Há sempre uma lógica por trás de toda loucura, alguém pondera quando confrontado com maluquices indecifráveis. A frase pode valer para outros países. Não é o caso do Brasil. Porque é uma loucura sem vestígios de lógica o tratamento áspero dispensado por tantos nativos do País do Futebol ao maior jogador de todos os tempos. Nunca se viu nem se verá algo parecido, penso ao revisitar Pelé Eterno, o admirável documentário de Aníbal Massaini lançado em 2004.
Espantosamente, não são poucos os que insistem em confundir Edson Arantes do Nascimento com Pelé, e atribuem equívocos eventualmente cometidos por sua camuflagem humana à entidade de tal modo misteriosa que a nenhum mortal será dado explicá-la. Essa miopia impede que se enxergue o abismo sideral que separa um deus atemporal do mineiro de Três Corações que acaba de partir aos 82 anos de vida.
Em qualquer país, as filas de espectadores ansiosos pelas imagens de Pelé Eterno se teriam estendido por centenas de quilômetros, provocando assombrosos engarrafamentos humanos – e ai de quem esboçasse algum indício de contrariedade, porque o mais diminuto sinal de insatisfação haveria de configurar uma afronta intolerável aos milhões de súditos mobilizados para a reverência coletiva ao monarca. Mas o Brasil não é um país qualquer. Vi o filme cinco vezes. Em todas sobrava lugar na sala.
Multidões já se acotovelaram nos comícios de Lula para aplaudir o milagreiro de botequim prometendo o impossível. Em contrapartida, incontáveis brasileiros ignoraram o filme que mostra o gênio incomparável fazendo o impossível — e mais um pouco. Se o protagonista fosse Maradona, por exemplo, os cinemas da Argentina estariam com lotação esgotada até 2050, e futuros avós disputariam a socos e pontapés um ingresso para o neto que nem nasceu. Mas o Brasil não é para amadores, ensinou Tom Jobim.
Pelé foi ironizado por ter pedido mais atenção para as crianças na noite do milésimo gol. Lula, um gigolô de adultos infantilizados pela idiotia, especializou-se na repulsiva exploração da ignorância de gente para quem viver é não morrer de fome. O inventor de jogadas irrepetíveis viu-se cobrado por qualquer miudeza, e se expôs a zombarias ao escorregar no inglês.
O estadista de galinheiro continua assassinando o português sob salvas de palma dos áulicos. Pelé Eterno mostra quase 400 gols e dezenas de jogadas inverossímeis do Rei sem rivais nem herdeiros. Os que nunca viram num estádio a lenda em movimento foram obrigados a render-se às imagens surreais. O Atleta do Século tinha mesmo equilíbrio de ginasta, rapidez de velocista, força de decatleta, resistência de maratonista, coragem de brigador de rua. Com pouco mais de 1,70 metro, chegava mesmo a altitudes inatingíveis para os pobres gigantes que tentavam impedir a cabeçada letal. Aquele jogador nascido destro aprendera mesmo a usar a perna esquerda com tamanha eficiência que as plateias acabaram esquecendo qual fora a escolha original da natureza.
Graças às imagens resgatadas por Aníbal Massaini, os que viram da arquibancada Pelé jogando enfim puderam ter certeza de que o que parecia um sonho acontecera de verdade. Existiu mesmo uma divindade que somou o arranque de um Formula-1 na largada e a ginga de Muhammad Ali, capaz de levitar e mover-se no espaço como Nureyev, flutuar sobre os adversários como Michael Jordan, dissimular os movimentos seguintes como Garrincha e manter todo o tempo o gramado inteiro sob a estreita vigilância de quem alcançava, com olhar de fera, o milagre dos 360 graus.
Que Maradona, que nada. Que Messi, que nada. Como comparar qualquer outro ao craque que ganhou a primeira Copa do Mundo aos 17 anos – e nos 17 seguintes seria titular absoluto da seleção brasileira? E faria 1.281 gols? E provaria com os gols que por muito pouco não fez – como aquela cabeçada defendida pelo goleiro inglês Gordon Banks, ou aquele chute cruzado depois da finta mágica no uruguaio Mazurkievski – que pode haver no futebol a imperfeição mais que perfeita? Como pôde haver um camisa 10 capaz de apressar o imediato cessar-fogo entre tropas que preferiram perder a guerra civil a perder uma apresentação do Rei, e adiaram ataques inadiáveis para vê-lo atacando, solitário e invencível, a grande área inimiga?
Com a morte de Edson Arantes do Nascimento, a versão humana do Deus dos estádios agora descansa. Pelé é eterno, e viverá para sempre. Em homenagem ao supercraque imortal, Pelé Eterno deveria ser reapresentado uma vez por semana em todas as cidades e todos os lugarejos do Brasil. E todo vivente deveria ser instado por lei a esquecer ao menos por um dia quaisquer inquietações para desfrutar de duas horas de deslumbramento numa sala escura. Porque ver Pelé em ação é ser feliz.
Parabéns Augusto Nunes pela brilhante crônica sobre Pelé 👏👏👏👏👏👏
Brilhante!
Já virou quase um clichê dizer “Edson morreu. Pelé é eterno”. O interessante é que a visão cristã é o oposto disso: “Pelé (como tudo neste mundo) vai morrer, mas Edson é imortal”.
Pelé estava sofrendo, nem tanto pelas dores causadas pela doença perversa, mas, por tudo que ia deixar, sua família, seu país, seu povo que o tornou majestade e suas amadas criancinhas que, sempre, rogou fossem bem cuidadas, jamais abandonadas.
Pediu uma audiência com Deus. Foi atendido.
O Todo Poderoso, na sua infinita misericórdia, chamou-o para perto de Si.
O Rei Pelé não precisará ver, com seus olhos, tudo aquila que amou com devoção ser entregue, através de uma fraude infame, à uma quadrilha de bandidos e ladrões.
Em São Paulo sou Santos (por causa do Pelé), no Rio sou America Footbal Club, no Brasil sou Flamengo e no mundo sou Pelé.
O Pelé, junto a família real do Brasil, representa tudo que é ser um brasileiro de bem.
O Pelé é eterno, pelo menos para nós brasileiros de bem.
O Pelé enfiou uma pica de 50cm no Curinthia, time do Lula, não esqueçam disso, nunca
Augusto brilhante, como sempre.
Pelé, na minha humilde opinião, é apenas um profissional que se destacou, na profissão. Das notícias que sei pelas mídias disponíveis, à epoca, a vida particular não era grande exemplo
Então,a César o que é de César, nem menos, nem mais. O Brasil perdeu um expoente no futebol, ponto final. Nada de idolatrias
Idolatria não, é claro, mas é um grande brasileiro que merece respeito e reverência.
Um Brasileiro com “B” maiúsculo. Um Patriota com “P” maiúsculo. Que Deus o receba em toda sua glória. Teve uma morte digna e viveu uma vida levantando a bandeira brasileira por onde quer que fosse!! Que diferença entre ele e aquele vagabundo cheirador de coca que se comparava ao rei, mas cujo talento sequer chegava às travas da chuteira que ele usava. O ordinário admirador de ditadores como este que infelizmente subirá a porra da rampa do local que agora será o covil da maior quadrilha de malditos que o país já viu. Sinceramente não vejo mais razão nenhuma para me orgulhar de ser brasileiro.
Meus sentimentos a toda a família brasileira que perdeu hoje seu ídolo mais completo…
Obrigado Augusto, pelo texto primoroso e emocionante… Parabéns 👏👏👏
Lindo texto, Xará…
Hoje se foi, Edson Arantes do Nascimento.
Aos parentes e amigos os meus sentimentos.
Um ser humano como todos os outros, com virtudes e defeitos.
De certo errou, ao não reconhecer a própria filha em vida. Mas ainda sim, no final, trouxe pra junto de si e da família os seus legítimos netos, filhos dela, Sandra que partira bem antes.
Particularmente tenho boas e gratas referências e lembranças do REI PELÉ. Este, um outro ser. ETERNIZADO há muito tempo. ESTE NÃO MORRERÁ JAMAIS.
Ainda tenho guardada a Bandeira do Brasil que ganhei do meu pai em 1970, onde, embrulhado nela assisti todos os jogos daquela copa memorável.
Do nome “PELÉ”, é sempre bom que se diga;
Que talvez seja a única palavra universal que exista em toda a galáxia.
Seja lá onde for, não é preciso consultar o Google ou qualquer dicionário de línguas para saber o seu significado.
Descanse em paz
ALÉM DE TODOS OS BRASILEIROS, OS PRETOS PRECISAM REVERENCIÁ-LO, AO INVÉS DE CRIMINOSOS COMO ZUMBI DOS PALMARES.
Parabéns Augusto Nunes. Um lenitivo para a tristeza da partida de nosso querido Pelé.
Mais uma grande perda neste que foi, DE LONGE, o pior ano da história do Brasil – RIP.
RIP Rei Pelé. Com 65 anos e santista o rei me proporcionou imensa alegria.
Pelé não morreu. Quem morreu foi o Edson. Pelé fica para sempre na história do mundo. O genial é imortal.
Pelé será sempre o Rei do futebol.
Meus sentimentos à família e ao Brasil.
OBRIGADO AUGUSTO!
Vamos pedir a BP para divulgar e exibir o documentário do Aníbal Massaíni, pelo menos.
Eu vi Pelé ao vivo! Agradeço a meu Pai e Tios e lhes peço que o acompanhem aí nas alturas. 🙏👏🇧🇷⚽💪🙌😀
Com todo respeito Augusto:
*deus
*deus
*deus
Muito obrigado pelo texto, Augusto Nunes. Belíssima escrita, lembra-me Armando Nogueira e Nelson Rodrigues. Não só pela beleza da escrita como pela homenagem a Pelé. Meu pai sempre me levava aos jogos para “ver o Pelé jogar”. Não interessava o adversário do Santos, e nem mesmo o Santos. Tratava-se de “ver o Pelé”. E dizia: “Repara, ele não baixa a cabeça, não dobra a coluna, sempre mata a bola no peito para a frente, nunca para dentro ou para trás”. Era capaz de ter nos músculos os próximos três lances, antes que zagueiros ou goleiros fossem capazes de saber o que se passava. Tenho por ele a maior gratidão, não só pela beleza de suas jogadas e pelo prazer inigualável de vê-lo praticar sua arte, como pelos momentos ao lado de meu pai, motivados pela alegria de ver Pelé. Um mundo sem Pelé é um mundo com muito menos arte. Muito triste essa perda, que nos torna muito mais órfãos. Obrigado novamente pelo texto.
Kacete augusto nunes ,vc levou um homem de 66 anos de idade que viu Péle jogar ,a chorar como havia muitooo tempo não o fazia ,SACANAGEM .,mas essa foi do bem
Se eu tivesse um filho marginal eu queria que o mesmo fosse para a prisão e quanto a filha, ele simplesmente colocou o seu pedaço de carne em um outro pedaço de carne e apareceu décadas depois a sua “filha amorosa e carente de uma figura paterna, é gorpi”.
Você é nojento!
Obrigado Pelé!
Pra você bom mesmo era aquele vigarista drogado do Maradona.
Pelé virou sinônimo de excelência. Um homem que descobriu o seu propósito na Terra, aceitou a missão ainda garoto e cumpriu com maestria o seu desígnio.
Sejamos todos Pelé.
Augusto Nunes, Deus com letra maiúscula?
acho engraçado apontar os eventuais desvios de um herói… de uma lenda… de um imortal para o esporte… um verdadeiro deus das quatro linhas..
acho engraçado num país como esse…em que se enaltece ladrões…
chego a rir.. um mix de tristeza e incredulidade…
R.I.P Pelé.. obrigado!!
Sensacional, Mestre !!!
Meu ídolo, eterno! Defeitos como qualquer um de nós, mas a mim não compete julga-los. Uma vez em Araraquara, o Edson muito gentilmente aceitou tirar uma foto com a molecada, virou poster na sala de minha mãe. Meus sentimentos aos familiares e entes próximos, e agradeço aos céus pela oportunidade de permitir Pelé viver entre nós!
Saiu da vida e entrou na história.
Salve Pelé!
Excelente matéria. Ousaria dizer que a notícia do falecimento de um ídolo brasileiro não merecia associação com o narcotráfico político atual, mas o momento se faz necessário e justifica!
Bom a ser julgado, renegou ao máximo o filho, que foi preso e não ajudou e a filha que fez, prova de um DNA. Teve seus defeitos nada é perfeito.
Errare humanum est!