Em Tabatinga, no Amazonas, a seca dos rios revelou pelo segundo ano consecutivo as ruínas do Forte de São Francisco. Trata-se de uma construção portuguesa do século 18 situada à margem esquerda do Rio Solimões. A cidade, na tríplice fronteira do Brasil com Colômbia e Peru, está a 1,1 mil km de Manaus.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, baseada em relatório do Serviço Geológico Brasileiro, o nível do Solimões recuou 94 cm, o menor já registrado na região.
Divulgado no último dia 30, esse número negativo não significa a ausência de água, mas reforça que está abaixo do parâmetro de referência da estação de medição local.
As ruínas do Forte de São Francisco, compostas principalmente por partes de paredes de alvenaria, estão próximas ao porto de Tabatinga.
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Alguns artefatos, como três canhões, estão no Comando de Fronteira Solimões, também conhecido como Batalhão Forte de São Francisco. O nome é homenagem a Francisco Xavier, que iniciou a ocupação militar na região.
Conforme registros do Batalhão de Tabatinga, o Forte foi fundado em 1776 pelo Sargento-Mor Domingos Franco, ao lado de uma aldeia dos jesuítas. A construção foi ordenada pelo então governador da então Província do Grão-Pará e Maranhão, Fernando da Costa de Ataíde e Teive Sousa Coutinho.
Forte no Amazonas está mais “visível”, diz historiador
O escritor e historiador Luiz Ataíde, que estuda a região há décadas, observa que, enquanto em alguns anos aparecem apenas fragmentos do forte, desta vez toda a estrutura está visível. “A coroa portuguesa ergueu o forte para delimitar a sua expansão na região, conforme o Tratado de Madrid”.
O Tratado de Madrid, assinado em 1750 entre Portugal e Espanha, definiu os limites territoriais na América do Sul. Ataíde diz que o forte foi inicialmente construído com taipa e coberto com palha.
Posteriormente, passou a ter partes de alvenaria. A estrutura foi usada por mais de um século até desabar em 1932 em razão de enchentes no Rio Solimões.
Preservação é um dos desafios
Durante a seca de 2023, técnicos do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitaram o forte e registraram suas informações no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos.
Conforme a instituição, a construção era de madeira grossa, com partes de pedra e formato hexagonal irregular. Das nove peças de artilharia originais, cinco ainda existem, sendo duas expostas no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e três no Quartel do Comando de Fronteira do Solimões.
Apesar dos esforços do Iphan, Luiz Ataíde ressalta que o local ainda está vulnerável e pede mais atenção para sua preservação. “Nesse período de seca, algumas pessoas visitam a área e têm o costume de pegar alguma coisa para levar embora”, disse o historiador. “Seria importante que houvesse uma ação, talvez até da prefeitura de Tabatinga, para preservar esse monumento.”
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