Carl Rinsch é um diretor de cinema pouco conhecido. Num mercado altamente competitivo, ele tem a grande chance e consegue vender a ideia de uma nova série para a Netflix, uma das mais importantes plataformas de streaming do mundo. A Netflix investe um alguns milhões para que o diretor dê início à produção. O dinheiro acaba e Rinsch pede mais. A Netflix desembolsa US$ 11 milhões. Mas então Carl Rinsch passa a mão no dinheiro, investe em criptomoedas e no mercado de ações, além de torrar boa parte da grana em artigos de luxo: relógios, roupas de grife, móveis e imóveis, além de carros esportivos. Hoje, 19 de março, Carl Rinsch foi preso em Nova York sob acusações de fraude e lavagem de dinheiro.
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Parece enredo de um filme ou série de TV, mas é um caso real. Em pronunciamento oficial à imprensa, o promotor de justiça de Nova York, Matthew Podolsky, disse à imprensa que Rinsch orquestrou um esquema de lavagem de dinheiro para roubar milhões de dólares. “O senhor Rinsch recebeu um grande investimento de um serviço de streaming, alegando que o dinheiro seria usado para produzir uma série de televisão que nunca existiu”, disse o promotor Podolsky. “A prisão de Rinsch é um lembrete de que a promotoria e os nossos parceiros do FBI continuam vigilantes na luta contra a fraude.”
Uma série de ficção e a construção de um golpe
Em 2018, Carl Rinsch tinha em mãos um projeto bem interessante chamado Conquest. Seria uma série de ficção sobre um cientista que cria uma moderna inteligência artificial empregada num exército de robôs exatamente iguais aos homens, e estes seriam enviados para combater o crime nos ambientes mais hostis do mundo. Acompanhado de sua ex-mulher e diretora criativa, Gabriela Rosés Bentancor, Rinsch participou de um pitching — um encontro para apresentar ideias — com as empresas Amazon, Max, Apple e Netflix, quando teve a oportunidade de explicar seu projeto e mostrar um punhado de cenas já filmadas que haviam sido financiadas pela produtora 30West e por Keanu Reeves. O ator, que já havia sido dirigido por Carl Rinsch no filme 47 Ronins, era um dos investidores do projeto.
A Netflix aprovou a série e assinou contrato com o diretor para iniciar a produção, com orçamento de US$ 55 milhões. Rinsch juntou sua equipe e começou a viajar pelo mundo para fazer as filmagens: Montevidéu, Budapeste e até São Paulo — no Brasil, inclusive, o diretor foi obrigado a lidar com a justiça por conta de denúncias feitas pelo sindicato de atores, que alegou maus tratos aos figurantes no set. Nessa brincadeira, Rinsch gastou US$ 46 milhões. Ainda assim, sem apresentar nenhum material produzido, o diretor convenceu a Netflix a colocar mais US$ 11 milhões na sua conta.
Era 2021 e foi aí que começou a verdadeira farra. Rinsch apropriou-se do valor e fez tudo o que lhe viesse à cabeça. Ele investiu US$ 10.5 milhões em ações, incluindo uma empresa farmacêutica que desenvolvia uma suposta vacina para a covid-19, mas perdeu US$ 6 milhões em poucos dias. Em seguida, apostou em criptomoedas e teve a sorte de lucrar mais de US$ 20 milhões. Só que ele usou o dinheiro para torrar em artigos de luxo. Apenas em carros, foram cinco Rolls-Royces e uma Ferrari.
Enquanto Carl Rinsch se divertia, a Netflix aguardava pelos episódios da série, que jamais apareciam. Até que a empresa deu um basta e cancelou oficialmente o contrato. A Netflix determinou que o diretor oferecesse a série Conquest para outras plataformas e exigiu o reembolso total do prejuízo. Rinsch, que afirmou aos executivos da empresa de streaming que tinha o poder de prever onde raios iriam cair ou quando vulcões entrariam em erupção, chegou a processar a Netflix. Não deu certo e agora ele foi preso. Não duvide se essa história um dia virar uma boa série dramática.