A cantora e atriz Jennifer Lopez foi uma das artistas mais prestigiadas neste último final de semana, durante o Festival de Cinema de Sundance. JLo, como é conhecida do público, chorou ao ser aplaudida de pé depois da exibição de O Beijo da Mulher-Aranha no Eccles Theatre, em Park City, Estados Unidos. Ao se dirigir ao público, ela comentou que estrelar essa adaptação musical foi a realização de um sonho de uma vida inteira. “A razão pela qual eu queria estar nesse negócio é porque minha mãe me colocava na frente da TV para ver West Side Story, de 1961″, contou a atriz. “É isso que eu queria fazer. Esta é a primeira vez que realmente consegui fazer isso. Este homem tornou meu sonho realidade”.
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O homem em questão é o diretor Bill Condon, cineasta especialista em musicais para cinema, que tem no currículo obras premiadas como Chicago, Dreamgirls e o remake de A Bela e a Fera, da Disney, feito com atores. Condon também comemorou sua volta à Sundance, festival no qual ele não participava desde que dirigiu Deuses e Monstros, estrelado por Ian McKellen e Brendan Fraser, em 1998. É bem verdade que Condon poderia adaptar um milhão de outros livros ou, até mesmo como sugeriu o roteirista Paul Schrader, usar o ChatGPT para ajudar a ter ideias originais para um filme. Mas não, Bill Condon escolheu um livro do argentino Manuel Puig escrito em 1976 e que anteriormente já havia sido adaptado pera o cinema em 1985 por Héctor Babenco, argentino naturalizado brasileiro. A versão de Babenco tinha no elenco Raúl Juliá e Sônia Braga (papel agora de Jennifer Lopez), além de William Hurt, que ganhou o Oscar de melhor ator.
Roteiro suaviza personagem de guerrilheiro e coloca ator negro no lugar de um branco
Durante uma conversa com o público depois da exibição de O Beijo da Mulher-Aranha, Bill Condon revelou que começou a “pensar nessa história muitos anos atrás”. “É um filme que eu queria fazer a minha vida inteira”. Mas a versão de Condon é bem diferente da realizada por Hector Babendo, que é diferente do livro original escrito por Puig. A primeira grande novidade é que Condon, dada sua experiência no gênero, transformou a narrativa num musical — única alternativa possível para escalar Jennifer Lopez no elenco. Os personagens principais, Luis Molina e Valentin Arregui, continuam sendo dois homens encarcerados numa prisão. Valentin Arregui (interpretado por Diego Luna) diz que é um preso político, mas sabe-se que originalmente tratava-se de um violento membro de grupo guerrilheiro armado.
Já Luis Molina (um tal de Tonatiuh) apresenta-se como o decorador de vitrines queer que conta ao companheiro de cela que está cumprindo pena por fazer sexo com um homem. Qualquer pessoa que tenha lido somente a contracapa do livro de Manuel Puig sabe que o personagem foi preso por abuso sexual de menores. Mas o diretor Bil Condon não parece muito interessado nesses detalhes, tampouco no fato de que o personagem era um homem branco, já que o tal Tonatiuh escolhido agora por ele é um ator negro. “Crescendo como um garoto latino, feminino e queer (que quer dizer gay), lutei com unhas e dentes para colocar isso na cara das pessoas”, disse ele. No filme de Babenco, quem fazia o mesmo papel era o espetacular ator porto-riquenho Raúl Juliá, que morreu em 1994.
A nova versão de O Beijo da Mulher-Aranha chegou ao Sundance Festival sem distribuição garantida. Portanto, pelo menos até o momento, não há nenhuma previsão de que o filme chegue aos cinemas.