A idade já não é mais desculpa para desistir do sonho de estudar. Segundo o mais recente levantamento do Censo da Educação Superior, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a quantidade de idosos matriculados em cursos de graduação aumentou cerca de 50% entre 2015 e 2019.
Os baby boomers — a geração que nasceu no fim das décadas de 1940 e 1960 — são prova viva do crescente desejo de continuar conquistando ou atualizando conhecimentos e habilidades. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 16 milhões de brasileiros eram analfabetos nos anos 1960, quando o estímulo aos estudos, sobretudo entre as mulheres, não era tão incentivado quanto agora.
“Os idosos do Brasil de hoje são os jovens que não foram educados adequadamente no passado”, afirma o médico Paulo Camiz, geriatra e professor da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o Japão, país com a maior proporção de idosos do planeta, conseguiu alfabetizar 90% da população há alguns séculos. Em contrapartida, o Brasil somava, em junho de 2019, aproximadamente 20% de analfabetos funcionais nessa faixa etária, segundo o IBGE.
Com o passar do tempo, o termo “velhice” começou a deixar de ser considerado sinônimo de doença e inatividade. Instituições brasileiras dedicadas ao estudo exclusivo de idosos, como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), contribuíram para a noção de que o cérebro funciona como um músculo: precisa de exercício constante para se manter ativo. E a melhor forma de estímulo seria por meio dos estudos.

“Da mesma maneira que peço a realização de atividade física regular para os meus pacientes, também recomendo que eles realizem uma atividade intelectual regular”, explica Paulo Camiz. O geriatra afirma que doenças mentais que potencializam a demência, como o Alzheimer, podem ser evitadas caso uma pessoa mantenha um certo nível de escolaridade. Segundo o médico, para um envelhecimento saudável, os idosos precisam “desafiar o cérebro” — uma das propostas da Universidade Aberta à Pessoa Idosa (Uapi), programa educacional oferecido por instituições de ensino superior espalhadas por todo território nacional.
Faculdade para a vida
Quando mais nova, Antonieta Jou de Souza escutou do próprio pai que as mulheres não precisavam frequentar a escola nem trabalhar. Aquelas que decidiam ir na contramão do pensamento da época eram apelidadas de “malfaladas”. Mas hoje, aos 82 anos, a representante comercial mostra que não existe idade certa para continuar estudando.
O caminho até a universidade não foi fácil. Quando seus filhos começaram a estudar, ela pediu ao marido para entrar na faculdade. “Ele até concordou, mas com duas condições: não poderia frequentar cursinho para o vestibular e a faculdade escolhida não seria para fins profissionalizantes”, afirmou Antonieta, que acabou aceitando as exigências. A escolha, por fim, foi o curso de letras orientais, na USP.
Antonieta de Souza seguiu carreira em outras áreas profissionais, até a terceira idade. “Foi então que minha filha me falou sobre a Uapi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)”, relembra. “Eu me inscrevi e me surpreendi. Era faculdade para a vida, de quem já nada esperava dela.”
Segundo Cláudia Ajzen, psicóloga e coordenadora da universidade para os idosos na Unifesp, o programa aborda temas extremamente variados em sala de aula, mas que buscam sempre a promoção da saúde. “Trabalhamos respiração, meditação, interpretação de sonhos e debates de filmes”.
Espaço de inclusão
Diferente do método seletivo tradicional da graduação, é possível entrar na Uapi por meio de processos mais facilitados. Para garantir uma vaga exclusiva à terceira idade, a pessoa precisa ter mais de 60 anos. Ou, no caso da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), estar acima dos 55 anos. As universidades costumam abrir as inscrições no começo do ano e criam listas de espera, caso a demanda seja alta. Além disso, participam mais mulheres do que homens. Em algumas instituições de ensino, não há sequer presença masculina.
O perfil dos alunos também é bastante diversificado. Fazem parte do curso desde pessoas que chegaram a realizar mestrado e doutorado, até outras que nunca sequer estudaram ou pararam no meio do caminho ainda quando jovens.
“Acredito que o estudo é muito importante, mas eu não tive essa oportunidade”, conta Guilhermina Maria dos Santos, de 68 anos, aluna do programa de extensão para idosos da UFTM. “Me interessei pela universidade porque eu estava com fibromialgia (doença manifestada por dores no corpo) e fui diagnosticada com depressão. Uma colega me recomendou o programa para distrair um pouco. Vim para cá no final de 2018 e gostei.”
Todas as quintas-feiras, das 13h30 às 17h30, os idosos comparecem à UFTM para participar de cursos, que, assim como na Unifesp, também promovem a saúde. Eles também aprendem inglês, matemática financeira e já tiveram aula de informática, para identificar mensagens enviadas por golpistas na internet.
Lisley Patrícia, fisioterapeuta e coordenadora do programa da UFTM, conta que a proposta é fazer com que os alunos compareçam presencialmente à universidade, onde eles terão variados estímulos cognitivos e motores. “Mas suponho que a grande motivação seja realmente socializar”, explica. “Muitos deles temem a demência, então querem continuar estimulando a mente.”

Para além da qualidade de vida e do desejo de estudar, existem ainda outros motivos que levam os idosos a participarem de projetos de extensão: realizar sonhos não concretizados na juventude, criar vínculos, sentir-se acolhido e ocupar o tempo livre são os mais citados. “Na minha época, a gente não construía muitos relacionamentos. Fui criada assim, sem inclusão com outras pessoas”, desabafa a aluna Guilhermina Maria.
No fim, todo mundo ganha
Os idosos não são os únicos a se beneficiar das universidades inclusivas. Os familiares dos alunos também saem ganhando com os programas educacionais, segundo o geriatra Paulo Camiz. Com mais de 35 milhões de brasileiros acima dos 60 anos, conforme dados do IBGE, estimular a educação dessa faixa etária pode economizar gastos com saúde.
“Imagina quanto uma sociedade não deixa de produzir conforme aumenta o número de pessoas com um quadro demencial”, explica o médico. “Pessoas mais educadas têm mais acesso à informação e, proporcionalmente, tendem a se cuidar melhor.”
Muito bom!
Como a finalidade, em princípio, não é a de preparar alguém para o mercado de trabalho, o esforço das atividades fica centrado à exercícios cerebrais, onde atuam melhorando principalmente a auto estima.
Se espera que também não sejam, tais cursos e atividades, cooptadas por docentes doentes marxistas, já que, ao invés de abrirem cabeças e permitirem a possibilidades de observações mais pertinentes em relação à vida, embotariam as cabeças ao disseminarem suas próprias doenças mentais!
Mais uma obra de Deus para salvar a geração deseducada pelo método Paul-lixo.
Com certeza os alunos mais jovens vão receber os valores perdidos na falta de educação moral e cívica.
Ah…..o Q.I médio nas faculdades vai aumentar substancialmente.
Mais um motivo para mandar Lula de volta à escola.