Billy Joel é um artista que combina com sons de passos na noite molhada de Nova York. Com a brisa vinda do Hudson na porta da boate. Cigarro no canto da boca, gola aberta, olhar embriagado de encanto. Rosto iluminado por um letreiro, que acende e apaga. Pela manhã ensolarada, se confunde com estudantes deitados no gramado do Central Park.
Tão íntimo da cidade onde cresceu, ele havia feito do Madison Square Garden (MSG) sua residência fixa para shows, desde 2014. Foram 104 apresentações nesta década (150 em toda a sua carreira), todas com lotação esgotada.
Até o fim de julho, quando a relação foi encerrada. Aos 75 anos, Joel vai continuar espalhando seu dinamismo em outras cidades dos Estados Unidos e de outros países.
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O repertório de Billy Joel ainda é formado pelos seus sucessos dos anos 1970, 1980 e 1990, que marcaram época, em uma mistura de rock, pop e jazz. Eles se renovam com o vigor do cantor, sem deixar de trazer a esses nossos tempos difíceis um pouco da esperança daqueles dias.
Como os grandes artistas, Joel soube se manter no topo, sem sair de cena e sem perder a legião de fãs. Na plateia, ainda é comum ver pais com seus filhos cantando sucessos como Uptown Girl e My Life.
Além da presença do vocalista Axl Rose, que cantou com Joel, celebridades como Jimmy Fallon compareceram ao último show no MSG. Foi Fallon que apresentou Joel, antes da performance do cantor, e mostrou um banner comemorativo pelos 150 espetáculos no local.
“Amo você. Nova Iorque te ama. O mundo te ama. Você nos deu memórias incríveis”, disse Fallon.
A vida do gênio
Nascido em 9 de maio de 1949, no Bronx, em Nova York, Billy Joel cresceu, desde um ano de idade, no subúrbio de Hicksville, em Long Island. A paixão pela música, pegou do pai, Howard (Helmut), empresário nascido na Alemanha, que também era pianista clássico.
Quando Joel tinha nove anos, seu pai se separou de sua mãe, Rosalind (1922–2014), também de família judaica (a quem Joel dedicou, depois, Rosalind´s Eyes), e foi morar em Viena, cidade sobre a qual Joel compôs uma música, cujo clipe foi recém-lançado neste ano. Howard considerava o estilo de vida dos norte-americanos muito materialista.
O menino cresceu com sua prima Judy, adotada por seus pais, e ganhou um irmão, Alexander Joel, que virou maestro, filho de seu pai no segundo casamento.
Joel, vencedor de cinco Grammy Award, passou a utilizar a carreira para nela encontrar o lado bom da vida. Isso depois de se tornar boxeador amador, para se defender dos deboches da vizinhança. Naquele subúrbio rude, estudar piano com um professora de balé era um desafio para poucos. Eclético, batizou-se na igreja e se diz um judeu ateu.
Mas a obra de Joel é sempre acompanhada de ternura e otimismo. Em Honesty, ele nos diz isso logo no início: If you search for tenderness, It isn’t hard to find (se você procura por carinho, não é difícil encontrar).
Billy Joel aprendeu compondo, tocando e cantando. Decidiu ser músico em 1964, depois de uma entrevista dos Beatles no Ed Sullivan Show. Ingressou na banda Echoes, em Long Island.
A música foi sua escola, mais do que a de Hicksville, onde deveria, e não fez, se graduar em 1967. Uma apresentação na noite anterior o impediu de acordar para um exame.
Consagrado, depois de passagens por Los Angeles, disse em uma entrevista. “Eu não vou à Universidade de Columbia, eu vou à Columbia Records.” Já reconhecido como gênio da música, a escola lhe concedeu um diploma em 1992.
Quem ouve We Didn´t Start the Fire entende o quanto ele aprendeu com a música. Citando passagens do século 20, Joel faz uma alusão aos seus 40 anos, quando compôs a canção em 1989, e conta uma história apenas por meio dos temas.
Antes, Joel se tornou célebre com canções como Just The Way You Are, Piano Man, que o lançou à fama mundial, e 52th Street, rua que o inspirou a falar de amor. O Piano Man segue romântico em She Always a Woman.
Todas essas fases, que ele traz em suas apresentações, têm sido agora acrescidas de mais uma composição: Turn The Lights Back On, feita 17 anos depois de seu último single, All My Life. No total, ele gravou 23 discos.
Apesar da despedida do MSG, a trilha musical de Joel continua. Em 13 de setembro, ele se apresenta em Cleveland, em 27 de setembro, em Saint Louis, em 12 de outubro, em Inglewood, com espetáculos até o fim do ano já marcados. Prometendo levar aquele jeito jovial que o mantém em alta.
Joel se tornou uma voz para todos os gostos e gerações. A voz de Nova York. Da cidade que engloba o mundo. Do mundo, em forma de uma cidade.