A morte de Carlos Miranda aos 91 anos de idade na última segunda (17) fez voltar à lembrança de uma das mais belas histórias da cultura pop do Brasil.
Nos anos 1960 as crianças brasileiras se divertiam assistindo séries americanas (como Zorro ou Rin Tin Tin), britânicas (como Thunderbirds) e japonesas (como National Kid). Existiam alguns heróis brasileiros (como o Capitão 7 e o Falcão Negro) atuando em programas ao vivo, de produção precária.
Em 1961 surgiu o Vigilante Rodoviário, a primeira série filmada do Brasil em competição direta com as importadas. Carlos Miranda viveu o herói com seu próprio nome. Não era exatamente um grande ator, mas sua dedicação e entusiasmo compensavam suas limitações. Estava sempre acompanhado pelo cão Lobo. Os dois combatiam bandidos de todos os tipos a bordo de um Simca Chambord 1959 ou de uma moto Harley-Davidson. Carlos encarnou tanto o papel que se tornou membro da Polícia da Rodoviária, da qual se tornou uma espécie de relações públicas.
A série sempre foi muito popular. Durou três temporadas e gerou 38 episódios de 22 minutos, dirigidos pelo criador Ary Fernandes. O Vigilante chegou a virar uma revista em quadrinhos pela editora Outubro.
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A série permitiu a várias gerações gostar de uma série ambientada nas ruas e estradas de São Paulo, com atores brasileiros. Foi motivo de orgulho para crianças e jovens que assistiam uma série brasileira não porque era “importante apoiar o produto nacional”, mas simplesmente porque era boa e divertida. E dava lições de ética que hoje fazem falta.
Milagrosamente, num país que destrói impiedosamente sua própria memória, o Vigilante sobreviveu intacto até hoje e está disponível pelo streaming Looke. Os mais velhos vão sentir um arrepio de saudade ao ouvir o tema da série, cantado pelos Titulares do Ritmo: “De noite ou de dia, firme no volante / vai pela rodovia, bravo Vigilante / Guardando toda estrada, forte e confiante / É o nosso camarada, bravo Vigilante / O seu olhar amigo / é um farol que nos avisa do perigo / Audaz e temerário para agir a cada instante / Da estrada o vigilante / Vigilante Rodoviário”