Quando um filme anuncia que é “baseado em fatos reais”, não acredite em tudo o que você vê. A Última Sessão de Freud (2023, no Max) se baseia numa peça de teatro (de Mark St Germain) que por sua vez se baseou num livro (“The Question of God”, de Armand Nicholi) que especula sobre um encontro que ninguém sabe se aconteceu.
Mas isso não importa. A Última Sessão mostra Sigmund Freud (Anthony Hopkins) em suas últimas semanas de vida em Londres. O fundador da psicanáliste teve que fugir Áustria por causa da perseguição nazista aos judeus. Sofre com a saudade de Viena e com um terrível câncer na mandíbula em seus estágios finais. Sobrevive à base de doses cada vez maiores de morfina misturada com uísque.
No dia em que teve início a Segunda Guerra (1 de setembro de 1939), Freud recebe a visita de um escritor que ninguém sabe exatamente quem era. Os autores do livro/peça/filme exploram a possibilidade desse escritor ter sido C S Lewis (1898 – 1963). Lewis (interpretado por Matthew Goode) ficou famoso como autor de livros de fantasia como Crônicas de Nárnia. Ele era amigo e colega de J R R Tolkien, o criador da saga O Senhor dos Anéis.
O filme explora as posições conflitantes entre Lewis e Freud. Lewis havia se tornado um estudioso da Bíblia e um católico devoto. Freud em seus últimos dias estava ranzinza e odiando o conceito de um Deus que, na mente dele, seria responsável pela sua trágica situação.
Entre os longos diálogos, vemos flash backs das vidas dos dois. Um terceiro elemento na história é Anna Freud (Liv Lisa Fries), filha de Sigmund. Anna foi uma profissional de destaque, e praticamente inventou a psicologia infantil. Mas como poderia se sobressair sob a gigantesca sombra de seu pai? O filme mostra também que Sigmund a tratava como uma escrava emocional. O final – aí sim, baseado em fatos reais – está cheio de significados ironicamente freudianos.
A Última Sessão de Freud é o típico “filme cabeça” enriquecido por excelentes atores e um roteiro que mantém o interesse até o fim