(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 11 de setembro de 2022)
A comemoração dos 200 anos de independência do Brasil no dia Sete de Setembro, para dizer as coisas como elas são, foi um gigantesco comício nacional em favor da candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição – as maiores demonstrações de massa que o Brasil já teve desde o Sete de Setembro de 2021, quando multidões equivalentes já tinham ido para a rua com o mesmo propósito. Não houve, desta vez, as tentativas de usar fantasias sobre a quantidade de pessoas presentes para anular as realidades visíveis a olho nu. As fotos e os vídeos, feitos de todos os ângulos e perspectivas, substituíram as “análises políticas” sobre o que as pessoas estavam vendo – ficaram presentes, apenas, as imagens e o fato indiscutível de que a praça transbordou no dia Sete de Setembro. Foi muita coisa. Em poucos lugares no mundo, na verdade, pode acontecer algo parecido hoje em dia.
A tempestade enfurecida de rancor, de despeito e de ressentimento que as manifestações despertaram junto ao ex-presidente Lula, à sua campanha e à esquerda em geral são o certificado mais instrutivo sobre a vitória que a candidatura de Bolsonaro teve no dia Sete de Setembro. Não deu para dizer
que o público não foi para a rua. O público foi acusado, então, de ir para a rua. “Deprimente”, “dia triste para o Brasil”, “motivo para chorar”, “retrocesso político”, “ato contra a democracia”, “reunião da Ku Klux Klan”, segundo disse Lula – e por aí se vai, numa condenação explícita à liberdade das pessoas em manifestar sua opinião, apoiar o seu candidato e fazer as suas escolhas políticas. Mas não deveria ser exatamente assim, numa democracia de verdade? Qual é essa tragédia toda que estão vendo no fato de mais de 1 milhão de pessoas, possivelmente, terem participado de manifestações de massa em todo o país sem violência, sem incidentes, sem provocar um único BO policial? A ira contra o que aconteceu no dia Sete de Setembro – essa sim, é trágica. Ela diz muito, ou diz tudo, sobre o que a esquerda nacional realmente acha do povo brasileiro: uma massa de gente desqualificada e sem vontade própria, que não se comporta como prescrevem os analistas políticos, totalitária e incapaz de votar corretamente numa eleição para presidente da República.
Por que a esquerda, em vez de ficar odiando a multidão que foi à rua para
dizer que quer votar em Bolsonaro, não faz uma manifestação igual? Esta
é a questão que continua sem resposta. Estão querendo uma eleição sem povo – só com os ministros Moraes, Barroso e Fachin, advogados com influência no TSE, briguinhas no horário eleitoral e mais do mesmo. O Sete de Setembro veio para atrapalhar.