Nos anos 1970, quando crianças e adolescentes sentiam-se solitários, à espera de um abraço que não vinha, iam para o quarto. Lá, no silêncio, observando o brilho da noite pela janela, ligavam a vitrola e ouviam a voz de Roberta Flack.
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A música que os embalava era Killing Me Softly. Já nos primeiros versos, conduzidos por aquele canto macio e suave, podia-se perceber que os anos 1970 estavam encontrando uma maneira de revelar os sentimentos humanos de forma pura e verdadeira.
E assim, como Roberta, uma das mais célebres cantoras negras, ao lado de nomes como Aretha Franklin, Etta James, Billy Holiday, Tina Turner e Diana Ross, veio uma leva de canções reflexivas como Wuthering Heights (Kate Bush), Hopelessly Devoted to You (Olivia Newton-John) e Self Pity (Margriet Eshuijs).
Puro e verdadeiro, que fique claro, não era apenas na transformação romântica pela qual o soul e o R&B estavam passando, nesta nova vertente. Alternativas mais pesadas, como o rock do Van Halen e outras mais experimentais, como o folk de Simon & Garfunkel, estavam em alta. Cada uma com sua própria forma de capturar a alma humana.
Aquela época se assemelhava mesmo à vista de uma janela. As nuvens atravessando o céu escuro eram como o tempo em direção a novos momentos. E aqueles jovens “abraçados” pela voz de Roberta, eram aqueles desbravadores da atual era tecnológica. Ou pelo menos os pais deles.
Killyng me Solfty serviu como um condutor de emoções. Depois da efervescência de Woodstock, o mundo passou a buscar a paz e o amor também pelos duetos românticos.
A combinação entre as vozes femininas e masculinas chegou a um de seus mais altos graus de beleza. Remeteu aos anos 1930, com Jeanette MacDonald e Nelson Eddy, e aos 1950, com Earl Wrightson e Lois Hunt.
Neste estilo, a norte-americana Roberta Flack foi uma das protagonistas em duas músicas marcantes. The Closer I Get to You, com Donny Hathaway, e Tonight I Celebrate My Love, com Peabo Bryson. Completa o trio de clássicos deste gênero Up Where We Belong, com Joe Cocker e Jennifer Warnes.
Roberta remasterizada
Neste dia 24 de fevereiro, Roberta Flack se foi, aos 88 anos, em Manhattan. Deixou este legado de lembranças e emoções. Claro que, nem por isso, ele vai se desfazer.
Os tempos mudaram. Mas mesmo aqueles adolescentes, hoje com cabelos brancos, ainda podem refugiar-se em um abraço que não seja pelas redes sociais ou em uma conversa monossilábica no WhatsApp.
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Há vários recursos, além da vitrola, que reproduzem aquelas músicas, com a voz de Roberta límpida, remasterizada, eternizando as sensações de plenitude. Como se ela sussurrasse a continuidade daqueles sonhos. Para isso, como sempre, basta apenas abrir a janela.