As perdas bilionárias em São Paulo devido às queimadas ultrapassaram R$ 2 bilhões, de acordo com o levamento divulgado na quinta-feira 12 pelo governo paulista. O fogo atingiu pastagens e plantações de diversas culturas.
De acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, as queimadas atingiriam áreas de gado de corte e leiteiro, cana-de-açúcar, frutas, mel e derivados, celulose e extração de látex foram afetadas.
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Medidas governamentais e desafios econômicos
O governo estadual destinou R$ 110 milhões para ajudar os produtores. Estimativas precisas das perdas são difíceis devido à crise em andamento, afirmam analistas. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, destacou: “O mundo precisa de ações mais concretas para evitar cenários catastróficos nos próximos anos.”
“No caso brasileiro, a questão climática afetando a agricultura é a maior preocupação econômica”, disse Vale. “Vai demandar projetos de irrigação e seguro. E seguro rural é uma coisa relativamente mal desenvolvida no Brasil”. Graças ao período de entressafra, culturas como soja e milho ainda não sofreram grandes impactos das queimadas.
Impactos das queimadas na safra
Contudo, a prolongada escassez hídrica pode prejudicar o plantio de verão desses e outros produtos. Para concluir a safra de grãos de 2024, o Brasil precisa colher culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada, informou Carlos Barradas, gerente do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola) do IBGE.
O IBGE prevê uma queda de 6% na produção deste ano devido a problemas climáticos, como a falta de chuva e enchentes no Rio Grande do Sul. “Este mês estamos iniciando o plantio da safra de verão e está faltando chuva, que tem de chegar até meados de outubro para o produtor poder plantar e ter uma boa janela de produção”, disse Barradas.
Estimativas de prejuízos e inflação
Em balanço atualizado na sexta-feira 13, a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) estimou o prejuízo das queimadas em canaviais de São Paulo em cerca de R$ 1,2 bilhão. Relatório da LCA Consultoria afirmou que a seca e os incêndios recentes aumentam os riscos de alta na inflação e queda no PIB.
A análise da LCA aponta que o cenário atual já levou à mudança das bandeiras tarifárias de energia elétrica, pressionando os preços dos alimentos. Em setembro, a bandeira vermelha patamar 1 entrou em operação, adicionando R$ 4,4 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.
Impacto nas tarifas de energia e infraestrutura
Mesmo que melhorias na infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade e a expansão de fontes alternativas possam ajudar, essas ações demorariam a mitigar os efeitos da escassez de chuvas. “E é inegável que, se a situação climática continuar a piorar, os impactos sobre a economia, a médio e longo prazo, tenderão a ser cada vez mais adversos – principalmente por prejudicar o fornecimento de energia e a produtividade agropecuária”, diz a LCA.
Glaucio Toyama, presidente da comissão de seguro rural da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), afirmou que as seguradoras ainda estão calculando os prejuízos da crise atual. A dimensão ainda é desconhecida, pois os avisos de sinistros continuam chegando às empresas.
Prejuízos contínuos e desafios no controle de incêndios
“Os prejuízos vão continuar acontecendo. Controlar o fogo não é simples”, diz Toyama. Entre 1º de agosto e 10 de setembro, municípios brasileiros relataram R$ 1,1 bilhão em danos decorrentes de incêndios florestais, segundo a CNM (Confederação Nacional de Municípios). A entidade reconhece que o dado pode estar subestimado, pois muitas prefeituras ainda não informaram os danos.
“Ainda assim, o valor de agora será maior do que o registrado nos anos anteriores”, diz a confederação. A crise tem consequências para a biodiversidade em áreas florestais, com dados ainda escassos, de acordo com Malu Ribeiro, diretora da SOS Mata Atlântica. “Áreas de restauração foram queimadas, sementes se perderam”, diz.
Impactos na gestão de recursos hídricos
A gestão de recursos hídricos também é afetada. Com a chegada das chuvas, poluentes em suspensão na atmosfera podem contaminar solos e mananciais. Leonardo Capeleto de Andrade, engenheiro ambiental e pesquisador do Cepas (Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas) da USP, afirmou que regiões com sistemas de tratamento de água mais complexos podem reduzir os impactos dos resíduos na saúde humana.
Mas isso aumentaria os custos e exigiria mais produtos químicos. “As empresas terão que fazer essa compensação se a água que chegar para ser tratada estiver alterada”, afirma. O pesquisador alertou que em locais com tratamento de água menos complexo ou inexistente, a população estará exposta a agentes patológicos.
Riscos à saúde e monitoramento da situação
“O problema não é a água só ficar turva. Quando temos queimada de madeira, o carbono se transforma em outros tipos de poluentes, alguns potencialmente cancerígenos.” A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afirmou que, até o momento, não foi detectado impacto das queimadas nos reservatórios de sistemas produtores de água.
Também declarou que continua monitorando a situação e está pronta para promover “eventuais ajustes no tratamento”, caso sejam necessários.
Incêndios criminosos. Não são queimadas.
Incêndios criminosos. Não são queimadas.