As enchentes de maio no Rio Grande do Sul afetaram 21,5 mil propriedades rurais, das quais 84,5% pertencem a pequenos agricultores. As inundações impactaram 12 unidades de conservação, 25 assentamentos e 3 comunidades quilombolas. Até 3 de junho, mais de 17 mil domicílios foram afetados em 120 municípios em emergência ou calamidade pública.
Dados gerados e compartilhados por instituições públicas têm sido cruciais no enfrentamento aos efeitos das enchentes e deslizamentos no Estado. A Embrapa, utilizando geotecnologia, tem tratado esses dados para auxiliar agricultores e a agricultura no Rio Grande do Sul.
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Para localizar esses agricultores no Rio Grande do Sul, a Embrapa Territorial, em Campinas (SP), combinou dados públicos da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Governo Estadual e pelo Programa Brasil MAIS do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Um dos pedidos de apoio para localizar rapidamente famílias de agricultores afetados veio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. A equipe de geoprocessamento da Embrapa Territorial utilizou as coordenadas geográficas dos domicílios, fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir do censo populacional de 2022.
Os dados foram processados para identificar domicílios dentro das áreas de inundação e deslizamentos nos municípios em emergência ou calamidade pública. Com isso, as equipes do Senar passaram a ter acesso, via celular, a rotas para chegar aos domicílios impactados.
“A Embrapa forneceu para a gente arquivos em KMZ, que conseguimos importar diretamente para o Google Earth”, explicou o coordenador de desenvolvimento e inovação do Senar/RS, Alexandre Padilha.
“Dividimos todo esse mapa em vários arquivos para que ficasse mais leve, mais ágil, para que cada supervisor conseguisse abrir no seu celular e para direcionar os esforços no seu sindicato rural”, acrescentou.
Os dados também foram utilizados para gerar mapas e tabelas que priorizam os municípios a serem atendidos, conforme a área atingida e o número de domicílios afetados. Nova Santa Rita teve 54,6% do território afetado, enquanto Rio Pardo apresentou a maior quantidade de domicílios devastados (1.201).
“Com isso, as pessoas conseguiram ser estrategicamente direcionadas para a ação”, disse Padilha. A iniciativa mobilizou 300 técnicos e investiu R$ 100 milhões para auxiliar os agricultores do Rio Grande do Sul.
Análises de outras regiões do Rio Grande do Sul
Com base nesse trabalho e nas necessidades identificadas pela Diretoria-Executiva da Embrapa e pelos centros de pesquisa no Rio Grande do Sul, outras análises com recortes territoriais menores estão em andamento, sempre com a informação mais atualizada sobre os agricultores.
Exemplo disso é a análise territorial sobre o impacto das chuvas nas microrregiões de Lajeado e Encantado. A equipe está trabalhando com atualizações da mancha de inundação e deslizamentos, baseadas em imagens de satélite de 14 e 15 de maio de 2024, e aguardando novas versões. “Nosso orientador é sempre a área da mancha mais atual, que é atualizada conforme a demanda”, lembrou Carlos Alberto de Carvalho, analista da Embrapa Territorial.
Além dos levantamentos de dados, a Embrapa está reunindo sete centros de pesquisa da região Sul para articulações e ações no território gaúcho:
- Embrapa Clima Temperado, Pelotas (RS);
- Embrapa Pecuária Sul, Bagé (RS);
- Embrapa Trigo, Passo Fundo (RS);
- Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves (RS);
- Embrapa Suínos e Aves, Concórdia (SC);
- Embrapa Florestas, Colombo (PR); e
- Embrapa Soja, Londrina (PR).
A Embrapa irá atuar com seu corpo técnico no diagnóstico da situação do solo e sua fertilidade nas diferentes localidades, em parceria com a Emater/RS e consultores associados.
Ações imediatas e análise estratégica
O analista da Embrapa Territorial, Paulo Roberto Rodrigues Martinho, destacou a diferença deste trabalho para o Senar/RS é que “as outras análises são para apoio a políticas públicas, essa foi para a ação imediata de ir a campo e encontrar pessoas.”
O conceito e a metodologia dos sistemas de inteligência territorial estratégica foram utilizados para mostrar um panorama das áreas de produção e infraestrutura afetadas no estado.
“Para avaliar impactos e necessidade de ações para agropecuária, precisamos olhar para dentro das propriedades, mas também para o entorno, para as estruturas de armazenagem e escoamento da safra, para o recebimento de suprimentos para as pessoas e insumos para a produção”, ressaltou Gustavo Spadotti, chefe-geral do centro de pesquisa.
Avaliação dos impactos e bloqueios nas rodovias
O trabalho desenvolvido pela Embrapa foi realizado no início de maio, quando apenas os limites da área afetada pelas enchentes entre os dias 5 e 7 estavam disponíveis. Identificou-se que 85 armazéns, com capacidade de 750 mil toneladas, estavam localizados nessa área. Sem considerar os deslizamentos, foram apontados 49 bloqueios parciais e 42 totais em rodovias.
Para obter esse panorama, utilizaram-se dados de várias instituições como Agência Nacional de Águas (ANA), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (DAER/RS), IBGE e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Serviço Florestal Brasileiro (SFB/SICAR), entre outros.