De uma casa à beira da praia em Portlligat, Espanha, Salvador Dalí (1904-1989) revelou muito de si. A paisagem que ele via da janela era um quadro em permanente mutação. Barquinhos deslizavam na maciez do Mediterrâneo, cercado de algumas elevações rochosas e dos raios de sol que coloriam o cenário como pincéis.
Boa parte do acervo deste artista notável, um dos maiores da história, foi criada em um ateliê naquele local. Ao lado de outras feitas por ele na infância e já na fase final, podem ser vistas, por meio de reproduções, na exposição interariva Desafio Salvador Dalí, na FAAP, em São Paulo, até o próximo dia 1 de setembro.
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Ainda menino, o pintor espanhol mergulhou em seu ofício, como se buscasse uma identidade especial, para diferenciá-lo do irmão, que morreu antes dele nascer e também se chamava Salvador.
Desde então, ele foi se aperfeiçoando em grandes academias de arte. Numa delas, a de San Fernando, acabou expulso, em função de sua repulsa ao convencional e aos padrões. Experimentou diversos estilos, ao iniciar com o impressionismo e passar pelo fauvismo, pontilhismo, modernismo e cubismo, entre outros.
A exposição relata todas as fases do irreverente artista, que se consagrou como ícone do surrealismo, dividindo-as em décadas, desde a de 10 até a de 80. Cada uma conta com dois espaços para apresentação das reproduções das principais obras feitas por ele no período.
Os acontecimentos históricos se misturam ao universo interno do pintor, numa convergência que o transformava em uma verdadeira fábrica da imaginação. Foi ele o pintor que mais expôs em sua obra elementos de psicanálise e do inconsciente.
Na célebre obra A Persistência da Memória, daquela paisagem que o inspirou, ele inclui relógios derretidos, em árvores e outros elementos que remetem à passagem do tempo.
Seus quadros serviram como desabafos sobre o horror da bomba atômica, o encanto com a descoberta do DNA e as contradições da cultura norte-americana, com a qual conviveu nos tempos em que morou nos Estados Unidos, com o amor de sua vida, a sua mulher Gala, nascida na Rússia (1894-1982).
Exposição da intimidade
A beleza de seus trabalhos tem relação com a grandiosidade da alma humana. A sensibilidade dele ao trazer as imagens emerge de cada tela. Num dos quadros, ele soube com maestria dar a dimensão de uma paisagem desértica na qual o céu e a areia se confundiam.
Noutra, mostrou a ternura que sentia pelo pai, depois que este morreu. Em outra, já com mais de 50 anos, ele expôs como via seu irmão, por meio de um rosto formado por pontos equidistantes.
Amigo de Picasso e de tantas personalidades da época, seu estilo excêntrico o levou a ser uma celebridade pop, cultuada nas manchetes das principais revistas do mundo. E o possibilitou exercer também funções de cineasta, designer, ilustrador, cenógrafo, diretor de arte e personagem publicitário.
Na parte final da exposição, além da reprodução do ateliê em que Dalí trabalhou, há uma atração interativa, na qual o visitante, por meio de óculos de realidade virtual, vê os lugares que inspiraram Dalí para muitas de suas obras.
Há também trechos de filmes inspirados em seus trabalhos, como Quando fala o coração, de Alfred Hitchcock, reproduções a serem vistas com óculos 3D. Por fim, são apresentadas imagens dos locais onde se encontram muitas de suas obras: a casa em Figueiras, sua cidade natal, em que construiu um museu; o museu Reina Sofia, em Madrid, e o de São Petesburgo, nos Estados Unidos.
O termo “surreal” a tanto tempo ligado umbilicalmente a esse artista esplendoroso e de talento inimaginável é agora subvertido pela política tupiniquim do PT( com todo respeito aso tupiniquins) . Explico-me ( se é que é possível) : vejo as falas do presidente, suas atitudes mundo a fora , suas ambiguidades sem fim, seus devaneios de interpretações difusas e vejo nele , em sua figura e em seu governo um surrealismo impressionante, de que vive e acredita na realidade da distopia , do “o estado sou eu” , do “Vocês esqueceram o que fiz no verão passado” e vendo uma justiça que a ele somente pertence , que absolve bandidos reescrevendo a história, reescrevendo as leis que eles mesmos fizeram e tornando toda realidade uma inacreditável realidade onde nem o passado no Brasil é previsível. Surreal, desculpe Salvador Dalí, mas há outro salvador aqui roubando seu título.