Em sua primeira novela, Fernanda Torres atuou como Flora em Baila Comigo (1981). Tinha 16 anos e já se sentiu em casa. Na trama, seu pai, Fernando Torres, fazia o papel de Plínio, médico equilibrado e humanista, pai adotivo de um dos protagonistas, Quinzinho (Tony Ramos).
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A mãe dela, Fernanda Montenegro, fez a personagem Sílvia, ex-mulher, de Caio (Carlos Zara), que, num estereótipo daquele tempo, apenas vivia de mesada. Fernanda, no enredo, era filha de Rosa (Suely Franco) e do naturalista Álvaro (Jonas Mello). Uma reprodução da vida familiar se transferiu para o set.
Esse ambiente acolhedor, trabalhando ao lado dos pais, impulsionou uma carreira sólida. Baseada mais na evolução do que na ambição. Até que o reconhecimento chegou cedo, quando ela venceu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, por Eu Sei Que Vou Te Amar (1986).
Contudo, a ideia do estrelato não a seduzia. Hollywood, seu poder midiático e seu glamour pareciam distantes. Se fosse no futebol, poderíamos compará-la ao craque que nunca sonhou com a Europa, mas sim em fazer história em solo brasileiro.
Para ela, a glória era marcar a vida de muitos adolescentes no papel da inconstante Vani, no premiado seriado Os Normais. Enquanto isso, em 2002, Nicole Kidman conquistava o Oscar por As Horas (2002), solidificando sua posição como uma das maiores estrelas de sua geração.
Tilda Swinton firmava-se como uma força única no cinema, vencendo o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Michael Clayton (2007). Fernanda não estava nem aí.
Preferiu investir na performance teatral, no monólogo A Casa dos Budas Ditosos, entre 2003 e 2008, que lhe valeram um prêmio Qualidade Brasil e um Shell. Kate Winslet, em 2009, levou o Oscar por sua atuação em O Leitor. E Fernanda com isso? Preferiu continuar se divertindo, no papel de Fátima, na célebre série Entre Tapas e Beijos.
Ao longo da carreira, Fernanda manteve um olhar radical sobre a indústria cultural. Mostra-se contundente em relação ao que chama de superficialidade das redes sociais, ao apego à aparência e à produção em massa que, para ela, muitas vezes prioriza produtos fáceis em detrimento de obras artísticas significativas. Muitos a veem como arrogante.
“Donos de uma identidade cultural própria, somos mais do que meros apreciadores de enlatados”, escreveu ela em sua coluna na Folha de S. Paulo, em uma crítica ao mercado cinematográfico liderado pelos Blockbusters norte-americanos.
Até que um dia os caminhos se encontraram. Fernanda, a rebelde, libertária, percorreu o trajeto do salão luxuoso do Beverly Hilton Hotel, em Los Angeles, para receber o Globo de Ouro, um dos maiores símbolos da dramaturgia dos Estados Unidos.
Rendeu-se ao fato de que, apesar de o cinema norte-americano ser uma fábrica do que chama de enlatados (que muitas vezes divertem), pode ser também uma indústria de trabalho e de inspiração.
Parecia comprovar isso a cada passo que dava, com vestido preto de gala, no trajeto para a sua consagração. Sozinha, mas, de alguma maneira, acompanhada por suas contradições. E por todos aqueles que a ensinaram desde o início da carreira.
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“Transgressora”, desbocada, mais madura, o semblante dela, diante da Hollywood tradicional, era de encanto. Não ambicionou esse feito, ele veio de forma natural. Mas, ao lado de estrelas consagradas, Fernanda não escondeu a emoção. E homenageou sua mãe no discurso.
Imperialismo norte-americano? Para essa pergunta provocativa, a rebelde Fernanda Torres, novamente, não estava nem aí. O mais importante era desfrutar do reconhecimento mundial. Quando o assunto é arte dramática, ela aprendeu a se sentir em casa, onde quer que seja.
Tá sem assunto ? É melhor ficar calado.
Entenda a esquerda caviar. Parabéns Fernanda!
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Passa gelol no cotovelo que passa kkkkkkkkkkkk