A maior surpresa nas indicações ao Oscar 2025, pelo menos para os brasileiros, é que depois de mais de 90 anos da premiação o Brasil finalmente tem uma produção indicada na categoria de melhor filme do ano. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou hoje os indicados em todas as categorias. Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, também concorre como melhor filme internacional (categoria antes conhecida como filme estrangeiro) e melhor atriz principal (Fernanda Torres). Aliás, até mesmo a indicação do Brasil na categoria de filme internacional surpreende, já que o país esteve na disputa por uma estatueta há 26 anos, quando — coincidentemente — era um filme também dirigido por Salles, Central do Brasil. Se por um lado há motivos de sobra para comemorações diante de tal ineditismo, é igualmente necessário ter em mente que a disputa é acirrada e as chances de vitória estão agora bem mais pulverizadas.
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Tal mãe, tal filha
Fernanda Torres é uma das principais favoritas, ainda que vá enfrentar fortes concorrentes: Cynthia Erivo, por Wicked; Karla Sofia Gascón, de Emilia Pérez; Mikey Madson, de Anora; e Demi Moore, de A Substância. Ao seu favor, Fernanda Torres tem a recente vitória no Globo de Ouro, em que levou o prêmio de melhor atriz dramática. Até aqui, Fernanda segue exatamente a mesma jornada de sua mãe, a veterana atriz Fernanda Montenegro. Em 1999, com Central do Brasil, Fernanda mãe também conquistou o Globo de Ouro na categoria de melhor atriz e foi indicada para o Oscar daquele ano. Mas é sempre bom lembrar: Fernanda perdeu a disputa para Gwyneth Paltrow, pelo filme Shakespeare Apaixonado. E o filme de Salles perdeu a estatueta de filme estrangeiro para o italiano A Vida É Bela.
Por mais que o brasileiro tenha, por natureza, essa capacidade de se envolver emocionalmente na torcida pelo Oscar, é necessário esclarecer que esse prêmio possui inúmeras particularidades. Em primeiro lugar, a premiação do Oscar é organizada por uma Academia que hoje conta com mais de 10 mil membros, sendo a maioria formada por artistas norte-americanos e atuantes na indústria dos Estados Unidos. Outro detalhe ainda mais importante é que o Oscar, cuja primeira edição ocorreu em 1929, é uma premiação criada para celebrar o cinema e os artistas norte-americanos. Estrangeiros sempre são vistos como convidados, meros coadjuvantes da festa.
96 anos de Oscar: três obras levaram prêmio de filme internacional e melhor do ano
Ao longo da história da Academia, em apenas cinco ocasiões filmes estrangeiros concorreram em ambas as categorias, de filme internacional e melhor filme do ano: Os Emigrantes (Suécia, 1973), Z (Grécia, 1969) A Vida É Bela (Itália, 1999), Parasita (Coreia do Sul, 2020) e Drive My Car (Japão, 2022). Apenas Parasita conseguiu levar para casa as duas estatuetas. É apenas um filme em 96 anos do Oscar.
Por isso mesmo, as apostas em relação ao brasileiro Ainda Estou Aqui podem ser bastante arriscadas. A votação para melhor filme internacional segue um ritual próprio, realizada em duas rodadas: uma para a seleção inicial e outra para a escolha dos indicados. A votação final é restrita aos membros ativos e vitalícios da Academia que tenham assistido a todos os cinco filmes indicados. Já a votação para melhor filme do ano segue outras diretrizes.
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Numa primeira etapa, todos os 10 mil membros podem votar, sendo que cada um classifica até dez filmes indicados em ordem de preferência. Em seguida vem a fase do voto preferencial, quando um filme deve receber mais de 50% dos votos (ou seja, pelo menos 50% mais 1). Se nenhum filme atingir essa porcentagem na primeira rodada, o filme com o menor número de votos é eliminado. Os votos desse filme são redistribuídos para os próximos filmes preferidos nas listas dos votantes, e esse processo de eliminação e redistribuição continua até que um filme alcance a maioria necessária.
Diante dessa complexidade, é muito difícil prever o que cada membro votante pensou na hora da sua escolha. E a situação é ainda mais complicada quando um filme está concorrendo em duas ou mais categorias ao mesmo tempo. Muitos membros preferem deixar de votar em determinada obra numa categoria específica, considerando que outras pessoas o farão. Só que aí vários membros tiveram a mesma brilhante ideia, e o filme acaba ficando sem votos em nenhuma das categorias a que concorre. Portanto, mais do que a qualidade da obra, Ainda Estou Aqui terá de contar com a sorte.
Ainda Estou Aqui recebe 3 indicações ao Oscar 
