O volume de chuva esperado para o início deste ano não foi suficiente para encher os reservatórios do país. Por isso, o governo entendeu que chegara a hora de tomar algumas providências, como aumentar a conta de luz dos brasileiros, para desestimular o consumo, e acionar as hidrelétricas. Nesse ínterim, emergiram as possibilidades de racionamento de energia e apagão, prontamente descartadas pelas autoridades. O receio, porém, permanece.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), afirma que as crises no setor, que ocorrem há anos, se dão porque nos falta uma matriz energética que traga confiabilidade. “O Brasil depende de fontes intermitentes”, resumiu, em entrevista à Revista Oeste. “Dependemos muito do sol, da água e do vento. É preciso ir além”, constatou, ao ressaltar a urgência em privatizar a Eletrobras.
Confira, a seguir, os principais trechos da conversa com o especialista.
1 — Quais medidas de curto prazo o governo pode tomar para minimizar a crise que afeta o setor elétrico?
O Estado já está tomando várias medidas emergenciais: 1) despachar as térmicas; 2) pôr a bandeira vermelha no nível 2 para estimular a queda do consumo diário da população; 3) fazer campanha de incentivo do uso racional da água e da energia elétrica. É o que tem de ser feito. A única crítica que tenho é em relação ao tempo. Todas essas providências poderiam ter sido tomadas no início de abril deste ano. O grande desafio, agora, é tentar evitar que o nível dos reservatórios caia demais. A previsão é que chegaremos a novembro com 7,4%. Precisamos nos esforçar para que esse número seja de, no mínimo, 10%. Temos de fixar em mente que o problema não vai acabar tão cedo e procurar resolvê-lo quanto antes.
2 — E as soluções de longo prazo?
Repensar a atual matriz energética. A nossa é intermitente, ou seja, depende do clima para gerar energia. Isso porque abrimos mão da confiabilidade do sistema, no passado. Então, avalio ser necessário a volta de uma matriz mais equilibrada e diversificada. Entre outras opções, podemos incentivar o biogás e aumentar a participação da energia nuclear. O Brasil é um dos maiores produtores de urânio do mundo. Nossa matriz é 80% limpa. Será que essa porcentagem não é muito alta para um país que precisa se desenvolver? Assim, não teríamos de viver tantos pesadelos como o de agora. Em síntese, o país precisa de um meio-termo entre as energias renováveis e a confiabilidade de uma matriz mais diversificada.
3 — Há risco de racionamento de energia ou apagão no Brasil até o segundo semestre?
É difícil afirmar com exatidão. O racionamento é menos provável, em razão das medidas do Ministério de Minas e Energia. Contudo, um apagão não está descartado. Essa última hipótese pode ocorrer em nível nacional porque o sistema brasileiro é interligado.
“Não podemos ficar na mão do discurso ambientalista, que é bonito, entretanto não adequado para um país como o Brasil”
4 — Quais países possuem um setor elétrico desenvolvido que pode servir de modelo para nós?
Os Estados Unidos têm um sistema elétrico muito bem desenvolvido. Penso que temos de resolver os nossos problemas sem olhar para fora. No exterior, por exemplo, há uma onda ambiental fortíssima que trouxe coisas boas e ruins. A boa é que se olha mais para a qualidade de vida, como a busca por ar mais puro, com redução da emissão de gases etc. A coisa ruim é que caímos nas energias intermitentes, instáveis e menos seguras do ponto de vista de previsibilidade. Não podemos ficar na mão do discurso ambientalista, que é bonito, entretanto não adequado para um país como o Brasil.
5 — Em que o setor privado pode ajudar no problema?
O setor é fundamental porque tem capacidade de fazer investimento. Compete ao governo estabelecer políticas públicas com a finalidade de incentivar aportes nas térmicas, em energias a gás, solar, eólica, entre tantas outras. Quem gera riquezas são o povo e os empresários. Defendo a privatização da Eletrobras quanto antes. Estatais não têm capacidade de investimento. Temos de crescer e gerar empregos.
Leia também: “O sequestro da bandeira ambiental”, reportagem publicada na Edição 63 da Revista Oeste
“Gerar” energia não é o maior problema, assim como “depender de fontes intermitentes” tambem nao é…no Nordeste temos vento e sol a valer…nosso maior problema é a distribuição…
Já se falam em reatores nucleares de nova geração, que aproveitam até os resíduos nucleares já existentes em grandes quantidades e que representam um grande problema de estocagem é o que dizem por passivo ambiental. Dizem que esses novos reatores são muito mais seguros que os modelos antigos. Talvez seja por aí, uma das saídas para esse grande impasse. Palpite de um engenheiro civil, se for infeliz, não levem em conta.
Termelétricas a gás terão que participar da matriz energética, junto das áreas urbanas que demandam mais energia, para fazer o balanço nos horários de pico e meses de baixa produção nas hidrelétricas. Eliminando a Eletrobras, a burocracia por trás do aproveitamento de PCHs – pequenas centrais hidrelétricas deve diminuir e com isso mais energia barata produzida. Infelizmente, apesar do Brasil ter reservas imensas de Urânio que podem gerar energia limpa, as estatais envolvidas fazem o custo da energia ser dezenas de vezes mais cara, inviabilizando o seu desenvolvimento no país. Finalmente, a disseminação de bio-digestores e a eliminação de lixões com a produção de biogas / bioenergia é o caminho de se continuar a descentralização do grid e trazer a produção de energia para perto do consumidor, reduzindo os custos.
Ótima entrevista.
Concordo e gostei do que ele disse. O discurso ambientalista tem um único foco: travar o desenvolvimento e gerar miséria. Infelizmente é difícil de ser percebido por pessoas de bem