No começo não haveria vacinas. Depois, elas não seriam aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, a tempo. Agora, o argumento é que, mesmo com as vacinas aprovadas e disponíveis para os brasileiros, faltarão seringas. Não é bem assim.
A mais recente desconfiança começou depois do pregão feito pelo Ministério da Saúde para comprar 330 milhões de seringas — já fornecidas com agulha — na última terça-feira de 2020, dia 29 de dezembro. Na oportunidade, apenas um contrato para a compra de 7,9 milhões desses kits foi aprovado. Entretanto, não faltaram propostas para cobrir a demanda projetada pelo governo. O impedimento aconteceu por problemas relacionados a preço e credenciamento dos fornecedores. Na verdade, os números indicam que não há falta de seringas no mercado.
Todas as propostas somadas equivalem a 1,9 bilhão de unidades, número quase seis vezes maior que o estimado pelo governo federal. Desse montante, cerca de 680 milhões foram ofertados por empresas que cumpriram todos os requisitos legais para o pregão — porém, a um preço superior ao estipulado pelo governo. O restante não conseguiu entregar toda a documentação exigida no edital.
Considerando as especificidades de cada item listado no evento, o Ministério da Saúde poderia ter comprado 300 milhões de seringas com agulha. O gasto, entretanto, subiria dos R$ 56 milhões orçados inicialmente para R$ 80 milhões. Com isso, a compra seria suficiente para suprir 91% do total do volume demandado.
Os 9% que ficariam faltando referem-se a kits com uma agulha específica: a 23G X 1″. Outra vez, não foi a falta do produto que impediu a compra. A perspectiva do ministério era adquirir 60 milhões de unidades. As ofertas feitas por empresas com a documentação completa contemplaram a metade disso. Outros 210 milhões de kits foram oferecidos por companhias que, apesar de recusadas para esse item, conseguiram se qualificar para fornecer seringas com outros tipos de agulha.
Existem também as compras anunciadas pelos Estados brasileiros. Somando-se as quantidades relatadas por quatro deles — Bahia, Minais Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo —, serão adquiridos150 milhões de seringas com agulha.
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