John of Wales, um teólogo franciscano que viveu no Século XIII, foi o primeiro a registrar sua existência e referir a desordem que esse espírito maligno provocava em manuscritos e cópias de monges medievais. O tal demônio não era responsável apenas por erros de ortografia, palavras fora de lugar e outros tumultos, mas também por maldizeres indevidos, por tartamudeios solertes, por cochichos sorrateiros e por desastrosas omissões, coisas que poderiam condenar os pecadores ao inferno das decisões desesperadas, pois o livre arbítrio, antes como agora, lhes permitia a escolha.
Hoje, Titivillus ainda reina, inclusive em tribunais superiores, na internet e nas redes sociais. E costuma dar as caras em qualquer processo eletrônico de escrita. É verdade que ficou para trás, bem mais recentemente, um tempo ainda pior. Ao ser apresentado ao Word, o dramaturgo Ariano Suassuna digitou seu nome e ficou desconcertado com a recomendação do computador para seu sobrenome: “Suassuna não existe, tente assassino”.
Será que Titivillus agora bagunça as pesquisas de intenção de voto? Há quatro anos, ele esteve em muitas delas. Nas eleições para governador do Rio de Janeiro, o Ibope dava 32% para Eduardo Paes, 20% para Romário e 12% para Wilson Witzel. Isto é, o segundo turno seria entre o ex-prefeito e o craque mundial e então senador Romário.
Mas as urnas não concordaram com as pesquisas e o segundo turno deu-se entre Paes e Witzel. O DataFolha, então, passou a dar 40% para Paes e 44% para Witzel. E errou feio de novo. O resultado foi 40,13% para Eduardo Paes e 59,87% para Wilson Witzel. Não havia nem sombra de empate técnico.
Houve muitos outros exemplos, com destaque para o fracasso da ex-presidente Dilma Rousseff em sua tentativa de eleger-se senadora por Minas Gerais. Davam-lhe por certa uma das duas vagas disponíveis, mas ela ficou em quatro lugar. O principal erro, porém, foi outro. As pesquisas de opinião informavam ao distinto público, fazendo as vezes de palhaços do grande circo brasileiro, que Jair Bolsonaro perderia para qualquer outro candidato, se fosse para o segundo turno, mas não iria.
O resultado ainda está fresco na memória de todos: o atual presidente foi eleito com 55,13%, quase 58 milhões de votos. E Fernando Haddad, seu adversário no segundo turno, teve empate técnico com as abstenções, somadas aos votos brancos e nulos. Isso foi em 2018. O que será em 2022, apenas quatro anos depois? A História tem variações curiosas e só se repete como farsa, dizem frases célebres.
Na década de 1970, Chico Buarque e Milton Nascimento fizeram sucesso com o “que será que será,/ que anda nas cabeças, anda nas bocas,/ Que andam acendendo velas nos becos,/ Que estão falando alto pelos botecos,/ Que gritam nos mercados que com certeza, / Está na natureza, será que será”.
Mas, bem antes, ainda nos anos 50, ganhou o Óscar de melhor canção original uma música que dizia assim: “Que sera sera,/ Whatever will be, will be,/ The future is not ours to see,/ Que sera sera, / What will be, will be” (O que será será/ Aquilo que for será/ O futuro não é só nosso,/ O que será será”).
Quando eu era menino, coroinha e depois seminarista, um padre alemão que ensinava latim traduzia assim: “O que será será / O futuro não é nosso para ver”.
*Professor e escritor, seus livros estão em www.almedina.com.br ou em qualquer livraria.
O futuro a Deus pertence.
Mas os indícios são de pesquisas erradas ou, ao menos, forçadas. As ruas estao verdes e amarelas quase nao se vê vermelho! (Ao que eu digo “Amém!”)