A série O Problema dos 3 Corpos (Netflix) foi criada por David Benioff e D B Weiss, os mesmos que colocaram Game of Thrones no ar. E Benioff e Weiss (com a parceria de Alexander Woo) parecem estar cometendo os mesmos erros da série anterior.
O Problema dos 3 Corpos, baseado em um romance chinês, começou muito bem. E atingiu seu auge no episódio cinco, com cenas de cair o queixo. Especialmente o que acontece com aquele navio cruzando o canal do Panamá.
Mas os últimos três episódios dessa primeira temporada lembraram os problemas que deixaram os fãs de Game of Thrones frustrados. Benioff e Weiss (com Woo) continuam nos surpreendendo matando personagens importantes. E permanecem alternando episódios de alta intensidade com outros em que nada parece acontecer.
Sem querer dar spoiler da série, alienígenas ameaçam a Terra. E os jovens cientistas que formam o núcleo central da série passam a maior parte do tempo na dúvida se devem ou não fazer algo a respeito. São típicos representantes das gerações flocos de neve.
O único personagem decidido é Thomas Wade (Liam Cunnigham), o líder operacional da resistência terrestre. Por não ter dúvidas sobre o que deve ser feito, ele é xingado com o inevitável “fascista” pela personagem esquerdista Auggie.
A primeira temporada termina de uma forma tão descompromissada, tão sem continuidade, que Wade diz a frase “temos muito trabalho a fazer” antes de sair de cena. Parece estar dando um recado para os produtores.
Por que resolvi ler o livro: De repente, a internet foi tomada por vídeos que comentam a série “O Problema dos Três Corpos”, da trilogia de autoria de Liu Cixin. Os comentários concentram-se na física, matemática, tecnologia, na equação de Newton, no paradoxo de Fermi e nos trissolarianos, em detrimento da discussão sobre política da China, questões de justiça, igualdade, direitos humanos e dilemas existenciais. Outro ponto, que não passa despercebido, é a abordagem da Netflix e sua apologia à cultura woke.
Obviamente, uma das forças do filme é a exploração de conceitos científicos complexos, como física quântica e teoria dos jogos; a qualidade dos efeitos visuais e a produção geral do filme são aspectos importantes a serem considerados. A cena do navio sendo cortado é fantástica.
No entanto, a parte filosófica e social foi pouco debatida nas redes, embora levante questões profundas sobre o papel da humanidade no universo.
Pontos que destaco e que me deixaram desconfortável, por sua relação com a cultura woke, incluem: 1. Os personagens não criam vínculos afetivos, e o racional se sobrepõe; 2. Há uma maior mortalidade entre os homens; 3. Supremacia da figura feminina (feminismo nítido); 4. Proibição da liberdade de expressão, em um país teoricamente livre; 5. Personagem negro, mesmo sendo inteligente e cientista, é retratado com um perfil hedonista, viciado em drogas e existencialista; 6. Crítica ao capitalismo e ao empreendedorismo.
A ausência de vínculos emocionais fortes entre os personagens pode ser uma escolha narrativa deliberada ou apenas o reflexo da política da Nova Ordem Mundial. A maior mortalidade dos homens não se deve ao fato de estarem em batalha, mas simplesmente porque não se encaixam nos planos do conquistador do mundo. O mais interessante é que a personagem chave da trama, oriunda de um país totalitário, viu seu pai ser morto por defender sua liberdade de expressão e foi traída várias vezes. Conhece a importância da liberdade de expressão, mas, ao retornar para um país livre, o define como caótico e busca outro país para que ele se apodere e resolva a situação. Assim, repete o erro, transferindo o problema para o Estado. E o pior, quem discorda de suas ideias é assassinado. Tudo isso pode levantar questões sobre a responsabilidade pessoal e a capacidade das pessoas de resolverem seus próprios problemas sem dependerem exclusivamente de intervenções externas.
As mulheres estão na frente, em cenas de total arrogância, poderosas, desconectadas de sua parte biológica (psiconeuroendócrina). O próprio “senhor” é uma mulher. Poder centralizado. Há uma distopia, com a destruição do conceito de família. A presença de egoísmo e vingança entre os personagens pode ser interpretada como uma crítica aos aspectos mais sombrios da natureza humana. Ficou claro para mim que a série levanta questões sobre os limites da liberdade individual e os dilemas éticos envolvidos na busca de objetivos pessoais em detrimento dos direitos e liberdades dos outros.
A série, não tem uma continuidade, uma direção, e os personagens que a principio pareciam importantes são eliminados. O vínculo não existe na trama e não existe fora dela, ou seja, com o espectador. Enfim, como é comum em adaptações de livros para o cinema, algumas partes da história podem ter sido simplificadas, distorcidas ou omitidas para se adequarem ao formato de filme e às exigências da Woke S.A.