O filme começa em uma noite de Natal. A Dama e o Vagabundo, animação produzida em 1955, reuniu, de forma inovadora, a tecnologia e a emoção. Pode ser vista na plataforma de streaming da Disney.
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Uma pequena cocker spaniel de pelagem dourada, suave e brilhante, com orelhas longas e caídas, surge, de dentro de uma caixa de presentes ao lado da árvore.
Mais do que a sofisticação pela qual ficou conhecida, chama a atenção a doçura do olhar da cachorrinha, Lady.
Todo o cenário, desde a pequena cidade sob neve, até o aconchegante lar de Jim Querido e da sua mulher Querida encantam pela sensibilidade com que foram construídos. Assim como todos os semblantes, olhares e movimentos de Lady.
Percebe-se algo que hoje a Inteligência Artificial carrega, mas que já estava presente naquela época. A precisão da tecnologia para exaltar uma mensagem construtiva nestes filmes de animação.
O filme foi o primeiro a utilizar o formato widescreen CinemaScope, que proporcionava uma experiência visual mais imersiva. Para capturar movimentos realistas, o animador Wolfgang Reitherman estudou o comportamento dos cães e de outros animais, garantindo maior autenticidade nos movimentos dos personagens.
A trilha encanta, desde a introdução, com a tocante Bella Notte, que também acompanha o famoso jantar romântico dos dois protagonistas.
Lady, com o tempo, se acostuma com aquele universo de afeição e cuidado de seu lar. Acompanha a rotina da casa, interage com os bons amigos, Joca e Fiel, e tem o controle de todos os movimentos, no jardim, na vizinhança. Até que a Querida engravida e ela se sente enciumada.
Então, é obrigada a enfrentar uma nova realidade. Gatos siameses, símbolos do cinismo e da intriga, chegam, trazidos pela tia, insensível, que foi para lá cuidar da casa na ausência dos donos.
Fim das certezas
Lady perde a certeza de que é o centro do universo, sofre um duro golpe no qual se depara com sua condição frágil e dependente.
Mergulha em uma aventura que envolve fuga, prisão e o encontro com o Vagabundo, um vira-lata de aparência mais rústica e desleixada, com pelagem de tonalidade marrom e cinza. Acostumado a viver na rua, ele aprendeu a sobreviver com agilidade e resistência.
Ambos se apaixonam pelas diferenças e se completam. Lady, inebriada com a liberdade, vai transformando sua fragilidade em segurança diante do desconhecido.
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Vagabundo lhe apresenta os becos da cidade. No restaurante onde recebe algumas sobras, se aproximam naquele famoso jantar. A cena ficou eternizada, quando ambos dividem um fio de espaguete que vai unindo seus lábios.
Ao mesmo tempo que o filme exalta a liberdade, valoriza a família. A irreverência, por si só é incompleta. Torna-se mais consistente com a educação. Somente a sofisticação é sem graça, sem a presença da simplicidade.
O filme homenageia o universo canino ao colocar, na introdução, os seguintes dizeres, de Josh Billings.
“Na história do mundo há somente uma coisa que o dinheiro não compra, o abanar do rabo de um cachorro. Pois é a todos os cães, damas ou vagabundos, que dedicamos este filme.”
Belas palavras. É mais fácil mesmo utilizar a imagem dos cães para apresentar sentimentos, desejos e dilemas tão humanos.