Numa época em que se discute identidade de gênero e se obriga que todos respeitem como uma pessoa se identifica, Denzel Washington está lançando uma nova categoria: a do ator de Hollywood que não se identifica como ator de Hollywood. Estranho, mas foi o que o ator afirmou durante entrevista no CBS News Sunday Morning, popular programa matutino de notícias na TV norte-americana. “Não sou um ator de Hollywood, sou um ator de teatro que faz filmes”, disse ele.
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Denzel Washington foi convidado para o programa para divulgar seu mais recente trabalho nos palcos da Broadway, a montagem shakespeariana Othello, na qual estrela ao lado de Jake Gyllenhaal. Em dado momento, enquanto o programa ressaltava a longa e premiada carreira do ator, Denzel afirmou que não se considerava “uma estrela de cinema” e muito menos de Hollywood. “Não sei o que ‘Hollywood’ significa”, disse. “Sei que é um lugar.”
O ator tentou explicar que sua afirmação partia, sobretudo, da intangibilidade elusiva do próprio termo. “Qual é a definição de um ator de Hollywood?”, questionou. “Eu mesmo sou de Mount Vernon. Sou um ator de Mount Vernon”, disse ele se referindo à sua cidade natal no estado da Virgínia, Estados Unidos. “Então não sou um ator de Hollywood. Não sei o que ‘Hollywood’ significa.”
Por diversas vezes, o apresentador do Sunday Morning, Bill Whitaker, usou a frase “ator de cinema” para definir uma estrela de Hollywood. Em todas elas, Washington o corrigiu e esclareceu ser “um ator de teatro que faz cinema, não o contrário”. “Primeiro fiz o palco, aprendi a atuar no palco, não no cinema.”
Tudo isso parece muito esquisito e realmente é! Mas, ao contrário de décadas passadas — quando Hollywood viveu sua era de ouro e passou a ser considerada a meca do cinema —, hoje em dia Hollywood já não apresenta mais o mesmo glamour. Ao contrário. A agenda woke aplicada a políticas de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo, movimento LGBTQIA+ e outras tantas siglas, acabou contaminando a maior indústria de cinema do mundo. Muitos artistas, que até bem pouco tempo se orgulhavam de ser chamados de “estrelas de Hollywood”, agora estão se afastando.
É verdade que Denzel Washington iniciou a carreira no teatro, mas é ainda mais verdadeiro afirmar que o ator só se tornou uma celebridade internacional por conta dos filmes que estrelou nos cinemas. Em produções hollywoodianas. Nos seus quase 50 anos de cinema, Washington conquistou duas estatuetas do Oscar. Ele foi indicado para Melhor Ator Coadjuvante duas vezes, por Um Grito de Liberdade (Cry Freedom, 1987) e Tempo de Glória (Glory, 1989), ganhando o Oscar por este último. Como Melhor Ator, acumula cinco indicações: Malcolm X (1992), com o qual foi premiado, Hurricane – O Furacão (Hurricane, 1999), Dia de Treinamento (Training Day, 2001), O Voo (Flight, 2012), Um Limite Entre Nós (Fences, 2016) e Roman J. Israel, Esq.

Não ficou muito claro, portanto, se Denzel está simplesmente esnobando Hollywood ou então fazendo uma ironia. Há pouco tempo, quando questionando se já pensava em aposentadoria, ele disse: “Especialmente neste ponto da minha carreira, estou interessado apenas em trabalhar com os melhores”. “Não sei quantos filmes mais farei. Provavelmente não serão tantos. Quero fazer coisas que não fiz.”
Para sorte de Denzel e de seu enorme público, ao que parece ele tem muita coisa por fazer. “Eu interpretei Otelo aos 22 e estou prestes a interpretar novamente aos 70″, disse. “Depois disso, farei Hannibal. Depois disso, tenho conversado com Steve McQueen sobre um filme. Depois disso, Ryan Coogler está escrevendo um papel para mim no próximo Pantera Negra. Depois disso, farei o filme Otelo e depois Rei Lear. Depois disso, vou me aposentar.”