A fabricante de aviões brasileira Embraer aproveita o momento de crise de sua concorrente, a norte-americana Boeing, para explorar um novo modelo de jato. O objetivo é desafiar o duopólio de grandes aeronaves que domina a indústria há quase três décadas, o que inclui a fabricante europeia Airbus.
De acordo com o jornal norte-americano The Wall Street Journal, as avaliações internas da empresa brasileira mostram que a Embraer possui recursos tecnológicos e poder de fabricação para desenvolver uma aeronave de fuselagem estreita, ou narrow-body, de próxima geração.
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O avião de fusilagem estreita possui uma cabina que mede entre 3 m e 4 m de diâmetro, com filas normalmente de dois a seis lugares ao longo do aparelho, com corredor central. Aviões desse tipo costumam ter capacidade média até 150 lugares. A maior aeronave de fuselagem estreita é o Boeing 757-300, com capacidade de até 295 passageiros.
A novidade da Embraer seria a primeira no segmento de mercado, segundo pessoas familiarizadas com a estratégia e o planejamento da companhia. A empresa tem um valor de mercado de cerca de US$ 5 bilhões, com foco em jatos regionais e executivos.
Voa, Embraer
A aeronave competiria em pé de igualdade com os sucessores do 737 MAX da Boeing e do A320 da Airbus, em uma categoria fundamental para ambas as fabricantes.
A luz verde do projeto também representaria potencialmente novos programas de aeronaves. O custo de desenvolvimento desses projetos normalmente valem dezenas de bilhões de dólares. Além disso, podem levar mais de uma década desde o início até o uso e acabam não chegando ao mercado.
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Embora os planos ainda estejam no início, a Embraer vem preparando as bases, incluindo a avaliação de possíveis requisitos de carga e alcance.
A empresa também sondou potenciais parceiros financeiros e industriais, incluindo o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e empresas de manufatura na Turquia, na Índia e na Coreia do Sul.
Um porta-voz da Embraer disse ao Wall Street Journal que, embora a empresa “certamente tenha a capacidade de desenvolver uma nova aeronave narrow-body“, não há planos para um novo projeto considerável neste momento e o foco está em vender seus modelos existentes.
Boeing enfrenta turbulências
As ambições da Embraer se acentuaram nos últimos meses, em um momento em que a Boeing enfrenta crises. Uma delas veio depois que um jato 737 MAX operado pela Alaska Airlines perdeu um painel de fuselagem em pleno voo.
O acidente levou as agências de segurança aérea dos Estados Unidos a impor limites às instalações de fabricação da Boeing. O caso gerou uma mudança executiva, até mesmo a renúncia do executivo-chefe, David Calhoun.
A situação de crise ocorre em um momento em que as companhias aéreas em todo o mundo estão em uma onda de gastos pós-pandemia.
Os executivos da Boeing já tinham planos para recuperar algumas dessas perdas ao bater a Airbus no mercado com uma aeronave de próxima geração. Contudo, a Boeing não tem um plano concreto de como substituirá sua linha 737 de décadas.
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Calhoun avaliou que a empresa precisaria de cerca de US$ 50 bilhões para desenvolver um sucessor do 737 MAX, dinheiro que a fabricante endividada atualmente não tem.
A Embraer ainda é um ator relativamente pequeno no mundo da fabricação de aeronaves, em comparação com a Boeing e a Airbus. No ano passado, a empresa entregou 181 jatos aos clientes; a Boeing, 528; e a Airbus, 735.
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A Airbus revelou que há progressos para a comercialização de seu próprio narrow-body na segunda metade da década de 2030. A fabricante europeia, a maior do mundo, tem explorado várias opções de atualizações que podem aumentar a eficiência de combustível entre 20% e 25%, em comparação com o modelo atual do A320neo, incluindo um novo desenho de motor e de asas.