O rosto arredondado e o olhar inocente até poderiam ser a marca de Gene Hackman. Isso se ele fosse alguém comum no dia a dia: um comerciante, um funcionário público, um médico sem muitas ambições. Mas não era.
Os olhos e a feição, ainda que mantivessem a aparência física, mudavam de tal maneira que o faziam parecer outra pessoa. Mil pessoas, conforme o seu desejo. Interpretar para ele era expor ao público todas essas diferenças.
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Eugene Allen Hackman nasceu em 30 de janeiro de 1930, em San Bernardino, Califórnia. Antes de começar a atuar, serviu na Força Aérea dos Estados Unidos e estudou na Universidade de Indiana. Seu interesse pela atuação surgiu mais tarde, e ele se formou na School of Drama da Universidade de Califórnia em Pasadena.
Em Hollywood, o início foi nos anos 60, no rastro de estrelas como Jack Lemon, James Stewart, Kirk Douglas e Marlon Brando. Pode-se dizer que ele tinha um pouco de cada um. O primeiro sucesso veio em 1967, quando ele foi o irmão mais velho de Clyde, no filme Bonnie and Clyde, dirigido por Arthur Penn.
Em Operação França (1971), como o detetive implacável Jimmy “Popeye” Doyle, Gene já conquistou o Oscar. A complexidade por trás de suas feições ficaram nítidas em A Conversação (1974), quando ele interpretou Harry Caul, um especialista em vigilância atormentado por dilemas éticos.
Em Superman (1978), foi o vilão Lex Luthor, criando um personagem carismático e irreverente. Em Os Imperdoáveis (1992), outro papel de profundidade. Foi o cruel xerife Little Bill Daggett, o que lhe valeu novo Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Fez outro papel marcante em Mississipi em Camas (1988), quando interpretou o agente Rupert Anderson, na investigação do desaparecimento de três ativistas dos direitos civis.
O sentido para Gene Hackman
Gene tinha 13 anos de idade quando foi abandonado pelo pai, enquanto brincava na rua. Só se lembra do último aceno. “Eu não havia percebido o quanto um pequeno gesto pode significar”, disse certa vez. A mãe, abalada, morreu 19 anos, depois de ter bebido e colocado fogo no colchão.
Por cinco anos, Gene havia sido fuzileiro, porque buscava um sentido na vida. Logo percebeu que seu gigantismo não estava nos atos heroicos espalhafatosos. Mas sim nos detalhes, capazes de desvendar os dilemas mais profundos. Inclusive os seus.
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Depois de encontrar a glória, morreu de forma estranha. Em um enredo que a polícia ainda tenta descobrir. Ironicamente, soube-se poucos dias antes da cerimônia do Oscar. Gene não era o tipo de ator cuja presença impusesse uma ideia clara de bom ou mau. Entendeu bem o que significava um pequeno gesto. A sutileza, assim, foi a marca de sua existência. Até quando ele partiu. De forma triste, mas cinematográfica.