EBC e sua milionária ‘TV traço’

Sem audiência e com grade de produção televisiva e radiofônica inexpressiva, estatal de comunicação custa mais de R$ 0,5 bilhão por ano

Silvio Navarro
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Um telespectador curioso que zapeava os canais da televisão aberta do país na tarde de 6 de fevereiro, um sábado ensolarado no interior de São Paulo, deparou-se com uma cena inédita ao tropeçar na TV Brasil, estatal que integra a Empresa Brasil de Comunicação (EBC): a transmissão da decisão da Série D do Campeonato Brasileiro, entre o Mirassol, time da região de São José de Rio Preto, no interior do Estado, e o Floresta, do Ceará.

É isso mesmo. A cobertura das 42 partidas da quarta divisão da liga de futebol foi um dos destaques da programação ao longo dos últimos meses, com a devida paralisação das atividades no começo da pandemia, junto de uma centena de desenhos infantis e filmes de Amácio Mazzaropi, outra estrela da grade — alguns dos últimos clássicos exibidos recentemente foram Chico Fumaça e O Noivo da Girafa —, e do Vigilante Rodoviário e seu pastor-alemão Lobo — série da década de 1960 filmada na rodovia Anhanguera.

A TV Brasil foi criada em dezembro de 2007, quando acabou batizada de TV Lula. Na época, a EBC ficou com o sinal da antiga TVE e a estrutura da Radiobrás — ou seja, com os bens públicos da União. Sob o guarda-chuva da EBC, também estão a Agência Brasil de notícias on-line e as rádios Nacional (AM e FM) em Brasília, Rio de Janeiro, Amazônia e Alto Solimões.

Trata-se de uma operação que custa R$ 560 milhões por ano aos cofres da União, orçamento que já foi de R$ 1,1 bilhão nos anos Lula e Dilma Rousseff — quando exibia com pompa produções feitas em Luanda (Angola), por exemplo. Atualmente, a empresa possui um quadro com 1.877 funcionários, com salário médio de R$ 11.012 — o maior valor é de R$ 48.582.

 

Longe do fim

Com alto custo para o erário, escritórios e antenas espalhados pelos principais Estados e uma estrutura superior à de emissoras e jornais privados, a EBC tem números pífios de audiência. Na TV, a média (com esforço) é de 0,2 ponto no painel do Kantar Ibope Media, que calcula os índices em 15 áreas do território — são consideradas para aferição as macrorregiões, como Grande Rio de Janeiro, Grande Belo Horizonte e o cinturão metropolitano de São Paulo. Cada ponto cheio no Ibope corresponde a 260 mil casas, o equivalente a até 700 mil pessoas assistindo simultaneamente ao mesmo canal de TV.

No rádio, a jurássica Voz do Brasil, que obriga as emissoras privadas a reproduzir diariamente notícias dos Três Poderes, é motivo para desligar o aparelho imediatamente ou trocar de estação, conforme a avaliação de dez de dez carros ou residências. Mas ela também está nesse preço.

Como a estrutura estatal foi amplamente usada pelos governos petistas como máquina publicitária, o presidente Jair Bolsonaro prometeu extingui-la durante sua vitoriosa campanha eleitoral em 2018, mas aparentemente desistiu da ideia. A empresa nem sequer foi incluída até agora no chamado PND (Plano Nacional de Desestatização) e os estudos sobre sua viabilidade econômica nos moldes atuais são embrionários.

Há ainda reflexos para o patrimônio da União — hoje, a EBC detém cerca de R$ 400 milhões (vide gráfico acima). O histórico edifício A Noite, por exemplo, abandonado há oito anos na Praça Mauá, no centro do Rio, que abrigava a Rádio Nacional, também não chegou a ser leiloado conforme previsto no ano passado — a estimativa de arrecadação inicial era de R$ 90 milhões.

Edifício “A Noite”

A mudança de rota sobre o futuro da estatal, aliás, começou logo nos primeiros meses de governo, quando o então ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, substituiu a palavra extinção por reestruturação. Desde então, prevalece no núcleo de comunicação do governo a tese de que a empresa deva passar por uma desidratação gradual de funcionários, inclusive por meio de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), mas não mais extinta ou privatizada — há ainda implicações trabalhistas com concursados. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, é um entusiasta da tese de enxugá-la porque, afirma, ninguém compraria uma empresa deficitária de R$ 500 milhões por ano.

Uma rápida pesquisa no site da EBC informa que sua “missão” é “criar e difundir conteúdos que contribuam para o desenvolvimento da consciência crítica das pessoas”, e como “visão, ser uma empresa de comunicação relevante para a sociedade”. Mas esse “conteúdo relevante” é bastante questionável, sobretudo se lembrarmos que quem arca com cada tostão dessa conta são os brasileiros pagadores de impostos.

18 comentários
  1. Daniel Brito Guimarães
    Daniel Brito Guimarães

    Um ótimo exemplo do controle estatal: o prejuízo pago pelo erário. Nossa história de gastos estatais é assombrosa. Temos de parar com esses investimentos, de parar de nos sujeitarmos ao estado. Certamente que a mesma emissora de TV gerida sob capital privado iria, além de dar continuidade à programação, gerar lucro e ser auto sustentável.

  2. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Engraçado. Os petralhas criaram um monte de elefantes brancos e inflaram outros já existentes e o presidente Bolsonaro é culpado por tudo. Tenha paciência.

  3. Fabio R
    Fabio R

    Excelente análise de uma vergonha montada pela PTralhada…

  4. RILSON DE SOUZA MOTA
    RILSON DE SOUZA MOTA

    Mais um elefante branco usado como cabidão de empregos para políticos e apadrinhados, como as mais de 500 estatais que o Brasil possui. deve privatizar tudo, quanta economia vai gerar, principalmente vai frear um pouco da corrupção e moedas de troca.

  5. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Essa porcaria tem que ser extinta. Funcionários concursados ficam em casa até se aposentarem, cortam as vantagens e não contrata mais ninguém. Vendem o prédio e os equipamentos para pagar os vultuosos salários dos inúteis funcionários públicos concursados.

  6. Edson Monteiro da costa
    Edson Monteiro da costa

    Meio bilhão de reais dos nossos suados impostos pra nada.
    E pensar que:
    Brasil paralelo e terça livre (só pra citar alguns casos) com uma milésima parte deste dinheiro, fazem 500 vezes mais pelo povo.
    Imagina se tivessem acesso a uma TV aberta e duas rádios com alcance nacional ??

    1. Marcos Heluey Molinari
      Marcos Heluey Molinari

      E uma boa ideia! Arrenda pro Allan dos Santos e pro Weintraub. Chama também a turma dos Pingos nos Is e da Gazeta do Povo. A extrema imprensa ia adorar !!

  7. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    Inegável constatarmos que houveram reduções na folha de pagamento .
    Hoje o maior salário é de R$ 48.000,00-
    Enquanto na administração da Sra Dilma ( o poste ) o marido da Sra Marieta Severo ganhava ao redor de R$ 80.000,00.
    Aí começamos a entender porque os artistas foram e são ferrenhos defensores da dupla O apedeuta versus O poste .
    Voltando ao elefante branco ,gostaria que o atual presidente da república ,o qual teve meu voto ,nos explicasse o que o levou a desistir do fechamento deste monumental cabide de empregos?
    Diga lá Sr Bolsonaro ,nos explique objetivamente !

    1. José Luiz B Bevilacqua
      José Luiz B Bevilacqua

      “Que absurdo! 48 mil por mês?! Ganho mais que isto por semana!”, pensamentos de Roberto da Cunha Castello Branco (ex-presidente da Petrobras)

    2. Diva Leonor Monteiro
      Diva Leonor Monteiro

      Toda vez que um cabide de emprego é desmontado, a gritaria é geral. Essa fábrica de estatais inúteis tem que acabar! O dinheiro nosso de impostos têm que priorizar as necessidades do cidadão.

  8. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    Percebe se que houve uma melhora na administração,pois hoje o maior salário é de R$ 48.000,00-
    Enquanto que na administração da Sra Dilma (o poste) somente o marido atual da ex mulher do cantor Chico Buarque ganhava ao redor de R$ 80.000,00.
    Isso mesmo ,marido da Sra Marieta Severo ganhava esse valor !Ai entendemos claramente porque grande parte dos artistas são defensores ferrenhos da trupe apedeuta versus poste !
    Mas voltando a empresa deficitária o que a atual gestão do presidente que teve meu voto ,estão esperando pra fechar as portas desse mostrengo ,deste elefante branco chamado EBC!
    Diga lá Bolsonaro ,explique pra nós ?
    Seja curto e grosso e nos atualize como se faz pra fechar essa conta ?

    Bora presidente !

  9. Lourenco Augusto De Meireles Reis
    Lourenco Augusto De Meireles Reis

    Vergonha nacional. Tem que fechar

    1. Adão Borges
      Adão Borges

      Liguem no YouTube da Brasil Paralelo. Melhor. Bolsonaro venda essa EBC ae.

      1. Adão Borges
        Adão Borges

        Ou doa.

  10. Daniel Magno Baptista
    Daniel Magno Baptista

    Se não pode demitir os funcionários, como fechar? Mandar todo mundo pra casa e vender os ativos? Não faz sentido. Tem que mudar a lei permitindo que uma estatal seja descontinuada e os empregados desligados com todos os direitos trabalhistas pagos. O Brasil é um país complexo, cartorial e as elites usufruem da proteção do Estado.
    Se Bolsonaro fechar e mandar o pessoal embora a Justiça Trabalhista reintegra no dia seguinte. Aqui, leis antigas, valem muito mais do que modernização do Estado. Precisamos de leis novas, modernas, que permitam ao Estado exercer suas funções constitucionais de atender aos cidadãos com serviços públicos essenciais.

  11. Luís Fernando Ramos Dias
    Luís Fernando Ramos Dias

    A reportagem diz que a operação custa R$ 560 milhões por ano aos cofres da União, mas os dados contábeis mostram que esse é o valor do ativo e que a subvenção do Tesouro é de R$ 358 milhões.

  12. Luís Fernando Ramos Dias
    Luís Fernando Ramos Dias

    Já assisti a bons programas na TV Brasil. A série “Parques do Brasil” é muito boa. Os programas dedicados à educação escolar também me pareceram bons. Não entendi a afirmação da reportagem de que a operação da EBC custa R$ 560 milhões aos cofres públicos por ano. Segundo os dados contábeis, a subvenção do Tesouro é de R$ 358 milhões.

  13. José Miguel Sanchez Galves
    José Miguel Sanchez Galves

    Eu gosto de assistir esse canal na antena digital aberta, mas pode vender que só dá prejuizo!

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