O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, de 71 anos, foi reeleito nesta segunda-feira, 24, e seguirá no comando da entidade até 2030. Candidato único, ele obteve apoio unânime das federações estaduais e dos clubes da Série A e B. Sua vitória foi por aclamação. Uma mudança no estatuto da CBF abre a possibilidade de mais uma reeleição, o que o manteria no poder até 2034, em caso de vitória.
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A mudança no estatuto ocorreu em novembro do ano passado, quando os presidentes das 27 federações estaduais aprovaram por unanimidade a possibilidade de o presidente da CBF ser eleito para até três mandatos. Em troca, foi permitido que eles aprovassem um item que libera as federações a decidirem, por conta própria, o número de reeleições permitidas a elas.
Rodrigues assumiu a presidência em 2021, inicialmente de forma interina, depois do afastamento de Rogério Caboclo. Em 2022, foi eleito e agora garante sua permanência por mais cinco anos.
A reeleição por aclamação desta segunda-feira, sem oposição, sugere, segundo os críticos, uma forte centralização do poder na CBF. Com o controle político de Rodrigues na entidade, até mesmo a candidatura do ex-jogador Ronaldo Nazário, ídolo do futebol brasileiro e campeão do mundo em 2002, não teve continuidade.
No último dia 12 de março, Ronaldo surpreendeu o mundo ao declarar sua desistência da candidatura. Ele atribuiu isso às dificuldades em se encontrar com as federações filiadas. Disse ter se deparado com “23 portas fechadas” ao procurar as 27 federações.
Em carta nas redes sociais, ressaltou que “se a maioria com o poder de decisão entende que o futebol brasileiro está em boas mãos, pouco importa a minha opinião”. Por e-mail, 23 federações recusaram encontro com o ex-jogador. Somente a Federação Paulista aceitou um encontro, enquanto Amapá, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro não responderam.
Para concorrer à eleição da CBF, a chapa só pode ser inscrita com o endosso de quatro federações e quatro clubes das Séries A e B. A Assembleia Eleitoral é convocada em até um ano depois do fim do mandato, com edital publicado em jornal de grande circulação no Rio de Janeiro.
O Colégio Eleitoral, em votação secreta, decide a presidência, oito vice-presidências e o Conselho Fiscal. As federações e ligas municipais têm voto de peso 3, clubes da Série A têm peso 2 e da Série B, peso 1.
Rodrigues, depois da desistência de Ronaldo, disse ter muito respeito pelo ex-craque, mas que, “qualquer candidatura é legítima, desde que atenda os requisitos estatutários da CBF”.
As duas únicas eleições com mais de um concorrente, desde 1980, um ano depois de a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) se transformar em CBF, ocorreram em 1986 e 1989.
Em 1986, o candidato apoiado pelo então presidente Giulite Coutinho era Medrado Dias e concorria contra Nabi Abi Chedid. O pleito foi tumultuado, com denúncias de corrupção e de compras de votos. Um empate estava se desenhando. Pelo critério, Medrado estava prestes a assumir, por ser o mais velho. Mas perdeu para Nabi por um voto.
Em 1989, Ricardo Teixeira chegou ao poder, sucedendo a Octávio Pinto Guimarães. Com apoio de seu então genro, João Havelange, presidente da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), ele venceu Nabi, então vice-presidente.
Teixeira reorganizou as finanças da entidade mas, também com o poder político, perdurou no cargo até renunciar em 2012, depois de ter ficado 23 anos à frente da entidade.
Sua saída ocorreu em meio a diversas denúncias de corrupção, entre as quais acusações de recebimento de propinas relacionadas à escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.
Durante boa parte deste período, até um pouco depois, entre 2001 e 2018, Rodrigues foi presidente da Federação Baiana de Futebol. E chegou a ser vice-presidente da CBF, por onde chegou à presidência.
Disputa para presidência da CBF foi parar no STF
A gestão de Rodrigues tem sido marcada por resultados fracos da Seleção Brasileira dentro de campo. O Brasil foi eliminado nas quartas de final da última Copa América, já sob o comando de Dorival Júnior, que, em janeiro de 2024, substituiu Fernando Diniz. Este assumiu em julho de 2023.
Com apenas seis jogos no comando da Seleção, Diniz acumulou uma sequência de resultados negativos: empate com a Venezuela e três derrotas seguidas, para Uruguai, Colômbia e Argentina, esta última no Maracanã.
Foi a primeira sequência de três derrotas seguidas no Brasil na história. Neste momento, a Seleção também passa por instabilidade e ocupa a terceira colocação nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026.
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Fora de campo, Rodrigues também teve um início de gestão tumultuado. Só garantiu sua permanência definitiva em janeiro último, com um documento apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que concordou com a sua manutenção no cargo.
O documento tinha a aprovação da Federação de Minas Gerais e de cinco dirigentes para a continuidade de Rodrigues.
Foi encerrada, assim, disputa judicial que havia provocado, em dezembro de 2023, o afastamento dele por um cerca de um mês. Na ocasião, Rodrigues retornou ao cargo com aval do ministro Gilmar Mendes, do STF.