Em 1985, o Festival de Cinema de Berlim concedeu três prêmios especiais para o documentário Shoah, considerado por muitos uma obra-prima dirigida por Claude Lanzmann. Passados 40 anos, Shoah novamente ocupa lugar de destaque na programação da Berlinale para mostrar ao mundo os horrores do Holocausto. “O filme não contém nenhuma filmagem histórica”, descreve o catálogo do festival. “Em vez disso, ele usa entrevistas para ‘reencarnar’ a tragédia judaica e revisita os locais onde os crimes ocorreram”. De fato, com suas quase 10 horas de duração, Shoah se diferencia de outros documentários que exploraram o mesmo tema contando somente com os depoimentos de sobreviventes em 14 países, testemunhas e também perpetradores, ou seja, aqueles que cometeram atrocidades com milhares de judeus nos campos de concentração nazistas.
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Além da justa e necessária homenagem ao aniversário da obra, a exibição de Shoah serve também como um grande atrativo para o lançamento de um novo filme que agora se debruça sobre a vida de Claude Lanzmann. All I Had Was Nothingness (Tudo o que eu tinha era o nada) é dirigido por Guillaume Ribot, que teve acesso a todo o material original captado por Lanzmann 40 anos atrás. E é claro que Ribot incluiu em seu filme um momento arrepiante que Lanzmann, estranhamente, deixou fora de Shoah: uma sequência na qual vizinhos de um suposto criminoso de guerra desafiam o cineasta e sugerem que não têm interesse em saber o que seu vizinho fez durante a guerra.
Seguindo a mesma estética narrativa de Claude Lanzmann, com All I Had Was Nothingness o cineasta Guillaume Ribot utiliza apenas as palavras — aqui, no caso, as de Lanzmann retiradas de suas memórias e trechos inéditos de seu material de filmagem. O objetivo de Ribot era somente homenagear uma das obras-primas do cinema, e “a busca incansável de Lanzmann de contar o não contado”. Em 2023, Shoah foi adicionado ao Registro da Memória do Mundo da UNESCO.
Lanzmann, que estaria completando 100 anos em 2025, morreu em 5 de julho de 2018, aos 92 anos. Apaixonado por cinema e em contar histórias, ele trabalhou até praticamente seus últimos dias de vida. Meses antes de morrer ele lançou seu último documentário, Napalm, sobre uma visita que fez à Coreia do Norte que inesperadamente levou a um caso de amor apaixonado com uma enfermeira.
Confira abaixo o trailer de All I Had Was Nothingness, de Guillaume Ribot.
Fundamentalmente necessário nesse momento de cegueira ideológica e anti-semita que permeia o planeta.