Há 180 anos o mundo conhecia O Corvo (The Raven), poema escrito por Edgar Allan Poe que ganharia status de clássico da literatura gótica. O texto original de Poe foi publicado pela primeira vez em 29 de janeiro de 1845, nas páginas do jornal New York Evening Mirror. A obra foi um marco na carreira do autor, que, naquele momento, atravessava um momento de crise — sobretudo financeira —, mesmo depois de tantos outros livros, contos e poemas já publicados desde os anos de 1830. No entanto, com sua narrativa de suspense que explorava o mistério e o macabro, O Corvo rapidamente conquistou o público. Ainda que o texto contenha os principais elementos do terror e do sobrenatural, Edgar Allan Poe faz parte do movimento romântico, e O Corvo não esconde sua verdadeira proposta.
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O poema é apresentado por um narrador angustiado que experimenta o luto pela morte da amada, Lenore. Dias e noites intermináveis só aumentam o desespero daquele homem, quase à beira da loucura, quando um corvo bate à sua porta. “Nevermore” (ou “Nunca mais”, numa tradução literal) é a enigmática e melancólica palavra repetida pelo corvo e que vai pontuar o simbolismo de todos os sentimentos do narrador.
O Corvo, por Machado de Assis e Fernando Pessoa
Um dos escritores mais celebrados da literatura norte-americana, Edgar Allan Poe influenciou grandes autores pelo mundo. O Corvo, em especial, foi objeto de estudo e apreciação, ganhando inúmeras traduções inclusive no Brasil. Machado de Assis e Fernando Pessoa são apenas dois (dos maiores) que se debruçaram na obra. A tradução feita pelo brasileiro Machado de Assis foi publicada em 1883, na Gazeta de Notícias; já o português Fernando Pessoa traduziu O Corvo em 1924.
Ao longo de quase dois séculos, no entanto, O Corvo tem repetidamente influenciado a cultura pop como um todo, servindo de inspiração para a literatura, a música e o cinema. H.P. Lovecraft, Stephen King e Neil Gaiman são alguns exemplos de autores que jamais esconderam sua reverência não apenas à literatura de horror gótica de Edgar Allan Poe, mas sobretudo à construção de atmosferas sombrias encontradas em O Corvo.
A música e o cinema se renderam a Edgar Allan Poe
Também na música, seja o pop, o rock progressivo e até o metal, prestaram homenagem ao icônico poema de Poe. The Raven é o nome do álbum produzido pelo cantor e compositor Lou Reed, lançado em 2003. A banda britânica The Alan Parsons Project, grupo de rock progressivo formado no final dos anos de 1970 por Alan Parsons e Eric Woolfson, ficou famosa com Tales of Mystery and Imagination (1976), álbum que traz faixas inspiradas em diversas obras de Poe, incluindo O Corvo. E o Iron Maiden, banda inglesa de heavy metal criada pelo baixista e compositor Steve Harris, em 1975, igualmente se inspirou no autor de O Corvo para compor suas letras com elementos sombrios, incorporando essas referências até mesmo na cenografia dos shows.
Mas foi o cinema o grande responsável por dar vida — literalmente — ao universo de terror angustiante de Poe. Em 1935, Boris Karloff e Béla Lugosi, dois dos atores considerados maiores ícones do gênero, estrelaram o filme O Corvo. Mais tarde, em 1994, Brandon Lee estrelou O Corvo, adaptação para o cinema de uma HQ homônima criada por James O’Barr que, por sua vez, utiliza o poema de Edgar Allan Poe como inspiração para sua atmosfera sombria e sua narrativa de vingança. Brandon, filho do ator e mestre das artes marciais Bruce Lee, tornou-se um importante personagem não somente da obra cinematográfica, mas também de uma história de final trágico.
No dia 31 de março de 1993, Brandon Lee, aos 28 anos de idade, estava no set em Wilmington, Carolina do Norte, para fazer O Corvo. A poucos dias do final dos trabalhos, durante as filmagens de uma sequência de ação, deixaram que uma arma carregada fosse utilizada. Brandon foi baleado no estômago e morreu 12 horas depois do acidente. Até hoje o caso não foi devidamente explicado. Mas, levando-se em conta todo o imaginário de mistério surreal da obra de Poe, é fato que as mais diversas teorias (conspiratórias, até) foram cogitadas. Para o bem ou para o mal, é justamente essa atmosfera que faz de Edgar Allan Poe e sua obra tão importante e ainda influente.