Modalidade criminosa rende apelido nada honroso à região de Campinas, no interior paulista
Todos os dias, 15 caminhões carregados são assaltados no Estado de São Paulo. Em geral, os baús transportam materiais valiosos, como eletro-eletrônicos, e boa parte dos veículos é abordada numa área apelidada de “Triângulo das Bermudas”, próximo ao Aeroporto de Viracopos, na região de Campinas (SP).
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Na média de setembro, por exemplo, somente a região de Campinas registrou mais de um caso por dia desse tipo. Foram 38 casos de roubo de carga no total. Número que representa queda de 11,6% em relação ao do mês anterior, quando houve 43 roubos, informa a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP).
A queda está até acima da média de todo o Estado. De agosto para setembro, o roubo de cargas encolheu 10,5%. Esse tipo de ocorrência recuou de 478 para 428. Ou seja: menos 50 casos — o que faz, momentaneamente, a média diária cair de 15 para 14.
“Triângulo das Bermudas”
Não é de hoje que a região de Campinas chama atenção — negativamente — quando o assunto é roubo de cargas. Em 2013, o presidente do Sindicato das Empresas de Escolta do Estado de São Paulo (Semeesp), Autair Iuga, cunhou a expressão “Triângulo das Bermudas” para definir a localidade, em referência à área do Caribe misticamente conhecida por contabilizar inúmeros sumiços de aeronaves e embarcações.
Na versão paulista do Triângulo das Bermudas, há registro de casos cinematográficos. Em março de 2018, o Aeroporto Internacional de Viracopos foi invadido por cinco homens armados com fuzis. Protagonista de ação que durou seis minutos para ser finalizada, o bando interceptou uma carga que estava sendo transferida de um avião para um carro-forte. Os bandidos fugiram levando mais US$ 5 milhões.
Quando se fala de Campinas, roubo de cargas e aeroporto, o caso de dois anos atrás não foi fato isolado. Somente em 2015, Viracopos foi palco de pelo menos três ações criminosas semelhantes. Em um dos atos, os bandidos levaram o equivalente a cerca de R$ 11 milhões em processadores de aparelhos celulares.
Aviões e caminhões
Os roubos de carga, no entanto, não migraram totalmente para o aeroporto da região. Nas rodovias, caminhões seguem na mira de criminosos. E em Campinas há um “prato cheio” para a bandidagem. A cidade conta com o chamado Terminal Intermodal de Cargas (TIC), estrutura em que ao menos 90 empresas de transporte e logística mantêm suas bases.
“O roubo de cargas é mais um fenômeno criminal”, diz Lucca, em contato com o site da Revista Oeste. Segundo ele, a modalidade ganhou espaço depois de sequestros, assaltos a bancos e explosões de caixas eletrônicos terem sido preferências de assaltantes. Com a expansão do comércio eletrônico no país, que movimenta os setores de transporte e logística (e produtos de “elevado valor agregado”), esse tipo de crime ganhou vez.
O ex-comandante do Gate afirma, assim, que “num primeiro momento” o roubo de cargas “virou um grande negócio”. Em relação direta a Campinas e região, ele destaca que, além do TIC, há diversos centros de distribuição de grandes empresas. Isso faz o crime organizado ficar alerta e agir não só para roubar equipamentos eletrônicos, como celulares, mas também para interceptar entregas de produtos como defensivos agrícolas e até alimentos e medicamentos.
Fenômeno que tende a perder força
Diógenes Lucca pondera que a tendência é que os casos de roubos de carga diminuam no decorrer do tempo no “Triângulo das Bermudas” campineiro, no Estado de São Paulo e em todo o Brasil. A análise demonstra sintonia com os dados atuais, pois, em vez da média de 14 ou 15 roubos diários, 2019 fechou esse indicador em 20. Ele enfatiza que nenhum bandido investe em ações em que o risco de ser identificado ou detido seja alto.
E esse risco está aumentando, avalia. “As empresas começaram a se reestruturar. Contam com escolta armada e melhoria de procedimentos internos”, observa Lucca, sem deixar de citar a proveitosa parceria das empresas de transporte e logística com as concessionárias de rodovias, que disponibilizam tecnologias que contribuem para inibir práticas criminosas e ajudam (com câmeras, por exemplo) autoridades a identificar determinada ação suspeita. Ou seja: ele acredita que o “Triângulo das Bermudas” pode voltar a ser apenas a região de Campinas.