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Edição 64

A frustração dos vigaristas da adversativa

O público precisa ser informado sobre os avanços que a equipe econômica vem conseguindo mesmo em meio ao bombardeio impiedoso e às restrições impostas pela pandemia

Ubiratan Jorge Iorio
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“Eppur si muove; ossia, tuttavia si muove, intendendo la terra.”
(Ainda se move; ou seja, todavia ela se move, significando a terra.)
Frase atribuída a Galileo di Vincenzo Galilei, 1564-1642

Desde a conspiração que empurrou a república goela abaixo dos brasileiros, não se tem notícia de presidente que tenha sofrido bombardeio tão intenso quanto Jair Bolsonaro. Os ataques não cessam e partem de muitas frentes: das Cassandras da mídia tradicional vem o foguetório diário de distorções; das Valquírias tidas como intelectuais, analistas e artistas, os petardos recorrentes das falsas narrativas; das Sereias da oposição — que até hoje não admitem ter perdido as eleições — o bombardeio contínuo de baixarias; das Esfinges do Legislativo, o metralhar incansável e traiçoeiro de sabotagens ao governo; e das Circes do Judiciário, a invasão ininterrupta em searas que não lhes competem, disseminando, entre outros, o mal da insegurança jurídica.

Esses ataques estão em consonância com os manuais e as velhas táticas de resistência às reformas liberais e aos princípios conservadores consagrados pela anuência dos eleitores. A alimentar essa gigantesca belicosidade, identificamos, em primeiro lugar, dois velhos transtornos obsessivo-compulsivos e de abrangência nacional, a saber, o patrimonialismo, que entre nós sempre foi crônico, e o estatismo, que de tão infantil chega a ser cômico; segundo, o basta dado pelo governo ao uso de recursos dos pagadores de impostos para sustentar a velha mídia; e, em terceiro, o repúdio do presidente a qualquer aventura socialista, um pecado gravíssimo para quem acredita “democraticamente” que nenhum governo de direita pode ser aceito e que, portanto, precisa ser combatido a qualquer custo, sem preocupação com a ética. Sim, porque, para esses seres mitológicos agourentos, “a esquerda pode tudo (inclusive roubar) e a direita não pode nada”.

Quando veio a pandemia no início de 2020, muitos desses personagens festejaram e, saltitantes, passaram a se empenhar para transformar o país em um verdadeiro hospício, com o fito único de derrubar o presidente. Assistimos, desde então, a um espetáculo tétrico cansativo, protagonizado nos teatros da TV aberta e dos velhos jornais, por um bando incontável de aproveitadores, “torcedores do vírus” e trombeteiros (de calças apertadas ou largas) do “Fique em casa”, travestidos de “defensores da ciência”. No regulamento do manicômio, quem se atreve a alertar para os perigos de paralisação da economia é contemplado em seu prontuário, antes de ser “cancelado”, com adjetivos como “insensível”, “genocida”, “negacionista” e “fascista”, palavras papagueadas entusiasticamente sem necessidade sequer de conhecer os seus significados. Mas o fato é que o baque made in China derrubou a economia, que em 2019 ensaiara passos incipientes, porém firmes, rumo ao almejado futuro, lançando-a, como um pugilista, à lona, para alegria de quem enchia a boca e proclamava a derrota do “neoliberalismo” e a “morte do PIB”.

Porém, o noticiário dos últimos dias trouxe esperança para quem torce de fato pelo país e decepção para quem, sub-repticiamente, deseja transformá-lo em mais uma aberração bolivariana ou fazê-lo voltar a um passado de subserviência aos grupos políticos corruptos que o sugavam havia muitas décadas.

Para começar, fomos informados pelo IBGE de que até mesmo o ano fatídico de 2020 terminou com mais empregos formais do que os registrados em 2019 e que, de janeiro a abril do presente ano, foram criados 900 mil empregos; soubemos também que o PIB cresceu 1,2% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2020 (a agropecuária cresceu 5,7%, a indústria 0,7% e os serviços 0,4%) e 1% quando comparado com o primeiro trimestre de 2020, voltando ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia; informaram-nos ainda que esse desempenho é o terceiro resultado positivo consecutivo, depois dos retrocessos de -2,2% e de -9,2% observados, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres do ano passado; e, para completar as boas novas, as estimativas para o crescimento da economia em 2021, até o momento, já estão de torno de 5%, os investimentos cresceram 4,6% no primeiro trimestre deste ano em relação ao do ano passado, as exportações 3,7% e as importações 11,6%.

Sim, é para comemorar, para tristeza daqueles que o jornalista Augusto Nunes classifica como a tribo dos vigaristas da adversativa, especialistas em enfiar vírgula no fim de qualquer boa notícia, emendá-la com um “mas” e sapecar imediatamente alguma ressalva desalentadora. Embora ainda seja cedo para afirmar que estamos falando de voo de águia e não de galinha, podemos afirmar que, pelo andar da carruagem, veremos a silhueta aquilina em nosso céu cor de anil e que o galináceo se recolherá ao poleiro, desde que a trajetória de liberdade econômica seja enfim posta em pauta pelo Congresso e concretizada com a maior rapidez possível.

O público precisa ser informado sobre os avanços extraordinários que a equipe econômica do governo — a melhor de toda a república — vem conseguindo, mesmo em meio ao bombardeio impiedoso e às restrições impostas pela pandemia. No plano estritamente técnico da política econômica, isso significa que o programa aprovado pelo povo em 2018, de cunho marcantemente liberal, após décadas do teatro de tesouras tucano-petista com todo o seu intervencionismo, continuou a ser aplicado, o que só foi possível pela perseverança em uma diretriz virtuosa, focalizada no binômio formado pela consolidação fiscal e pelo aumento de produtividade, indispensável no longo prazo para a saúde econômica, a estabilidade política e o bem-estar social.

Paulo Guedes, ministro da Economia

Comecemos pela consolidação fiscal, isto é, a opção por um novo regime de gastos e receitas, que é essencial para a sociedade, em particular para os mais pobres, porque, além de sustentar o alívio das necessidades de financiamento do setor público, produz efeitos benignos sobre as expectativas e, portanto, sobre a taxa de juros futura, a trajetória dos preços, o risco Brasil, os investimentos, os empregos e a renda. O que o governo vem fazendo para consolidar o regime fiscal não é pouco: de acordo com a Secretaria de Política Econômica, em um ano e meio o governo “genocida” conseguiu aprovar o novo marco fiscal com a reforma da Previdência, a “Lei do Contribuinte Legal” (transação tributária) e as leis complementares nº 173 (Lei de Assistência aos governos estaduais e municipais, que impediu aumentos de salários para funcionários públicos por dois anos, até 2021), nº 176 (que resolveu o passivo da Lei Kandir) e nº 178 (estabelecendo gatilhos para Estados e municípios e melhorias na LRF), além da Emenda Constitucional nº 109 (PEC Emergencial). Essas medidas denotam preocupação salutar com a estabilização da relação dívida/PIB, parte importantíssima da consolidação fiscal.

Quatro indicadores atestam o acerto dessa busca: primeiro, o déficit estrutural permaneceu praticamente inalterado (-1,16% em 2019 e -1,33% do PIB em 2020), mesmo com o cenário inesperado de maiores gastos públicos, imposto pela pandemia; segundo, o superávit primário de R$ 24,4 bilhões nas contas do Tesouro Nacional no primeiro trimestre deste ano; terceiro, segundo os dados do Prisma, os resultados do déficit primário do governo central foram consistentemente melhores do que os projetados pelo mercado, sendo que o erro de previsão médio mensal, de julho/20 até março/21, foi de aproximadamente R$ 19 bilhões; e quarto, estimativas de mercado divulgadas pelo Prisma de maio/2021 sugerem que a relação entre a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) e o PIB deve terminar 2021 em 89%, um resultado importante em termos de redução do risco de insolvência, se nos lembrarmos de que em junho do ano passado o porcentual esperado para 2021 era de 93%, com tendência a exceder os 100%.

Outro ponto positivo é que nos mercados financeiros o setor privado passou a responder pela maior parte dos empréstimos

O Banco Central, mesmo enfrentando críticas, apostou na consolidação fiscal para executar a política de taxas de juros baixas e câmbio flutuante, com vistas a reduzir os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. Já em fevereiro de 2020, antes da tempestade, as estimativas do Tesouro Nacional sugeriam uma economia perto de R$ 400 bilhões em quatro anos, decorrente da redução dessas despesas. Quanto às previsões de inflação, que passarão por um pico até julho, deverão terminar o ano perto de 5%, em decorrência da atenção que o Copom revelou nas últimas reuniões à necessidade de impedir o descontrole da inflação de preços.

Quanto ao segundo elemento do binômio, o crescimento da produtividade, também ocorreram avanços significativos, como a revisão do contrato de cessão onerosa, que possibilitou o maior leilão de petróleo do mundo, o novo FGTS, a lei de liberdade econômica, as novas leis do agronegócio, de falências e de licitações, os novos marcos do saneamento, do gás, das agências reguladoras e das startups, a autonomia do Banco Central, a redução da meta de inflação, os inúmeros leilões de rodovias, portos e aeroportos, as privatizações, o novo Pronampe, a redução unilateral de 10% no imposto de importação de 1.495 produtos e aperfeiçoamentos na agenda de concessões, entre outros avanços. Esse conjunto de medidas tem o objetivo de aumentar a produtividade, corrigindo a má alocação de recursos e aumentando a segurança jurídica, ao lado das privatizações e concessões, da abertura comercial, da desburocratização, da simplificação tributária e da melhoria do ambiente de negócios.

Outro ponto positivo é que nos mercados financeiros o setor privado passou a responder pela maior parte dos empréstimos, o que significa que o crédito livre se fortaleceu e que, portanto, os recursos serão aplicados em investimentos mais eficientes do que seriam realizados, caso o governo continuasse a direcioná-los para setores — os “amigos do rei” — escolhidos politicamente.

Todavia, é imprescindível que o Congresso Nacional contribua para que a agenda econômica continue avançando e, sobretudo, para que ganhe maior velocidade. Há tarefas enormes, estruturais e difíceis, mas inadiáveis pela frente, como as reformas administrativa e tributária, a privatização da Eletrobras, o Programa de Incentivo à Cabotagem (BR do Mar), o PL 5.387 (PL Cambial), a necessidade de maior agilidade na concessão de licenças ambientais, o PL de autorização de ferrovias, o aprimoramento das debêntures de infraestrutura e outras.

A equipe econômica sabe que ainda há riscos que precisam ser eliminados para que a águia possa alçar voo, como o da evolução da pandemia, o hidrológico e, principalmente, o da estrutura da situação fiscal. O primeiro é imprevisível; o risco hidrológico impõe a urgência da privatização da Eletrobras e da aprovação de reformas nos marcos legais; e o terceiro precisa de perseverança, de muita perseverança. Mas é certo que o juiz não chegou a contar até dez, porque bem antes disso a economia levantou-se da lona e está se movendo. Como teria dito Galileu, eppur si muove.

Leia também “Brasil, um pugilista que não vai a nocaute”


Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.
@ubiratanjorgeiorio

16 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente artigo. Parabéns.

  2. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Um sol no final do túnel.

    1. Eládio Torret Rocha
      Eládio Torret Rocha

      Artigo bem escrito, esclarecedor e sobretudo alentador. Parabens, professor Iorio.

  3. FRANCISCO JOSE GONCALVES
    FRANCISCO JOSE GONCALVES

    Belo texto e parabéns!

  4. Viviane Nabinger
    Viviane Nabinger

    Olha, fazia tempo em que as informações trazidas, fundamentais para a compreensão sobre um governo obstinado a fazer as necessárias mudanças estruturantes, não eram apresentadas com clareza e facilidade de entendimento. Obrigada.

  5. Luiz Antonio Fraga
    Luiz Antonio Fraga

    Analisou o cenário com lucidez e honestidade técnica e intelectual; baseado em argumentos amparados em dados concretos e não em “achismos”, como fazem os esquerdopatas.
    Parabéns pelo artigo!

  6. Silvestre Carlos Antunes Siqueira
    Silvestre Carlos Antunes Siqueira

    Como é bom ler um excelente artigo, obrigado professor Jorge Iorio!

  7. Manoel Graciano
    Manoel Graciano

    Dá gosto ler um artigo do professor Jorge Iorio.

  8. Roberto Salles Zancaner
    Roberto Salles Zancaner

    Muito bom!

  9. MARCELO GONÇALVES VILLELA
    MARCELO GONÇALVES VILLELA

    Excelente artigo!

  10. Lourival Nascimento
    Lourival Nascimento

    Ubiratan, parabéns pelo texto esclarecedor. Nesses tempos de linguagem ” neutra “, que de neutra não tem nada, pus-me a pensar, homem de poucas letras que sou, na pérola “despiora “. Como eu e Dona Gramática não somos exatamente bons amigos, eu que volta e meia lhe dou sonoras caneladas, como de hábito, recorri ao Doutor Google e Nossa Senhora da Internet, para inspirar-me em Rui Barbosa, Aurélio Buarque de Holanda, Antônio Houasiss, Machado de Assis, Ariano Suassuna, Dias Gomes, Bocage, Sérgio Porto, Sherlock Holmes e Mazzaropi. Conluí que ” despiorar ” é o escambau, o Trupizupe, o Cão Coxo, o Raio da Silibrina, o Saci de Pernas Cruzados, o Morcego Doador de Sangue, a honestidade do Lula, o Bigode do Sarney, a fidelidade da Gleise, o pudor da Anne Marie Corner e a Tonga da Mironga do Cabuletê, tudo junto e misturado. O resultado foram bezerros desmamados aos 14 anos que berram pela grana que inundava Redações de jornais e revista para proteger bandidos de estimação, inveja, recalque das Vestais de meia pataca travestidas de jornalistas, prática contumaz e endêmica de desjornalismo pago com grana vinda dos porões das empresas bandidas, constatação pelos meliantes, que apesar do agouro, fábrica de fake news e gabinetes do ódio, difamação, de acoitar com grande parte do podre Judiciário de porta de cadeia, o Brasil segue em frente, que o Brasil não precisa dessas pessoas que inventam termos para tentarem lacrar, no pior sentido do termo, o Brasil NÃO precisa deles.

    1. Manoel Graciano
      Manoel Graciano

      Seu comentário é muito bom amigo, parabéns.

      1. Teresa Guzzo
        Teresa Guzzo

        Texto esclarecedor e verdadeiro.Fiquei muito feliz com as últimas notícias econômicas de nosso país, torço sempre pelo Brasil.Acho que está no caminho certo.

    2. Eliane Peixoto
      Eliane Peixoto

      👏👏👏👏

  11. Elson Zoppellaro Machado Machado
    Elson Zoppellaro Machado Machado

    Excepcional artigo.
    Falou e disse.

    1. Claudia Aguiar de Siqueira
      Claudia Aguiar de Siqueira

      Muito bom ler dados sistematizados na direção correta.

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