Patrícia Silva, de 36 anos, militou por menos de um no movimento feminista. “Abandonei-o ao perceber que não é adequado para as mulheres negras”, disse, em entrevista à Revista Oeste. Pós-doutoranda em sociologia, Patrícia decidiu estudar o grupo com profundidade e constatou que o ajuntamento é “racista”.
Para divulgar suas descobertas após a leitura de uma série de livros, Patrícia fez a página no Instagram “Preta de Rodinhas”. Ela ainda tem o curso Mulher, raça e classe, no qual aborda aspectos raciais e políticos do feminismo, além de expôr o que pensam as mulheres que não pertencem ao movimento.
A Oeste, Patrícia relembrou seu passado de militante, discorreu sobre os problemas do feminismo e orientou a direita a tratar a questão do racismo.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
1 — Como a senhora começou a se interessar pelo feminismo?
A minha fase feminista durou menos de um ano, entre 2016 e 2017. Desinteressei-me pelo ativismo quando percebi que o movimento não é adequado para as mulheres negras. Percebi no ativismo que havia somente um perfil que o feminismo entendia como mulher. Pensei: sou uma mulher preta e pobre, isso não é para mim. Além disso, algumas falas das militantes se diferenciavam do que eu acreditava. Por isso, passei a ler mais sobre o assunto a partir da ótica da exclusão da mulher negra do feminismo. Descobri que o meu problema com o feminismo estava além da questão da mulher preta e envolvia questões epistemológicas, sociológicas e filosóficas. Concluí que o feminismo não tem nada a ver comigo ou com outras mulheres.
2 — Qual é o maior problema do feminismo?
O mal que ele faz aos homens. A nossa geração é a mais fragilizada e emasculada. Até mesmo nas políticas públicas o feminismo consegue ser influente, obrigando o governo a direcionar pautas para as mulheres. Isso foi muito importante no decorrer da história, mas hoje não é tão necessário. Por exemplo: as políticas públicas de educação têm programas com foco nas mulheres. Atualmente, as mulheres correspondem a quase 55% do ensino superior. Os homens estão atrás delas, mas o Estado continua investindo em mecanismos para apenas um lado da moeda. O feminismo cria um lobby na estrutura estatal para ignorar os problemas masculinos, que são muitos. Os homens são os que mais morrem, evadem da escola, entre outros problemas.
3 — Existe “feminismo negro”?
Sim. Trata-se de uma vertente desenvolvida na segunda onda do feminismo, entre 1960 e 1970. As mulheres negras observaram que suas demandas não estavam sendo atendidas pelo feminismo. O movimento se preocupava somente com o sexismo e ignorava o racismo. Assim, nasceu uma vertente chamada de “feminismo negro”. Naquele contexto, existia um machismo no movimento negro e o racismo no feminismo. Atualmente, não entendo o porquê da necessidade desse feminismo negro, sendo que há diversas intelectuais negras que poderiam formar um movimento qualquer que não fosse o feminismo negro. Existe uma epistemologia chamada de “mulherismo africana”, desenvolvida pela professora dos EUA Clenora Hudson, que entende que o feminismo negro é uma contradição. No “mulherismo africana”, a família e o homem não são opositores da mulher, ao contrário do feminismo que enxerga no homem o “pecado original”. Ao analisar toda a situação do racismo no feminismo, faz mais sentido que a mulher negra se aproxime desse “mulherismo africana”. A professora Djamila Ribeiro, a principal liderança do feminismo negro do Brasil, já disse várias vezes que foi vítima de racismo no movimento. Na história, o feminismo apoiou uma política eugenista em vários países, como: Índia, Costa Rica, México e os EUA. Existe um perfil de mulher desenhado para o feminismo e ele é uma mulher branca e de classe média.
“A esquerda se apropriou da pauta racial porque a direita nunca quis sentar para discutir o tema”
4 — Você diz que faz uma abordagem negra do feminismo. Por quê?
Não falo sobre minha opinião, mas sobre o que aconteceu. Na história, temos a ativista Margaret Sanger, que apoiou o controle de natalidade nos EUA e tornou-se a fundadora da primeira clínica de aborto do país. Dezenas de mulheres latinas e negras foram esterilizadas à força com o endosso do feminismo. Isso não é uma opinião, está na história. Além disso, na primeira onda do feminismo, temos as sufragistas que soltaram todos os impropérios racistas quando os homens negros ganharam o direito ao voto. As grandes sufragistas, como Elizabeth Stanton e Lucretia Mott, não admitiram que os homens negros conseguissem o voto antes delas. Para elas, era um afronto civilizacional. Os homens só conseguiram votar porque foram para a guerra. As sufragistas da primeira onda não queriam o voto para todos, mas somente para elas.
5 — Como a direita brasileira pode tratar a questão racial?
Primeiramente, ela tem de reconhecer que o racismo existe. A esquerda se apropriou da pauta racial porque a direita nunca quis sentar para discutir o tema. Só tem um lado do espectro tomando conta do pior jeito possível. Até os negros de esquerda falam que a esquerda não é antirracista. A ativista negra Sueli Carneiro, na década de 80, já visitava comícios do PT para falar sobre isso. E mesmo com tudo isso, a esquerda é a única que ainda dá alguma sinalização sobre o tema racial. No entanto, o conservadorismo inglês e o americano não tratam o racismo como “mimimi”. Só no Brasil é assim. Se a esquerda trata esse tema com esquizofrenia, a direita também tem parte por ignorar o racismo. A esquerda sequestrou o tema racial porque a direita nunca quis participar dele. Quando a direita começar a pautar esse debate, a esquerda vai acabar.
Uma pessoa negra sente na pele o racismo. Quem está de fora e não é racista, não enxerga racismo importante no Brasil. Machado de Assis e Pelé mostram que o negro pode se realizar com pessoa e profissional, até ser presidente do STF. Mas uma coisa é certa, os gigolôs dos negros não se importam que o racismo, pelo alimentam para faturar.
Parabéns Patrícia pela sensata visão dos temas que trouxe. Moderação, profundidade e pragmatismo sobre a condução do racismo e feminismo é o que mais precisamos, e foi o que percebi em suas palavras. Sucesso!
COM ESSE PAPINHO DE RACISMO NO BRASIL, E IMPORTADO DOS IANQUES, O ÍNDIO É QUEM MAIS LEVA NO BUTICO.
“Atualmente, as mulheres correspondem a quase 55% do ensino superior. Os homens estão atrás delas, mas o Estado continua investindo em mecanismos para apenas um lado da moeda.”
Na reforma da previdência isto ficou muito claro.O protecionismo estatal às mulheres impediu que uma injustiça fosse corrigida:a injustiça da idade mínima para a aposentadoria.Porém,ao contrário da socióloga,eu acho que tem método nessa preferência do estado às pautas direcionadas às mulheres.Não acredito na bondade ou sensibilidade do estado.Tem método.
Igualdade é composta de liberdade de pensamento e meritocracia.
Respondendo à entrevistada … o grande problema do feminismo é o ódio ao homem certamente por milênios de opressão … apenas isto.
Não conheço essa mulher. Sendo nomeada pelo Lula, fico com um pé atrás. Acho que a discussão sobre preconceitos não passa pela direita e pela esquerda. Quem tem que comparecer ao debate são pessoas livres e desligadas de grupos políticos ou ideológicos. O Brasil é grande e as diferenças culturais aparecem em cada cantinho. Veja que aqui no Sul em pelo menos duas cidades onde 90% da população é descendente de imigrantes alemães foram eleitas e reeleitas duas prefeitas negras. Além disto, o maior número de crimes contra negros são em estados e cidades onde a população é negra. Temos que ser pragmáticos e considerar que existem outras alternativas e outras políticas públicas (e também privadas) que poderiam ajudar nesta questão emblemática. Além de tudo, a maioria da população brasileira é descendente de indíos, incluindo negros. Várias familias brasileiros têm entre seus membros mais diretos, filhos, filhas, netos e netas, uma combinação étnica maravilhosa que torna tudo isto um patrimônio cultural que não pode ser manipulado por leis e imposição de regras comportamentais. Olhar uma pessoa brasileira com todo seu histórico cultural não precisa ser catalogado por cor, religião, sexo ou idade. As expressões Povo Brasileiro ou Gente Brasileira bastaria.
Perfeita colocação!