Nas últimas semanas, aumentou o número de queimadas no Brasil. Amazônia, Pantanal e o Estado de São Paulo, este último com níveis recordes, ardem em chamas. Ao todo, 48 municípios paulistas estão em alerta máximo.
Como resultado, grande parte do território nacional ficou encoberta por fumaça. Dez Estados, além de Bolívia, Peru e Paraguai, foram atingidos pela fumaça produzida pelas queimadas espalhadas pelo país. É o que mostrou o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse cenário põe o Brasil como o quinto país com o ar mais poluído do mundo, no último dia 15. O monitoramento internacional é realizado pela plataforma World’s Air Quality Index (WAQI), que cataloga a qualidade do ar no mundo desde 2007.
O Sol observado no fim da semana passada estava com uma cor anormal: laranja estridente, quase vermelho. O professor de química Reinaldo Bazito, da Universidade de São Paulo (USP), explica que esse fenômeno é causado justamente pela fumaça.
“A combustão incompleta gera compostos do tipo hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são bastante tóxicos, e cinzas”, disse o professor. “A isso chamamos de material particular, o que causa a cor laranja do Sol, porque dispersa a luz de uma maneira diferente.”
SOCORRO! a minha cidade está embaixo de fogo 😭
— jess ୨ৎ (@holyfvcksep) August 23, 2024
Foi muito próximo à cidade e já se alastrou, está na área empresarial. Mts empresas já encerraram o expediente por hoje pela impossibilidade de RESPIRAR e pelo risco das chamas chegarem até lá.
Os bombeiros nao estão dando conta pic.twitter.com/wu6QnXPiBh
Bazito explica que esse material é o produto das queimadas que mais causa danos para a saúde humana. “São micropartículas que a gente consegue inalar, e que vão direto para o pulmão, causando problemas respiratórios”, disse. Para evitar que isso aconteça, o especialista afirma que o uso da máscara é eficaz.
Outros compostos formados pelas queimadas são os óxidos de nitrogênio, como destaca o professor da USP. “Quando ocorrem queimadas, a gente aquece o ar, e no ar tem nitrogênio”, explicou. “Assim, se formam os óxidos de nitrogênio, que são irritantes para as vias aéreas, e podem formar o ozônio troposférico.” Este último produto químico tem alto poder oxidativo, e, por isso, causa prejuízo às plantas.
Outros compostos da fumaça de queimadas
Quando ocorrem queimadas em áreas de vegetação — que é o caso do que acontece no Brasil agora — carbono está sendo queimado. Com isso, Bazito explica que o gás carbônico é formado (CO₂) e, em menor proporção, o monóxido de carbono (CO). Quando inalado, este último gás pode impedir o transporte de oxigênio no corpo humano, o que pode ser fatal.
Além disso, a fumaça decorrente das queimadas também contém enxofre (S), como detalha Bazito, o que é um dos principais formadores de chuva ácida.
“O dióxido de enxofre vira ácido sulfúrico quando tem contato com a água”, disse o professor. “Na hora da chuva, isso altera o pH da água, o que pode causar corrosão na construção civil e afetar as plantas.”
O especialista afirma que há risco de chuvas ácidas caírem sobre o país depois dessas queimadas, porque boa parte dos gases emitidos são “limpos” pela chuva.
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A Prefeitura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, chegou a suspender as aulas da rede municipal de ensino depois de a cidade ser afetada pelo avanço dos focos de incêndio e da fumaça decorrente das chamas. Eventos ao ar livre já tinham sido cancelados pela gestão municipal durante o fim de semana.
Revista Oeste, com informações da Agência Estado