Certamente não é fácil relatar o acontecimento no Rio Grande do Sul, especialmente quando vemos milhares de vidas envoltas em um caos gigantesco. Os números indicam mais de cem pessoas falecidas e outras centenas desaparecidas ou sem contato, mas claramente este número será muito maior quando o quadro final estiver estabelecido. As perdas de infraestrutura, residências, produção agrícola foram assombrosas, mas a vida ceifada destes brasileiros é irreparável.
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Em meio a isso tudo, temos que continuar com o nosso trabalho de alerta e vigília, pois os alarmistas de plantão aproveitam da situação de dor e de destruição para capitalizarem sobre o sofrimento alheio de mortes e destruição, com seus discursos em prol da falaciosa agenda climática. Neste trabalho vil, escancaram a sua face nefasta, confundindo as pessoas, além de amedrontá-las ainda mais com o seu terrorismo barato.
Alguns ainda ousaram dizer “basta, precisamos tomar as providências imediatamente”, enquanto outros, incluindo os que se dizem cientistas da laia da religião do aquecimentismo, expressam suas advertências toscas e genéricas, sem nenhuma objetividade, simplesmente lançando frases de efeito como “eu avisei!”. Avisou o quê? Que iriam acontecer fenômenos meteorológicos intensos? Eles sempre acontecerão, pois fazem parte da história do planeta. Por isso, quando perguntamos aos impostores, “onde e quando?”, eles simplesmente fogem, desmascarados por usarem a “lógica da mamãe”, aquela que, depois de centenas de falsas advertências, um dia acerta.
Se isso não fosse suficiente, ainda vemos o despreparo generalizado da propagação do absurdo, não só incluindo os jornalistas desqualificados, mas até mesmo profissionais da área. Trata-se da confusão em relacionar clima com um quadro meteorológico de amplas proporções, que é o que se observou nesse caso. Um dos “especialistas” que se travestiu de meteorologista, quando na verdade não o é, chegou a relatar na mídia que a ocorrência atual, incluindo a presença de um ciclone extratropical, era um exemplo de “evento climático extremo”, como classificou erroneamente!
Assim, tais sujeitos de qualificação duvidosa relatam o que não sabem, já colocando o quadro que passamos como uma consequência das “mudanças climáticas” quando, na verdade, devem ser avaliados pela combinação de elementos meteorológicos com a estação sazonal climática atual de outono. Adiciona-se ao cenário as condições pretéritas de elementos de maior peso, incluindo fenômenos globais e suas outras relações, onde seus indicadores deixaram resquícios ou pistas, meses atrás. O CO2 nada tem a ver com esta história!
A situação pretérita
Água nesta quantidade que assolou o Rio Grande do Sul teve sua origem no mar e é lá que começamos a investigar. O oceano Atlântico tropical e suas adjacências no Hemisfério Norte estiveram mais aquecidas pela ausência de nuvens como consequência da intensificação de seu anticiclone semipermanente. Devemos lembrar que a temporada 2023 de ciclones tropicais no Atlântico foi prognosticada com um número maior de ocorrências, mas essas não se concretizaram.
O Prof. Neil Frank, meteorologista aposentado, ex-diretor do Centro Nacional de Furacões dos EUA (National Hurricane Center — NHC) alertou, quase que profeticamente no fechamento da temporada de 2023, que não estava preocupado com o número de ocorrências de furacões, cujo valor maior teria consumido mais energia excedente do oceano, mas para onde essa energia remanescente iria se deslocar, ou o que iria causar.
Como resultado, restando então bastante energia na superfície do Atlântico, boa parte dessa foi transferida para a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT ou ITCZ), área que concentra todos os distúrbios atmosféricos de grande desenvolvimento vertical, como as nuvens Cumulonimbus. Essa concentração ocorre pela convergência dos ventos Alíseos, cuja circulação é direcionada pelos anticiclones semipermanentes, tanto o do Norte (ou Atlântico Norte, ou Açores) como o do Sul. O sentido estabelecido deste escoamento será sempre de Leste para Oeste, ou seja, da África para a América, como mostra a figura.
Antes do encerramento do ano de 2023, final da temporada dos furacões, a ZCIT realizou a sua costumeira migração para as latitudes tropicais do Hemisfério Sul, porém, bastante carregada, e mesmo na situação de El Niño, ela não se amainou. Aqui vale a pena relembrar o terrorismo do ano passado. Muitos vão recordar do alarde da “super seca irreparável, irrecuperável, nunca antes vista” da Amazônia genérica. Pois é, só que não! Nós avisamos que: “Não! Assim que a ZCIT chegar, as bacias serão todas recuperadas”, e foi exatamente isso que vimos. Então, o primeiro ponto foi que o vetor de entrada de umidade do Atlântico já esteve bastante significativo desde a chegada da ZCIT, iniciando na primavera de 2023 no Brasil.
+ A mudança climática é uma suposição
Mudemos agora para o outro lado, pois nessa equação entrou também a componente do Pacífico. Lembremos que a situação de La Niña perdurou por cerca de três anos, sendo mais uma das raras ocorrências do chamado “mergulho profundo” desde que se iniciaram os registros no século 19. Nesse tempo, as condições ao Leste da Austrália ficaram bastante complicadas, com períodos de chuvas torrenciais que também causaram muitos transtornos em Sidney, Melbourne, Townsville e Darwin. Entrementes, houve a mudança para a condição de El Niño e alertamos que, devido ao grande período de sua ausência, havia grandes chances dessa virada apresentar quadros meteorológicos mais extremos, especialmente pelos contrastes significativos que se localizavam sobre o Brasil.
Pois foi bem isso que começou a ocorrer. Na condição de El Niño, uma significativa quantidade de umidade do Pacífico “cavalga” o relevo dos Andes, como dizia o saudoso geógrafo e climatologista, Prof. Dr. José Bueno Conti (1937-2024). Nesse movimento, há grande reposição de neve ao Centro-Norte da cordilheira, enquanto segue em sentido ao Noroeste do Brasil, chegando sobre a Amazônia, como também derivando para o Acre ou para a Bolívia. Esse fluxo de umidade se encontrou com o fluxo proveniente do Atlântico, como descrito acima, e fez o seu deslocamento corriqueiro de Noroeste para Sudeste, desembocando nos Estados do Sul do Brasil. A localização geográfica do fluxo pode variar. Embora mantenha a orientação NW-SE, ele também oscila, marcando posições sobre Rondônia, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, mas também ficando mais ao sul, nas posições Acre, Bolívia, Paraguai, Rio Grande do Sul, como foi o caso deste evento.
Esse fluxo ou “esteira de umidade” pode se apresentar mais alargada ou estreita, dependendo da intensidade do sistema de alta pressão semi-estacionário em superfície que se estabelecer sobre os Estados da região Sudeste e Centro-Oeste. Esse sistema de alta pressão é um dos principais responsáveis pela ausência de chuvas e altas temperaturas que se observam nos estados dessas regiões atualmente. Sua intensificação também ocorre na condição de El Niño geralmente.
Quanto ao próprio fenômeno do El Niño, os dados de satélite mostraram a sua influência, indicando que ele é um dos mais intensos registrados dentro da Era dos Satélites, iniciada em 1979 para este parâmetro, superando o anterior de 2015-2016 em aproximadamente +0,2oC, com o mês de abril registrando 1,0oC acima da “média global” de 1991-2020, conforme mostra a figura 2. Isto por culpa do “aquecimento global” ou do lançamento de CO2 na atmosfera por causa das atividades humanas? Claro que não!
Considerando que os dados são reais e não sofreram manipulações, o que certamente ocorreu foi a baixa redistribuição de energia entre trópicos e polos, característica que ainda é pouco compreendida nos estudos de climatologia em escala global. No caso atual, há alguns indícios que nos servem como indicadores dessa condição ter sido diferenciada. O primeiro foi a rápida reposição do gelo no Ártico, logo no início do ano. Em geral, o mar se congela, recuperando as banquisas de gelo ao redor do mês de fevereiro, no Hemisfério Norte, especialmente nas latitudes mais afastadas do polo. Neste ano, esse processo aconteceu mais cedo.
O segundo indicador pôde ser verificado pela significativa quantidade de neve precipitada nos Andes que reabasteceu o gelo de montanha, mostrando que muita energia foi utilizada para evaporar água do oceano tropical, transportando-a para dentro do continente pela circulação de Oeste para Leste da condição de El Niño. Boa parte dessa umidade ainda escapa a sota-vento dos Andes e uma vez que chegou ao setor amazônico, ou adjacências, além de causar intensa precipitação na área, segue para a região Sul do Brasil. Esses fatores preparam as condições dos quadros que verificamos atualmente, em maior ou menor grau.
A condição sazonal e os quadros meteorológicos do evento no RS
Uma vez que entendemos os aspectos mais gerais das condições pretéritas e seus parâmetros, passamos a verificar as peças que se encaixam para formar os diversos quadros meteorológicos e suas assinaturas, formando uma análise mais completa.
Embora a combinação dos sistemas que apresentaremos sejam de grande escala, observamos alguns elementos de escala intermediária, como um grande complexo convectivo que se estabeleceu na virada do dia 29 para 30 de abril, sendo suficiente para carregar drasticamente as bacias hidrográficas pela quantidade de chuvas ocorridas. A ilustração abaixo mostra isso.
A primeira situação provém da estação sazonal de outono, digamos, a única parte climática dessa longa história. Nesta ocasião, os sistemas dinâmicos de grande escala iniciam seus deslocamentos geográficos. A ZCIT deve iniciar sua migração para o hemisfério Norte, enquanto que os Anticiclones Polares Móveis (APMs) começam a atingir latitudes mais baixas no Hemisfério Sul, sinalizando a chegada dos sistemas frontais e abrindo o caminho para a trilha dos ciclones extratropicais, pois o inverno se aproxima.
No presente momento, a ZCIT ainda está bem ativa na calha Norte do Brasil, fornecendo bastante umidade do Atlântico tropical. Sua combinação com a umidade proveniente do Pacífico pela condição de El Niño intenso, é suficiente para abastecer consideravelmente o corredor Noroeste-Sudeste que descrevemos, iniciando um quadro problemático que requer atenção dobrada.
Se por um lado as Altas Polares das massas frias já deveriam atuar com um pouco mais de intensidade, essa atividade ainda não foi suficientemente enérgica para romper o outro sistema de alta pressão, muito maior e quente, que permaneceu estacionado sobre boa parte do Brasil, incluindo as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Observamos isso pela pouca intensidade destas massas frias, cujas temperaturas não são tão baixas, e pela facilidade em que os ciclones extratropicais decaem, desfazendo-se em outros mesociclones que infestaram o Atlântico Sul.
As massas frias de pouca intensidade não têm condições de romper a alta pressão continental. Essa estagnação literalmente trava o avanço do ar frio, ocasionando um sistema dinâmico classificado como Frente Fria Estacionária. Em uma situação corriqueira desse caso estacionário, observa-se o tempo meteorológico apresentando alternância entre chuvas leves e moderadas, mas por um período de tempo mais longo, em geral, de cinco dias, os quais já seriam responsáveis por totais pluviométricos significativos, até ocasionalmente perigosos — essa é a “assinatura” reconhecida deste quadro, ou seja, não é anormal!
Contudo, o agravante vem da condição estabelecida pelo fenômeno oceânico-atmosférico El Niño que, por apresentar um período mais longo de tempo, dada a sua escala, recarrega constantemente de umidade o setor da Frente Fria Estacionária através do corredor estabelecido de Noroeste-Sudeste que descrevemos. É uma bomba d’água no mais amplo sentido, tanto de transporte de água como pela destruição que causará na superfície, pois totais pluviométricos elevados sobre tais áreas, carregarão em demasia as bacias hidrográficas da região atingida, além de causarem o encharcamento dos solos.
Por fim, enquanto a alta pressão semi-estacionária persistir, o quadro se repete toda vez que observarmos outra massa polar se aproximar, ocasionando o bloqueio dos sistemas frontais. Durante o período de 28 de abril até 10 de maio de 2024, verificamos vários desses sistemas passando. A figura quase sempre é a mesma: alta fria fraca, bloqueio frontal, ciclone extratropical gigante decaindo, rumando de Oeste para Leste passando sobre a Argentina e no pivô, entre um sistema e outro deste enorme corredor, estão os Estados do Sul do Brasil, em especial, atingindo ora o RS, ora até mesmo o Uruguai.
Aspectos geográficos
A carga de umidade recebida proveniente dos oceanos nesse período que compreendeu desde outubro de 2023 até o presente relato do mês de maio de 2024 foi muito significativa, refletindo em diversos objetos geográficos. Essa umidade transportada pela atmosfera não só carregou as bacias hidrográficas na Região Norte, como a Amazônica, mas também as que pertencem ao eixo Noroeste-Sudeste do Brasil, incluindo a do Paraná e adjacências. Não tivemos energia mais cara desde então, com as famigeradas bandeiras, pois houve excedente de água e geração de energia abundante. As chuvas também foram muito importantes para a agricultura.
Vale ressaltar que uma boa parte dessa umidade gerou chuvas bem distribuídas por todas as regiões do país no decorrer do verão, mas a partir da entrada do outono, houve uma redução da precipitação ocasionada pelo centro de alta pressão quente que se antecipou ao inverno. Ele tem prevalecido até então, reforçado pelo quadro de El Niño.
A boa notícia é que a ZCIT está em deslocamento para a sua posição ao trópico do Hemisfério Norte, enfraquecendo a contribuição de umidade do Atlântico. Suas últimas interferências intensas na precipitação vão ocorrer ao Norte dos Estados do AM, PA, MA e em todo o AP e RR. Já o El Niño, seu enfraquecimento estava prognosticado para o trimestre abril-maio-junho, mas certamente ainda permanecerá ativo por cerca de mais 30 dias. O estado de neutralidade deverá ocorrer entre junho e julho, segundo os dados oceânicos.
Estas condições ainda serão preocupantes para o Rio Grande do Sul. Parte significativa do Estado é composta por planícies de inundação, ou seja, suscetíveis às inundações dos rios de suas bacias, conforme recebem as cargas de chuvas. Lembremos que existem situações diferenciadas quanto à água precipitada. As enchentes, ou comumente chamadas de enxurradas, são praticamente instantâneas, ocorrendo pelo acúmulo ou escoamento ligeiro das chuvas, precipitadas diretamente no local ou adjacências, especialmente nas áreas mais baixas ou de inclinação acentuada. Já as inundações ocorrem horas ou dias depois, pois são o produto de toda a água precipitada dentro da área delimitada pela bacia hidrográfica que seguiram para o ponto mais baixo, local de menor potencial, mas de maior escoamento de sua vazão. No caso do RS, há uma sequência que envolve a passagem do fluxo das águas desde Santa Maria e Santa Cruz do Sul, em sentido a Canoas e Porto Alegre, desembocando na Lagoa dos Patos.
As altas vazões não escoam muito rápido se a bacia for muito grande e plana, ocasionando o alagamento de vastas áreas, como é o caso do RS. Isto contribui significativamente para a fertilização do solo, aspecto histórico que acompanha a humanidade desde as cheias do Nilo. Mas, se por um lado a região será excelente para agricultura, especialmente as dependentes de culturas bastante úmidas como o arroz, por outro lado, são perigosas para o estabelecimento de moradias, indústrias e cidades. É nesse aspecto que as obras de infraestruturas urbanas e rurais devem se ater, especialmente no quesito da prevenção. De qualquer forma, fica difícil, em um país onde há tantas carências, conseguir implementar moradias mais resilientes, quando a população ainda luta pela sobrevivência cotidiana.
Quanto às áreas de grande declividade, como morros e serras, são sempre preocupantes os totais pluviométricos, tanto os acumulados, quanto as quantidades precipitadas dentro dos intervalos de tempo. Não importa se tem vegetação, com grama, capim, árvores, a dado momento, dependendo da quantidade de água infiltrada no solo pelo encharcamento, esse se liquefará, ocasionando os “escorregas” que rasgam as vertentes, desabando tudo e levando consigo o que estiver pela frente. No RS, os setores Norte e Nordeste apresentam altitudes mais significativas, com declividades consideráveis e são motivos reais para preocupação, exatamente como as regiões serranas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Esses fatores são importantes, inclusive para o esclarecimento da população e ao treinamento dos programas de Defesa Civil, especificamente mapeando as áreas gerais de risco, seus limites espaço-temporais e os tempos de resposta paliativa, incluindo a remoção de pessoas e as rotas de fuga apropriadas para cada caso. Esses sim, são os cenários que deveriam ser rodados em simulações para avaliação de riscos reais.
E será que os valores realmente são recordes de inundação e podem servir como provas de “mudanças climáticas”? Não, eles só provam que nossos registros ainda são muito incipientes e as séries, curtas demais. Quanto à marca ser realmente excepcional, ainda há a necessidade de se avaliar de forma séria todo o complexo e controle das barragens e sua administração, especialmente no quesito da entrada de água registrada nas bacias hidrográficas através dos pluviômetros da rede. Essas estimativas não são tão simples de serem obtidas. Realmente, esperemos que esse trabalho seja feito de forma bastante responsável e não com objetivos alarmistas.
Da recorrência
De certo, quadros meteorológicos como esse já ocorreram no passado. A nossa breve história de registros fotográficos e de dados meteorológicos nos mostram alguns casos análogos. Além das fotos que indicaram um quadro semelhante, em 1941, também tivemos outros casos nos anos de 1983 e 1984.
O ano de 1941 soa interessante pois na época, a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), fenômeno de longa duração que relaciona a atividade solar com as fases positivas ou negativas das temperaturas da água do mar entre o Pacífico tropical e o extratropical, sinalizavam valores extremamente altos de seu índice, variando de +2,68, em dezembro de 1940, a +2,48, em janeiro de 1942, com um ápice de +3,22, em agosto de 1941, um dos mais altos da história dos registros. Nesta mesma época, o CO2 era irrelevante e a Terra apresentava uma “temperatura do ar média global” das mais baixas, especialmente no ano de 1940. Isto evidencia claramente que o gás não explica nada!
No atual momento, a ODP sinaliza-se como bem negativa e vem seguindo essa posição desde novembro de 2019. Em abril de 2024 fechou seu índice marcando –2,09. Seria esse o contraste que tanto alertamos no final do ano passado que poderia ter contribuído para exacerbar o atual El Niño e suas ações? É uma pergunta interessante que merece ser mais estudada.
A lógica do discurso alarmista
Contudo, a lógica do discurso alarmista não pensa assim e prefere o caminho mais fácil. Querem atribuir ao CO2 e pior às atividades agrícolas e de pastoreio do Estado o evento recente, como se a ocorrência atual fosse a nova normalidade! Esqueçam, isso é mentira! Não tem nenhum embasamento científico. As situações de bloqueio de frentes na região Sul do Brasil são bastante conhecidas e registradas até dentro de uma certa normalidade de ocorrências, fazendo parte das aulas de graduação de qualquer curso de Meteorologia Sinóptica ou de Climatologia Dinâmica Geográfica! Se não for assim, algo está muito errado e fica de alerta aos alunos que se aventurarem por estas paragens.
Já o engrossamento do quadro meteorológico, com a complexidade verificada nesse caso, não! Ela é mais rara e todo o seu entendimento não pode ser simplesmente reduzido a uma falsa correlação com carbono ou às atividades de produção do Estado. Isto é patético! Essa ideia ignóbil de querer relacionar a situação observada com o carbono lembra a vã tentativa promovida nos EUA em relação ao número de ocorrências de furacões e suas intensidades, só que na versão tupiniquim.
A gravidade de afirmações como essa nos levam a crer que todas as análises agora deverão ser apontadas simplesmente para o cômputo de carbono! Isso significa cancelar a ciência meteorológica e climática, pois basta contar quantas moléculas de carbono para decidir como serão os quadros meteorológicos. Fez sentido? Claro que não, pois não há resposta para relações inexistentes! Por acaso algum prognóstico meteorológico conta carbono agora?
Competência
A grande pergunta que temos em uma situação como essa é: estamos preparados? Ficou evidente que não! A situação governamental é deplorável, desde os planejamentos de infraestrutura aos sistemas paliativos de socorro. Como descrevemos anteriormente, tais quadros meteorológicos não são anormais. Suas intensidades podem até ser, mas já ocorreram antes. Isso significa que pelo menos as obras essenciais de infraestrutura deveriam ter sido bem planejadas. Pontes caem e são construídas da mesma forma, para caírem novamente em evento análogo posterior. Decerto as cabeças dessas pontes deveriam ser mais afastadas do leito do rio e com elevação maior, isso só para citar um exemplo.
Por tudo que observamos, os planos de contingência são inexistentes ou bastante fracos em todas as esferas. Os planos de contingência municipais precisam ser elaborados, estudados e praticados. Os alertas são pífios e pouco práticos.
As autoridades, em vez de ajudar, acabaram atrapalhando em todas as esferas, incluindo suas burocracias estúpidas. Centenas de denúncias, verificadas por depoimentos na internet, foram observadas. Não se tratou de casos pontuais e muito menos de falsos testemunhos, pois a quantidade de relatos foi muito grande, graças ao advento das redes sociais. Até as emissoras de TV que fizeram denúncias, foram criticadas. Assim, ficou mais uma vez evidente a motivação do Estado em querer censurar tudo e a todos, tendo em vista que passou a usar do seu “braço forte” para silenciar as denúncias e os pedidos de socorro.
Decretar investigação e prisão para quem está em aflição só transparece ainda mais a extrema covardia dos sujeitos que ocupam os lugares de “comando” em que estão atualmente, cujo gabarito e merecimento estão muito abaixo de zero! Deveriam usar de todos os meios para aumentar as diligências, em vez de usar a força policial do país para realizar “investigações” toscas. Façam algo mais produtivo como escoltar os comboios de caminhões de ajuda pelas rodovias para que cheguem aos seus destinos com segurança e rapidez.
Enquanto isso, um número imenso de pessoas se voluntariou na execução dos trabalhos de resgate, socorro e atendimento em uma gama de situações que faltaria espaço para descrevê-las. Campanhas financeiras privadas, como a realizada pela RW, foram proativas em arrecadar e agilizar a chegada de recursos na ponta-de-lança das operações, aumentando a velocidade dos atendimentos. Donativos físicos partiram do Brasil inteiro.
Contudo, vimos novamente as denúncias sobre os agentes do Estado em dificultar a logística, ou centralizar, a chegada de materiais nas mãos de agentes governamentais. Enfim, é o Estado brasileiro sendo o que ele é.
Não cabe aqui uma longa discussão sobre o tema, pois não é o tempo adequado, em especial na avaliação dos diques e barragens e o gerenciamento do escoamento das águas que podem ter inflacionado os valores. No presente momento estamos nos preocupando ainda com os acontecimentos, resgates e a recorrência do quadro meteorológico e geográfico da situação.
Palavras finais
Enquanto tudo isso ocorria, a madame-satã desfilava na praia e os seus apoiadores destinavam fabulosas verbas dos cofres públicos para prepararem a cidade do município de Belém do Pará de forma a servir de palco para o carnaval da COP climática, o evento de adoração à Gaia. Deveriam ter o bom-senso de cancelar tal empreitada dantesca no Brasil e destinarem esse dinheiro para a reconstrução do Estado do RS, inclusive, com uma boa fatia dos recursos que serão queimados em campanhas eleitorais deste ano, outra soma exorbitante e descabida para um país em que tantas necessidades ainda elencam na lista de prioridades nacionais das pessoas.
E assim, observamos que a sensibilidade humana foi trocada pela sensibilidade climática, afinal, estão claramente a dizer para um pai que ele perdeu seu filho por causa do “aquecimento global”, devido ao lançamento de CO2 na atmosfera, ou por causa da agricultura que seu Estado produz, ou por causa daqueles campos que ele mesmo cultiva ou cultivou por anos, atribuindo-lhe uma culpa inexistente, condenando-o por um crime que não praticou.
Na mesma via paralela de fracasso deste discurso, a dita ciência foi trocada pelo dogma da religião ambiental pagã, cujas proposições são explicitamente contra a humanidade, entortando os já abalados postulados científicos. Fica cada vez mais claro que não se faz mais nada pelo saber há muito tempo.
Quanto ao número de pessoas que perderam as suas vidas, penso que jamais saberemos seu real valor porque temo que essas informações serão manipuladas pelo Estado. Diferentemente do processo “pandêmico” em que o número de mortes elevadas favorecia os objetivos de apregoar o medo e pânico, aqui, tais números refletirão a extensão das irresponsabilidades. Essa é a minha impressão.
Assim, encerro este texto com uma mensagem aos queridos amigos do Rio Grande do Sul, lembrando-lhes que durante esse momento desafiador, o amor incondicional de Deus e Seu amparo estarão sempre presentes para todos. “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.” Continuaremos em oração, confiando que juntos podemos superar qualquer desafio, fortalecidos pelo amor e pela presença de Deus em nossas vidas. Deus abençoe a todos!
Meu mentor
Faleceu na quarta-feira, 8 de maio, aos 87 anos, o Prof. Dr. José Bueno Conti. Ele foi um dos mais proeminentes geógrafos climatologistas do Brasil. Autor do livro didático com o título “Clima e Meio Ambiente”, ele foi professor de 1964 a 2007. Prof. Conti engrossou as fileiras dos céticos do clima no Brasil, fazendo também parte da Clintel — Inteligência Climática. Foi signatário das cartas que escrevemos aos jornais e aos governantes brasileiros sobre o embuste climático e suas terríveis consequências sociais e econômicas, abordando o tema da desertificação, uma de suas áreas de especialidade. Participou do documentário brasileiro “Uma Mentira Conveniente” que abordou também o tema das “mudanças climáticas”. Seu conhecimento histórico sobre eventos meteorológicos e climáticos do passado sempre eram utilizados para explicar a recorrência de eventos verificados no presente, trazendo clareza sobre a ciclicidade e/ou raridade de tais registros. Além de ser meu orientador durante o doutoramento, entre 2005 a 2007, ele foi o meu mentor na área de Geografia e Climatologia Geográfica, mas muito acima disto, era um grande amigo e irmão em Cristo.
Ok, e gostaria de ouvir comentários sobre os molhes na foz da Lagoa dos Patos, na região portuária da cidade de Rio Grande: uma represa que retém a foz da Lagoa dos Patos, advinda já de uma planície de inundação, adentrar mais de 4 km (!!) no mar, formando um funil e retendo ainda mais água na foz, não seria um dos elementos que expliquem essa megaenchente? Juntamente com outros problemas ambientais, como o assoreamento do Lago Guaíba? Ok, enchentes sempre houve, mas nessa magnitude, já não há de fato, nenhum elemento ambiental? O represamento na foz, o assoreamento do leito, nada disso interfere?
Professor Ricardo Felício, os seus artigos são luzes na escuridão espalhada pelo mal caratismo da imprensa amestrada. Essa imprensa inútil não faz confusão; são, na verdade, desonestos intelectuais.
Trabalho de fôlego, com rigor científico, muito elucidativo e isento.
Eu lamento que não se possa copiar os artigos da Revista Oeste, há excelente material para ser trocado ou utilizado em apresentações (citando a fonte e os autores, evidentemente.)
Concordo plenamente quanto ao fato de não se poder copiar os artigos. Quando isso era possível eu costumava copiar alguns artigos e passar para pessoas do meu conhecimento, estimulando-as a fazerem a assinatura da revista.
JOvem Felício. O texto é extenso e tem que ser lido devagar. Entendi e participo da tua tese. Tudo é relativo. Aqui no fundo do sertão a gente diz: pode ser que sim, pode ser que não.
Em 2001 escrevi em coluna de jornal um fato dito pelo avô. Ele contou histórias de enchentes em cima da serra gaúcha. Semana passada repiquei, em formato literário, com algumas intervenções inventadas como escritor não famoso. Ele citou que em 1941 a enchente levou duas serrarias de parentes, uma no Rio Santa Cruz que deságua no Rio Caí e outra próxima ao Passo do Inferno, já bem próximo da cidade de Canela,. E dizia para os filhos que aquela água desceria até Porto Alegre em poucas horas. Foram 10 dias de chuva sem parar. Era difícil a locomoção no campo para buscar vacas de cria. A turma ficava embasbacada porque não tinham idéia de que aquela água iria tão longe… Depois participei de processos no MPF contra a construção de barragens no Rio das Antas, não aquela famosa 14 de julho. São outras três bem acima. Constatamos que havia muita coisa erada, desde dinheiro sujo, falta de comportas, falta de planos de segurança, alarmes e monitoramento. Seus afluentes entre 800 e 1000m e altitude têm várias cachoeiras e cascatas. Quando elas enchem demais, como foi em setembro e agora e maio, o pessoal já dizia que a água desce… Porto Alegre viveu em outras datas mais antigas o mesmo fernômeno. Sõ que a população era menor, não havia diques, não havia aterramentos e nem existiam muitas vilas de ribeirinhos e favelados. Com isto, lembrei do nossos pequeno conhecimento histórico (inclusive com documentação de cada época, embora a pesqiusa não fosse no sentido climatológico). Você tem muita razão. Lembrando, por fim, que na época do meu avô e bisavô não falavam em probelmas de gás caarbônico (tinha poucos veículos no Sul) nem camada de ozônio e nem gretas e terroristas do destino.