O nome Adílio significa seguidor de Átila, o rei dos hunos, em latim. Do francês, quer dizer fidalgo. Ainda que Adílio, em campo, tivesse o desejo de um guerreiro e o estilo de um nobre, seu nome, para a torcida do Flamengo tem um só significado: ídolo.
Adílio morreu nesta segunda-feira, 5, aos 68 anos, no hospital na Freguesia de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, depois de alguns meses de luta contra um câncer de pâncreas.
A tristeza pela morte do ex-craque se contrapõe, guardadas as proporções, à vibração com a histórica conquista, nesta mesma segunda-feira, do ouro olímpico no salto da ginasta Rebeca Andrade, do Flamengo.
No Flamengo, Adílio fez parte da geração mais vencedora da história do clube, uma equipe que marcou época no futebol, cuja base era: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Esta equipe, que entre outros, foi campeã mundial e da Libertadores em 1980, depois de se consagrar com o Campeonato Brasileiro de 1980. Adílio era o seu maestro.
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Zico, o craque do time, era o executor, mas a origem das jogadas ofensivas, os espaços descobertos, a categoria da armação dos lances de perigo passavam pelos pés e pela visão de jogo de Adílio.
Um gol de Júnior, pela seleção brasileira, contra a Alemanha, em 1982, no Maracanã, resume bem como Adílio encontrava espaços onde ninguém via. Ele recebeu a bola pelo alto e, por cima da defesa, lançou de leve para Júnior ajeitar e chutar forte. Se o futebol muitas vezes é comparado com arte, a figura de Adílio ilustra essa comparação.
A geração na qual Adílio foi um dos protagonistas, ficou conhecida como Geração de 81. Neste período, ele conquistou 10 títulos: três Campeonatos Brasileiros, uma Libertadores, um Mundial de Clubes e cinco Campeonatos Cariocas.
“Mais do que um ídolo, Adílio era parte da Nação e representou em campo e na vida o que é ser Flamengo”, declarou o Flamengo, em nota oficial nas redes sociais. “Todo rubro-negro tem o privilégio de poder reverenciar o ‘Brown‘ como integrante da prateleira mais alta do nosso panteão. Hoje, nos despedimos do nosso Camisa 8, mas para nossa sorte, assim como o traçado do número eternizado, Adílio é infinito.”
A notícia da morte de Adílio repercutiu também no Vasco, no Fluminense e no Botafogo, entre outros, rivais do clube carioca, que renderam homenagens nas redes sociais ao ex-jogador.
Identificação com o Flamengo
Adílio de Oliveira Gonçalves nasceu (15 de maio de 1956) e cresceu próximo à sede do Flamengo, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Em vez, no entanto, de morar em uma residência de alta classe social, comum no bairro, ele vivia na Cruzada São Sebastião, um conjunto habitacional no Leblon, erguido em 1955. Ele e a família foram realocados para lá depois de incêndio na favela Praia do Pinto.
Negro, morador da favela, apaixonado pela bola, Adílio simbolizava muito do que é o flamenguista. Terceiro filho de dona Laíde Gonçalves, desde menino era comparado a Pelé, nos jogos de várzea do bairro, pelo Sete de Setembro, time da Cruzada, e pelo Royal, time de futebol de areia da praia do Leblon.
Então surgiu o Flamengo, o início da carreira, a rápida consagração. A identidade de Adílio com o clube fez ele e sua geração jogarem por si e pelos outros. Sua fase áurea no Flamengo ocorreu entre 1975 e 1987. Depois, rodou por várias equipes, como Coritiba, Alianza de Lima, Avaí, com um retorno para o Flamengo, até encerrar a carreira em 1997, no Barra Mansa.
Adílio atuou em 651 jogos e fez 129 gols. No Flamengo, foram 451 jogos e 99 gols. Ele foi um dos condutores de uma equipe que pulsava junto com as arquibancadas. O espetáculo era apresentado de forma natural, como se time e torcida fossem uma coisa só.
“Ó, meu Mengão, eu gosto de você! Quero cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro- negro”, era o refrão que parece ecoar até hoje, mesmo quando o Maracanã está em silêncio.
Uma das maiores façanhas deste meia clássico foi ajudar a construir uma família tão grande, tão grande, que ela era do tamanho de uma nação. Por isso, neste dia de luto, a torcida do Flamengo reserva-se o direito de trocar o nome do clube pelo do seu ídolo. E gritar, a plenos pulmões: “Uma vez, Adílio, sempre Adílio!”
Eu o achava um craque mas infelizmente enfiou e ajudou o Zico a fazer gols no meu Fluminense !
Nossos heróis não estão morrendo de oberdose…
Que Deus o tenha por perto.