Uma torcedora do Irã foi abordada por guardas nesta sexta-feira, 25, depois de exibir uma camiseta da seleção do país com o nome da iraniana Mahsa Amini, morta em setembro deste ano, após ser presa pela polícia por supostamente não usar o hijab (véu islâmico).
A torcedora assistia ao jogo do Irã contra o País de Gales no Estádio Ahmad Bin Ali, no Catar. O momento foi flagrado por diversos fotógrafos que estavam no local.
Ao lado da mulher estava um rapaz, que segurava uma bandeira iraniana com a seguinte mensagem: “Liberdade para as vidas femininas”. O guarda abordou ambos e os impediu de realizarem o protesto pacífico.
Durante a partida, outras torcedoras também levaram mensagens de protestos. Uma iraniana que reside no Canadá ergueu uma bandeira com a frase “Liberte o Irã”. Já em sua camiseta estava escrito “Liberdade para as vidas femininas” — lema da onda de protestos que tomou conta do Irã.
Outras três torcedoras foram ao jogo usando camisetas pretas com a seguinte escrita “Liberdade para as vidas femininas”, em idioma persa, língua oficial do Irã.
Os jogos da seleção iraniana na Copa do Mundo têm sido carregados de ativismo político por parte da torcida. No primeiro jogo do Irã, os jogadores permaneceram em silêncio enquanto hino nacional tocava. O ato foi visto como um sinal de apoio à indignação da população.
Hoje, o time cantou timidamente o hino e a torcida se dividiu entre vaias, apoios e choros.
Entenda o caso
O Irã vive a maior onda de protestos no país desde 2009 — na Primavera Árabe. Neste ano, milhares de pessoas estão nas ruas a favor dos direitos das mulheres iranianas. O estopim foi a prisão e morte de Mahsa Amini, 22 anos.
A jovem foi detida em Teerã, capital do país, por supostamente violar as regras do uso do véu islâmico. Policiais alegaram que Mahsa sofreu um ataque cardíaco durante a prisão, para que, nas palavras dos agentes, fosse “convencida e educada”. Eles negaram que ela tenha sido agredida.
Ativistas, no entanto, afirmam que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com uso de espancamento contra as mulheres. A menina ficou em coma, não resistiu e morreu.
O primeiro grande protesto aconteceu depois do funeral de Mahsa, na cidade de Saqqez, no oeste do Irã. De lá para cá, muitas mulheres assumiram o protagonismo e passaram a andar com a cabeça descoberta.
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Agora, outros grupos de manifestantes têm novas exigências, chegando a pedir a deposição do Estado iraniano. Recentemente, o governo autorizou que manifestantes fossem condenados à pena de morte.
A primeira pessoa a receber a punição não teve seu nome divulgado, mas em 14 de novembro foi ela punida “por perturbar a ordem e a paz da comunidade e cometer um crime contra a segurança nacional”.
No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir seus cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.
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