A dissonância na relação entre pai e filho marca o tom do filme Maestro (s). O enredo traz o conflito entre o apogeu e declínio dos protagonistas, sob direção de Bruno Chiche. Na história, generosidade e rancor interagem. E contrapõem aquele que chegou ao auge com a culpa e o medo de superar quem o gerou. E o inspirou.
Leia mais: “O jazz que se recusa a envelhecer”
O maestro Denis Dumar (Yvan Attal), na primeira cena, é premiado com o Victoires de la Musique Classique, evento anual de música clássica francesa. Quando não vê o pai na plateia, faz uma ironia em seu discurso.
Mas, no íntimo, tem de lidar com a mágoa, a admiração e a competição em relação a François (Pierre Arditi), consagrado regente que resiste em celebrar a glória do filho. O filme revela sentimentos mais profundos, por trás de olhares, falas e melodias.
“Me tornei músico para me aproximar dele”, diz o filho, já no meio do filme.
Até que um telefonema, durante um ensaio, pega desprevenido o arrogante François. E atiça, com a possibilidade de reger a orquestra do Scala, de Milão, a corrida pela glória máxima, mesmo que essa machuque a autoestima do filho. Altivo e competitivo, ele parece não se importar com isso.
Leia mais: “A lição de Anatomia de Rembrandt”
Quando Denis descobre que houve uma confusão e, na verdade, o convite é para ele, o sonho de ir para Milão, ao contrário do pai, dá lugar ao remorso. A trama, então, busca elucidar o conflito, trazer à tona o drama existencial de ambos.
Vencedor de festival
Denis tem nos uísques caros e na compreensão do solitário filho, Mathieu (Nils Othenin Girard), que não quer ser músico, seus grandes suportes.
+ Leia mais notícias de Cultura em Oeste
O pai e o filho maestros também depositam carências em seus relacionamentos amorosos. Enquanto François tem na esposa Hélène (Miou-Miou) uma fiel companheira, os alicerces de Denis são a namorada Virgínie (Caroline Anglade), primeira violinista da orquestra, e Jeanne (Pascale Arbillot), ex-esposa, que se manteve próxima como sua agente.
O filme foi o vencedor no Festival Variloux, de 2023, não só pela temática, mas pelas cenas de reflexão nas ruas de Paris. Pela sofisticação dos cenários e pela trilha musical. A cantora Julie-Anne Moutongo-Black e a violinista Anne Gravoin trazem encanto às composições Laudate Dominum, de Mozart, e Serénade, de Schubert, belas expressões dos dilemas dos personagens.