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Edição 63

Patriota: um raio-X do provável partido de Bolsonaro

Quem comanda e quais são as diretrizes da sigla redesenhada para abrigar a campanha de reeleição do presidente

Silvio Navarro
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Bastam duas palavras — “patriota partido” — digitadas nos buscadores da internet para descobrir qual sigla vem sendo forjada para o presidente Jair Bolsonaro tentar a reeleição no ano que vem. O resultado da pesquisa indica o site oficial do Patriota (número 51 na urna), seguido dos dizeres: “Brasil acima de todos”. Trata-se de uma adaptação do bordão adotado desde a corrida eleitoral de 2018 pelo então candidato Bolsonaro — sua origem remete ao lema da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército nos anos 1960: “Brasil acima de tudo”.

O convite para a filiação do presidente da República foi oficializado nesta semana, durante um encontro em Brasília, pelo dirigente do partido, Adilson Barroso, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (RJ), que passou a integrar a agremiação. “Está quase certo, estamos negociando. É como um casamento: tem de ser programado, planejado, senão dá problema”, afirmou Bolsonaro ao ser questionado na última terça-feira sobre o que ele há meses chama de “namoro” com a sigla.

O Patriota foi criado em 2011 com o nome de Partido Ecológico Nacional (PEN). A escolha do nome foi uma tentativa, à época, de atrair a ex-senadora Marina Silva para concorrer à Presidência, mas o plano naufragou porque a criação da Rede Sustentabilidade, que hoje ela lidera, saiu do papel. Em 2017, a sigla repaginou-se, mudou a alcunha para Patriota e deu uma guinada no estatuto para a centro-direita a fim de atrair o próprio Bolsonaro. Quase deu certo, mas ele optou pelo guarda-chuva do PSL. A solução do “PATRI” (como a legenda aparece nos placares de votos) foi lançar o folclórico Cabo Daciolo, que terminou o primeiro turno com mais de 1,3 milhão de votos, à frente de nomes como Marina Silva e o ex-ministro Henrique Meirelles.

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No ano seguinte, a jogada da sigla foi incorporar o também nanico Partido Republicano Progressista (PRP). O objetivo era unir os seis deputados do Patriota aos quatro eleitos pelo PRP, um velho truque muito utilizado para conseguir ultrapassar a chamada cláusula de barreira, que dá direito a uma fatia do fundo partidário. A Justiça Eleitoral autorizou a fusão, formou-se uma bancada com nove federais — ficaram seis —, e, em 2020, o Patriota teve acesso a R$ 21 milhões dos cofres públicos.

Com dinheiro em caixa e estatuto novo, a missão passou a ser ganhar alguma musculatura nas eleições municipais. Foram eleitos 50 prefeitos e mais de 700 vereadores. No maior colégio do país, o deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei e ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), foi a principal surpresa, com 522 mil votos para a prefeitura paulistana, superando o petista Jilmar Tatto. Nas câmaras municipais, também despontaram alguns nomes, como o mineiro Gabriel Azevedo, em Belo Horizonte.

O saldo da eleição passada, porém, tornou-se uma pedra no sapato dos dirigentes do Patriota, especialmente Adilson Barroso. Ex-vereador da pequena cidade paulista de Barrinha, na região de Ribeirão Preto, ele afirma que “nunca desistiu do sonho” e que prepara o partido para receber Bolsonaro há anos. Acontece que, nas últimas semanas, quando o seu sonho se tornou possível, parte dos diretórios estaduais estava tomada por “antibolsonaristas” declarados, como os representantes do MBL. No caso de Minas Gerais, o vereador Gabriel Azevedo foi expulso justamente pelas críticas ao presidente da República. Mas, em São Paulo, a confusão foi maior. Em uma convenção realizada na terça-feira 1º de junho, numa sala em Barrinha, Adilson Barroso dissolveu diretórios, mudou dirigentes e preparou o terreno para a chegada do líder máximo. Comprou uma briga interna que quase terminou em pancadaria caipira — daquelas com arremesso de cadeiras — e foi parar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O plano de voo de Bolsonaro mira a eleição de ao menos 50 cadeiras na Câmara

Segundo aliados da família de Bolsonaro, é só esse o entrave que ainda o separa da ficha de filiação. Leia-se: ele quer ter certeza de que não terá adversários internos, como o grupo do MBL, porque assumirá o posto de “presidente de honra” da sigla. Mais: da sua caneta sairão vetos e chancelas a quem quiser disputar cargos eletivos em 2022, especialmente para a bancada de deputados. O plano de voo de Bolsonaro mira eleger ao menos 50 cadeiras na Câmara — ou até mais, como conseguiu ao impulsionar o PSL no pleito anterior —, senadores e ter alguns candidatos aos governos competitivos. Em São Paulo, seu “plano A” é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que até agora resiste à ideia.

“Se tem uma coisa que eu quero e tenho certeza de que ele [Bolsonaro] vai querer, é não deixar entrar quem venha aqui só para usar o nome dele, ganhe a eleição e depois use o plenário para discursar contra o presidente”, diz Adilson Barroso. “O Patriota tem o nome que Bolsonaro mesmo deu, o estatuto que praticamente ele fez. […] Tem tudo de que o presidente precisa.”

O deputado Jair Bolsonaro (RJ) e o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso

Num país onde partido político se confunde com balcão de negócios regado com dinheiro público, não faltam ofertas de filiação a quase nenhum político com potencial nas urnas — que dirá para Jair Bolsonaro. O próprio PSL já flertou com o seu retorno, até porque só tem a estatura atual graças a ele e sabe que o horizonte em 2022 não é nada alvissareiro. A permanência de nomes em suas fileiras que jogam e jogarão contra a reeleição do presidente pesa na direção oposta a um eventual regresso seu. Também os tradicionais PTB, de Roberto Jefferson, e PP, aos quais ele já foi filiado, abriram as portas, mas em ambos Bolsonaro não teria o controle absoluto dada a fragmentação de líderes regionais.

Quem tomou rumo semelhante recentemente para tentar atrair o presidente foi o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que no mês passado mudou sua nomenclatura para Brasil 35. Chegou a ser o caminho preferido depois que a criação do Aliança Pelo Brasil não atingiu o número de assinaturas para se viabilizar a tempo. Faltam ao PMB, contudo, recursos para fazer campanha, já que não elegeu nenhum deputado federal em 2018. A despeito da força das redes sociais e mobilizações espontâneas nas ruas, Bolsonaro terá de arcar com despesas de viagens pelo país depois do expediente no Palácio do Planalto no ano que vem — e quem pagará a maior fatia dessa fatura será o partido escolhido. Por exemplo: conforme a distribuição do fundo eleitoral — destinado a financiar campanhas e que não tem nada a ver com o fundo partidário, usado para gastos do cotidiano da legenda —, o PMB receberá R$ 1,2 milhão; o Patriota, R$ 35 milhões.

Em tese, Bolsonaro ainda tem muito tempo para se decidir sobre sua nova casa. Segundo o TSE, o prazo para filiação vai até seis meses antes da eleição de outubro de 2022. Antecipar a data do “casamento”, contudo, favorece a organização dos convidados para a festa — e desta vez, quanto mais cedo isso ocorrer, o comparecimento poderá ser decisivo.

Leia também “O recado de Lira e o ‘Centrão’ na antessala do Planalto”

11 comentários
  1. FRANCISCO JOSE GONCALVES
    FRANCISCO JOSE GONCALVES

    Não tem outra saída, Fundo Eleitoral aprovaram no Congresso, poderiam ser por outros meios. Mas tomara que dê certo no Patriotas.

  2. JR
    JR

    Uma das filhas e o irmão do Presidente do Patriota aparecem nas prestações de contas como beneficiados pelo partido com dinheiros do fundo eleitoral. O Chefe do partido no Maranhão é aliado do Governador Flávio Dino opositor do Governo. O Chefe do partido na Paraíba frequentemente aparece nas redes sociais com chapéu de lampião e peixeira na cintura.
    Nas prestações de contas do partido relativas aos anos de 2017 a 2020 indicam que o presidente do partido pode ter destinado dinheiro público da legenda ao próprio bolso e para ao menos dez familiares – incluindo a atual mulher, a ex-mulher, irmãos, filha, cunhada e sobrinhos.
    Ao todo, R$ 1,15 milhão do fundo partidário teria sido usado para pagar o salário do próprio Adilson e dos parentes, empregados na estrutura da legenda. Só no ano passado o presidente do Patriota recebeu uma remuneração partidária de R$ 225 mil, com um contracheque mensal de R$ 25 mil. Além disso, na última eleição, a legenda gastou cerca de R$ 1,2 milhão para eleger a filha de Adilson como vice-prefeita de Barrinha (SP) e mais cinco vereadores. Brasil Acima de Tudo. Meus Parentes acima de todos. Parabéns à Oeste pela isenção.

  3. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    Deus permita e há de permitir que ele se reeleja !
    Não rouba e não deixa roubar !

    Assim afastamos essa praga nefasta chamada esquerda no Brasil .
    Temo tudo pra nos transformar numa grande potência ,mas precisamos gestoras que esqueçam
    o seu umbigo e pensem na nação !
    Nos menos afortunados
    Na saúde
    Na infraestrutura de estradas ,saneamento básico ,moradias
    Na educação tão vital pra melhorarmos a qualidade de nossa mão de obra
    Pra retermos cérebros ímpares e investirmos em tecnologia de ponta para não ficarmos ano após ano exportando produtos primários !
    Enfim gestores que não visem enriquecer os amigos ,os filhos ,os netos e bisnetos !
    Observem as grandes famílias que enriquecerem nesse país na iniciativa privada !
    Trabalharam e não desviaram se de seus objetivos !
    Isso no serviço público é quase utópico senão tivermos patriotas de verdade !
    Que Deus nos ajude a mais 4 anos de postergação dessa gangue da esquerda que não trabalha e somente vampiriza o estado ,o erário !
    Locupleta se do dinheiro público !
    Deveríamos imitar Cingapura ,pena de morte para esses vagabundos!
    Que assaltam o erário continuamente ,para seu próprio benefício !

  4. ANTONIO DONIZETI SAVIO
    ANTONIO DONIZETI SAVIO

    Eu gostaria de entender as dificuldades enfrentadas para que o Presidente Bolsonaro criasse um novo partido. Haveria como se publicar uma reportagem sobre isto?

    1. José Aldarelli
      José Aldarelli

      Acredito que os apoiadores do presidente no PSL podem filiar-se ao patriota também?

  5. Manoel Graciano
    Manoel Graciano

    o patriota com esse número 51 uma boa ideia, fica bem é para sigla do partido do LULA.

    1. Alirio Luiz Humel
      Alirio Luiz Humel

      Com esse número até o molusco vota nele. KKKKKKK

  6. Mario Jose Javarys
    Mario Jose Javarys

    A filiação a um partido politico é muito importante para estruturar e limpar contra a politicagem, corrupção e roubalheira incrustadas nos partidos politicos.

  7. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Bolsonaro precisa rapidamente se filiar a um partido e começar a atrair futuros candidatos ao Congresso, comprometidos com seu futuro projeto de governo e que tenham chances reais de se elegerem.

  8. Daniel Brito Guimarães
    Daniel Brito Guimarães

    O “Fundão Eleitoral” mancha a imagem de quem quer que se utilize dele. Seria algo impossível pensar em Bolsonaro extinguindo o Fundão?

  9. André Ferreira Da Fonseca
    André Ferreira Da Fonseca

    Boa, Sílvio.

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